A tarde passou. Cada um os seus afazeres. Arrastam-se as cadeiras, agradeço ao Tiago Saga a disponibilidade e despedida sorridente com um esperançoso – “Até logo”. Saco do cigarro e entre cada nuvem deitada cá para fora murmuro – “Nada como saber ouvir. Afinal correu melhor do que estava à espera. Aprende-se sempre”.
O reencontro estava para breve e marcado para um dos mais famosos arcos de Lisboa ou pelo menos aquele que nos dá mais música – o Musicbox. Vários pedidos de passagem para chegar à frente do palco e verificar uma casa muito bem composta, mais uma agradável surpresa, e com um público bastante jovem.
Já em pé, bem alto e a encarar a plateia com jovialidade transbordante lá está ele – Tiago Saga. Não está sozinho, a acompanha-lo os restantes elementos da banda, os companheiros de estrada que não se importam de dividir a carrinha, que encostam a almofada ao amplificador e fazem disso cama, no fundo os amigos. Um teclista com ar tropicalista e que se mexe mais rápido que chita em savana sem fim, um baixista com os caracóis mais famosos que os do famoso Valderrama, baterista e guitarrista. Cada um a sua proveniência, cada um com os seus anseios e sonhos próprios da idade, juntos pela casualidade de um futuro que não é de todo controlável, mas que se abraça sem reticências. “Vamos lá” terão dito tantas e tantas vezes e de Brighton para Lisboa é só um salto.
Por trás, em loop, projeccções de um edifício que desaba e volta, como que por artes mágicas, a pôr-se de pé, um idoso no meio de um rio algures no oriente e uma imagem de um bando de raparigas, primas das Lisbon sisters?, a dançar em roda livre, braços descaídos, de cabelo solto e desprendidas. Esta última imagem passa vezes sem conta – há uma atmosfera rarefeita que impele aqueles corpos para a dança livre. Há quem se sinta motivado a seguir o exemplo e a celebrar as alegrias do período estival. A dança e a vontade de celebrar. As canções são desfiadas em bom ritmo, dão lugar a jams e improviso para apresentar a banda, ora em tom mais intimista ora em tom mais acelerado e com sonoridade ora pop ora contaminada por uma componente reggae, e que impulsionam os que cá estão em baixo a acelerar o abanar de anca. Temas como Donkey Stallion, Phone Sex, Vegetable e sobretudo A Crise são acompanhados em coro e aplaudidos com sincera alegria.
No final, a pergunta que se torna recorrente – “Há tempo para mais uma?” ou na sua declinação “Ainda podemos tocar mais uma?”. Sempre há tempo para mais uma – no Musicbox, na digressão que farão pela Europa, quando o Tiago Saga voltar a 10 de Junho para mais uma Tradiio Sessions, mas sobretudo para aqueles que têm a coragem de fazer o corte, começar do zero, recriar-se, ser ambicioso e sonhador e aqueles a quem o Tom Tom leva a lugares desconhecidos – para esses haverá sempre tempo.
Texto – João Castro
Fotografia – Luis Sousa