Na passada quinta-feira, a sala do Paradise Garage vestiu-se de negro para abrir os braços a uma noite que prometia ser longa, quente e pesada.
Já com o chão do Garage com pouco espaço vazio, sobem ao palco os alemães Drone que servem um aperitivo bastante bem condimentado que preparou o público para o que vinha a seguir.
Com uma grande presença em palco, os Drone revelam uma ampla polivalência instrumental e vocal. Embora o estilo seja marcadamente thrash, o metal deles trouxe-nos um misto de melancolia com revolta, de apelo com suplício e de gritos com sussurros.
As guitarras despertavam o público com solos que se entrelaçavam com o baixo em linhas de melodia bastante bem construídas e gritantes numa comunhão perfeita entre o carisma e a agressividade.
Foi meia hora de puro êxtase, com direito a um teatro de palco apelativo e cheio de energia, com os membros sempre a trocarem de posições e a partilharem com o público um headbanging perfeitamente sincronizado.
Se os Drone abriram o apetite, os Unearth aguçaram-no deixando o público sedento e num verdadeiro caos. Mal pisaram o palco, a força e energia revelam-se no pedal da bateria que carrega coesão e poder.
Os norte-americanos sobem ao palco confiantes e cheios de sabedoria. Logo de início se vê uma dança de cabelos no ar entre o palco e o público e uma empatia e ligação que fez as vozes ecoar entre a plateia, acompanhando o vocalista que entre os berros característicos, por vezes, dificilmente se percebia. Tudo neles eram boas energias, desde o baterista que fazia malabarismos com as baquetas enquanto sorria e dava vida à bateria sem nunca se perder; ao vocalista que estava constantemente a esbracejar e a descer o palco para tocar no público e cantar junto a ele e ao guitarrista que posava alegremente para as máquinas e que me arrancou o bloco das mãos para o autografar. Criou-se assim o cenário perfeito para o moche, o crowdsurfing e a loucura, tendo o vocalista afirmado que havia lobos na casa.
O som que nos entrava pelos ouvidos tinha riffs de heavy e bateria e voz de metalcore, unindo estes dois estilos numa simbiose quase perfeita de desespero, melodia, melancolia, harmonia e simpatia.
A última música tocada, “The Great Dividers” leva os guitarristas ao cimo do balcão esquerdo do bar, para ai tocarem e deixarem o público ainda mais eufórico.
A empatia foi total das primeiras às últimas notas. A poesia instrumental e vocal foi declamada profundamente e entre suor, gritos e distorções, a banda levou o público pelos trilhos desejados.
Era a vez dos Arch Enemy desfrutarem do caminho tão bem direcionado pelos seus antecessores. A expetativa era grande e o receio imperava. Era a primeira vez que a sucessora de Angela Gossow, Alissa White-Gluz pisava palcos lusos.
Eram aproximadamente 22h30 quando sobem ao palco um a um os Arch Enemy para encherem de pura loucura uma casa quase esgotada. Iniciam a sua atuação com ânimos calmos, brindando-nos com uma faixa meramente instrumental e melódica mas logo deixariam a tranquilidade para trazerem aos fãs umas quantas malhas antigas de seguida que foram intercaladas com o álbum mais recente deles – “War Eternal”, lançado em Junho de 2014.
Com uma energia interminável, uma voz possante e corpulenta, capaz de fazer inveja a muitos vocalistas de death metal, a menina de cabelo azul não parava em cima do palco, correndo de um lado para o outro, fazendo headbanging constantemente e saltando para cima da bateria. Ao mesmo tempo, encarava o público, exigindo que este a acompanhasse, tarefa nada difícil, dada a frequência de pessoas a voar e o moche existente. Pouco depois do início do concerto, Alissa canta uma das suas músicas preferidas – “Ravenous” – conduzindo ainda mais o público à loucura. Este, não deixou de ecoar todas as letras do princípio ao fim, mostrando-se fiel á banda e revelando aceitação pela sua nova estrutura.
O estilo death metal melódico com demasiadas influências thrash que se revelava perante nós fazia o público viajar num mar de sentimentos de guerra, caos, destruição, ódio, pavor e agressividade. O som era tão potente e pesado que fazia o coração subir à boca e a bateria que se apresentou com contornos de metal brilhante em forma de dois tambores ligada por tubos, impôs o devido respeito. A distorção da voz tornava-se um pouco exagerada tendo em conta o cenário já criado desviando, muitas vezes, a banda do seu caminho. As armas de cordas seguiam rotas diferentes entre elas e como resultado disso mostravam riffs perfeitamente bem trabalhados e transformados. De revelar a presença do guitarrista Jeff Loomis, ex-Nevermore que demarcou bem a sua genialidade, aconchegando os ouvidos dos mais atentos.
“Dead Eyes See No Future”, ouvia-se repetida, harmoniosa e fortemente entre o público e Alissa, juntamente com “No Gods, No Masters” quando já íamos a mais de metade da setlist.
As músicas densas, negras, de vibrações fortes e distorções pesadas acompanharam-nos até ao final do concerto onde nos foram ofertados solos de guitarra que se dividiam entre o melódico e o heavy. Passada mais de 1h de concerto, a banda sueca regressou ao palco para um encore de 5 músicas encerrando assim uma noite de peso, energia e alguma surpresa.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Valentina Ernö (Silvana Delgado)
Promotor – Prime Artists