Backstage

Carlão, o tal

Carlos Nobre. Pacman. Carlão. São vários os nomes pelos quais conhecemos o rosto principal dos Da Weasel, que também dá a voz aos 5-30 ou até à extinta banda Os Dias de Raiva. Agora aventurou-se num álbum a solo, Quarenta. Uma celebração de hip-hop e não só. Agora que está prestes a mostrar o seu trabalho de norte a sul, que começa dia 23 de abril no Lux, o Música em DX aproveitou a ocasião para conversar com um dos principal rostos da música nacional.

Música em DX (MDX) – Como surgiu esta oportunidade de fazer o álbum a solo?
Carlos Nobre (CN) – Na verdade não tinha nada planeado. Depois do disco do 5-30, tive sempre na cabeça fazer mais música, e também apareceu vontade de fazer mais coisas nesta área, que já não fazia há algum tempo. Deu-me pica para fazer este disco. Foi uma coisa automática. Mas não era que tivesse pensado há muito tempo.

MDX – E tu misturas outras coisas sem ser o hip-hop. Recorres a influências de outros géneros.
CN – Sim, claro. Isso era o apanágio dos Da Weasel, que é a banda que, para todos os efeitos, me conhecem melhor. E onde tive a maior parte do tempo enquanto músico. Já nos Da Weasel pegávamos no hip-hop e fazíamos uma mestiçagem com géneros diferentes. A nossa escola musical é um bocado essa. Não há hip-hop puro e duro.

MDX – E é isso que procuras dar a conhecer com o teu novo álbum?
CN – Sim. Não sei se procuro ou se precisam de procurar. É o que é. [risos] Digamos que se tivermos quatro temas de hip-hop duro num disco, para mim, já chega. E tenho de fazer outras coisas. Aqueles temas que podes pensar que são de hip-hop puro e duro não são.

MDX – Pegando no título, Quarenta. Há quem diga que “os quarenta são os novos vinte”. Sentes o mesmo?
CN – Não, isso é um pouco exagerado. [risos] Eu costumo dizer “como se fossem os novos vinte”. Se calhar são os novos trinta. E podem ser até. Da minha experiência pessoal e da minha geração, aquilo que vejo é que os nossos pais, por uma razão ou outra, chegando aos quarenta tinham a vida mais ou menos resolvida. Não havia grande novidade daí para a frente.

Acho que a minha geração está a conseguir viver e ver as coisas de outra forma. Já não se separa tanto a posição do pai e do filho. Vivem mais em conjunto, há outra disponibilidade. Portanto, aí se pode dizer que os quarenta podem ser os novos trinta. Quando digo que é como se fossem vinte, as minhas dúvidas e vontades mantém-se. O meu corpo é que se calhar já não dá. [risos]

MDX – Tu trabalhaste neste álbum com muita gente conhecida. Até que ponto pode ser bom trabalhar com pessoas que te conhecem?
CN – É bom porque… Estamos sempre a aprender, não é? E tu trabalhas com pessoas que admiras. E por uma razão ou outras tu nunca trabalhaste. O New Max. Trabalhei com ele num disco a solo que ele lançou há uns anos, mas que tinha trabalhado num projecto meu. O Dino D’Santiago que já conheço há bastantes anos, que também já tinha trabalhado num projecto dele mas não num projecto meu… E sei lá, a Sara [Tavares]. Já a conheço há imensos anos, mas a nossa relação, por assim dizer, de amizade, começou há relativamente pouco tempo e foi uma agradável surpresa esta sintonia.

Quando estou a trabalhar com as pessoas, regra geral é pelo valor que lhes reconheço e que de alguma forma contribuam para que a música evolua e conheço algumas pessoas com trabalhos muito interessantes e muito válidos. E depois há o outro lado que é de produção musical. Apresentar e arriscar, no sentido de colaborar com pessoas que não conheço assim tão bem. Conheço o trabalho deles e estão a fazer coisas frescas e interessantes. Uma pessoa deve procurar novos caminhos e inventar-se as coisas de diferentes formas. Seja de produção musical ou de vozes.

MDX – No álbum, que dá para fazer várias divisões, nota-se um lado mais pessoal e outro mais de intervenção e reflexão social. Consideras então, que a música de intervenção, conhecidos e interpretados por Zeca Afonso e José Mário Branco perdeu-se, mas foi ganho noutros géneros como o hip-hop?
CN – Sim, é verdade. Na altura em que surgiu a música de intervenção, a música era mais premente. É tudo preto e branco, não se via o cinzento. As pessoas tinham uma consciente política muito forte, que começava nas escolas secundárias e se estendia para as faculdades. Por culpa do sistema político que tivemos a viver durante quase o século todo passado. E as pessoas, não era uma questão de escolha, tinham mesmo de pensar e no contexto social era tudo muito forte e importante.

Diluiu-se no pós-25 de Abril e na década seguinte, esse espírito de intervenção e em tudo no geral. E quem acaba por recuperar um pouco esses assuntos, acaba por ser a rapaziada do hip-hop. Porque é esta rapaziada, deste tecido social, que é mais afectada e tem mais vontade de falar das coisas que não estão bem.

Carlão “Os Tais”

Próximas datas para Carlão e o seu novo disco “Quarenta”:
– FNAC COLOMBO, LISBOA (showcase) – 28 de MARÇO às 22h30
– LUX, LISBOA (concerto de apresentação) – 23 de ABRIL às 23h00, entrada com CD da FNAC.
– ESTAÇÃO DE S. BENTO, PORTO (concerto) – 25 de ABRIL (Entrada Gratuita)

Mais informação em:
Facebook – https://www.facebook.com/pages/Carlão/322869091255650

Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Alexandre Farto (Vhils) | Gonçalo Santos