Mais uma moeda, mais uma volta. O segundo dia do Talkfest voltou a ser recheado de grandes debates, desta vez sobre a presença activa das marcas nos festivais de verão e sobre a análise dos headliners no futuro dos certames musicais.
Na primeira conferência, “As MARCAS ditam tendências nos seus (e outros) festivais?”, moderado pelo radialista Rui Santos e que contou com a presença de Ana Sofia Vinhas (directora adjunta de marca e comunicação da EDP), Francisco Viana (director central da comunicação e marca da Caixa Geral de Depósitos) e da docente e socióloga do ISEG, Maria João Santos, ditou-se a importância que as marcas e os patrocinadores têm para a sobrevivência dos festivais.
“Os músicos têm cada vez cachets mais altos, enquanto que os preços dos bilhetes em Portugal são os mais baixos na Europa. Isso só é possível graças à contribuição das marcas”, analisou Ana Sofia. A possibilidade das marcas poderem subsidiar a vinda destes artistas traz por consequência uma maior presença da marca no festival, seja através do naming ou outras formas de representação.
“A música continua ser uma das maiores fontes de partilhar emoções, de forma colectiva”, apontou a socióloga Maria João Santos. É com esta subjugação de música e emoções que as marcas jogam, procurando associar as marcas a momentos positivos, tornando-se assim love brands. O que no caso dos presentes é alcançado com a presença em festivais como o Caixa Alfama e EDP CoolJazz.
Mas atingir esta associação positiva é algo que é extremamente ponderado. Neste debate que suscitou um debate intenso depois com o público presente, as marcas devem ponderar com quem devem trabalhar, tendo em atenção o target e o budget disponível, algo que faz com que os festivais secundários sejam mais esquecidos.
Para rematar, a importância da sustentabilidade e da criação de festivais para o público e não para a promoção explícita da marca foram as conclusões retiradas desta conferência matinal.
Durante a tarde decorreu uma outra conferência, igualmente muito discutida. Desta vez, abordou-se a questão do futuro dos headliners, se estes existirão dentro de cinco anos ou não.
Com a presença de António Manuel Ribeiro (vocalista dos UHF), João Santos (produtor executivo do Meo Arena), Luís Pardelha (director Produtores Associados/Às vezes o Amor), Mário Lopes (jornalista do Público) e Tiago Veiga (director do SWR Barroselas Metal Fest), a moderação ficou a cargo da jornalista da SIC, Cristiana Reis.
Apontando desde já a conclusão, a existência de headliners não está em causa, porque continuarão a existir, nem que seja pela existência de diferentes cachês, e pelo facto de haver a necessidade de bandas atraírem mais público que outros. O que surge, e já acontece com alguns festivais da actualidade, é a existência de co-headliners, que permite uma homogeneização do cartaz.
“Actualmente, temos de trazer bandas semelhantes em termos de notoriedade para serem co-headliners, até por causa das razões económicas”, disse Tiago Veiga. Também outra coisa que mudou foi a existência de palcos secundários, que são trampolins para as bandas. “Quem está nestes palcos, num curto espaço de tempo, poderá estar no palco principal, como o caso do Sam Smith”, palavras de Mário Lopes.
Sempre com o debate condicionado pela premissa que “tudo isto é um negócio”, também foi alvo de discussão a vasta quantidade de festivais existente um curto raio de quilómetros, que traz a consequência de existir vários no mesmo fim-de-semana. Mas para Luís Pardelha, a palavra festival banalizou-se. “Qualquer um acha que sabe fazer festivais, mas depois, sem ponderação, acabam por ser festivais fugazes, que duram pouco tempo e que desaparecem no ano seguinte.
Também quem foi alvo de atenção foram as bandas portuguesas. Se na opinião de António Manuel Ribeiro, as bandas portuguesas continuam a ser maltratadas nos festivais, “tocando por sandes”, também foi debatido o facto de o rock português ter várias bandas com capacidade para serem headliners dos principais festivais. Uma mudança bastante visível, principalmente nos últimos 10 anos.
Um debate muito polémico que serviu para dar continuidade a um Talkfest que termina esta sexta com a entrega de prémios por parte a APORFEST à entidade e personalidade do ano. Os nomeados finalistas são: Blitz, Rock in Rio e NOS, na categoria de entidade do ano e Capicua, Fred Pinto Ferreira e Carlos Seixas na área de personalidade do ano. Também decorre o concerto de encerramento que contará com Thunder & Co., NBC e D’Alva, no MusicBox, a partir das 22h.
Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Rita Justino
Evento – Talkfest’15