Foi na passada quinta-feira que o Paradise Garage nos quis prendar com uma mostra de que o punk não está morto.
Apesar da escassez de público, as bandas não se intimidaram e trouxeram-nos energia, força e satisfação.
À hora marcada, sobem ao palco os Caves, dois meninos e uma menina que, mal tocou com os lábios no microfone, deixou os presentes com um ar de incógnito contentamento.
“Rasgar” será a palavra certa para definir o concerto do princípio ao fim, acompanhado por saltos constantes por parte da vocalista que transpira punk por todos os poros.
Com faixas curtas e densas, normalmente tocadas sem interrupções, voz acelerada e revoltada, bateria com a potência e rapidez exigidas, seguindo as boas maneiras do punk, os Caves trouxeram meia hora de puro prazer auditivo, transportando-nos para uma garagem britânica qualquer com existência no final da década de 70.
[Fotos de Caves]
Abriu-se o palco ao simpático Roger Harvey que tinha a árdua tarefa de manter a fasquia claramente elevada pelos seus antecessores.
Com acordes básicos e melodias suaves, as notas foram entrando no ouvido do público que se deixou levar pela voz limpa e transparente de Roger. Ouviu-se um pop-rock tipicamente americano camuflado de surf-rock elaborado para camadas mais jovens. Os ânimos acalmaram, e o Senhor Harvey não conseguiu cumprir a tarefa.
[Fotos de Roger Harvey]
É tempo dos tão aguardados Against Me! que, como que usando uma força magnética, conseguiram colar o público ao palco de imediato.
Principiantes em palcos lusos, encheram o Garage de calor! Calor este resultante da simbiose mágica entre as duas guitarras, o baixo, a bateria e a voz de Laura. De imediato se notou a empatia e ligação que têm entre eles e com o público. Este, que entoava em coro as letras todas estava em êxtase e apaixonadamente eufórico e energético.
A maturidade musical é notória (nem se esperava outra coisa de uma banda que conta quase com 15 anos de existência), o alinhamento das guitarras com o baixo tem uma força única que, ao unir-se à bateria causa explosões musicais que aconchegam os ouvidos mais exigentes. De relevar, igualmente, a poderosa bateria que, por vezes, conseguia sufocar a voz de Laura, tarefa difícil uma vez que aquela voz é dotada de garra e sabedoria.
O ritmo punk – rock era contagiante, tornando-se impossível a não existência de headbanging, habitando, por vezes, o moche entre o público.
Para acalmar os ânimos, em duas faixas Laura fez acompanhar a sua voz duma guitarra acústica e o que parecia poder destoar no meio do punk – rock, suavizou as músicas com uma melodia country e tornou a atuação ainda mais surpreendente.
Após aproximadamente 1h10 de suor, energia e boa música, voltam para um encore com mais quatro músicas, terminando o concerto com o mesmo sorriso inicial nos lábios, distribuindo apertos de mão e palhetas pelos fãs.
Poderia afirmar que estava defronte de um bando de putos com as hormonas no topo que gostam de brincar com a música. Mas já não são miúdos e brincam com a música do modo mais adulto possível.
[Fotos de Against Me!]
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Prime Artists