Foi na noite de Domingo, dia 21, que o Sabotage Rock Club abriu as portas a mais uma noite mística de partilha de boa música.
Embora a noite já estivesse quente, o coração e os ouvidos foram aconchegadamente aquecidos pelas três pessoas que subiram ao palco.
Após 1h30 de espera, o primeiro a subir foi Nelson, um menino do norte que dá a cara aos We Bless This Mess. Nelson veio sozinho, acompanhado pelo seu boné e a guitarra acústica.
Aos primeiros acordes, uma voz melodicamente tímida dava-se a conhecer. Numa espécie de folk mesclado com rock, Nelson falava sobre a vida com uma voz que arranha o surf rock americano numa combinação que resulta na perfeição. Embora em acústico, o concerto era marcado por riffs progressivamente rápidos, complexos e expectantes.
Pelo meio do concerto, o público é brindado com uma cover de Against Me! – “Sink, Florida, Sink” onde Nelson nos canta, tranquilamente, que o que está perdido não pode ser encontrado.
Quase a chegar ao fim do concerto, ouve-se uma música dedicada ao silêncio – “Silence”, composta por acordes curiosamente acelerados e ritmados. E por último, uma oferta ao rei da noite, uma música que não está editada nem gravada de nome “We Are All The Same”, orgulhosamente dedicada a Rocky Votolato.
Foi com harmonia, empatia e uma corda partida que We Bless This Mess abriu estrada para outro grande senhor da guitarra acústica se fazer ao caminho.
[We Bless This Mess]
Era a hora de Sam Alone, a voz dos Devil In Me, num registo totalmente diferente. Sam, no seu projeto a solo, consegue revelar que a voz de um verdadeiro artista pode ser bastante versátil, tal como os verdadeiros artistas.
Com uma voz encorpada, grave e cheia de força, Poli (Sam) rapidamente captou a atenção dos presentes. Era impossível não o fazer. Em cima daquele palco e durante 1h falou-se sobre a vida, avivou-se a nostalgia e cantou-se com emoção e para emocionar. Poli cantava sentimentalmente de olhos fechados com uma mensagem corporal forte, na sua guitarra onde se lia “working class riffle” os acordes eram trabalhados e corpulentos. Por vezes fazia-se acompanhar da sua harmónica que acabava por completar a envolvência existente, conseguindo mexer com as emoções e o coração dos presentes.
Ao longo do concerto, as vozes ecoavam pela sala, a legião de fãs era grande e criava uma ligação de força entre o público e Poli. Ouviam-se histórias de vida, de infância, de família e amigos. Ouvia-se paixão, revolta, ódio e esperança. A música “January” foi dedicada emocionalmente ao irmão, que estava presente na sala. Tocou ainda a música “Drunfos” de Allen Halloween , numa versão que deu uma nova alma à música.
Não foram os problemas que ia tendo com a afinação da guitarra que o privaram de dar um espetáculo digno de um mestre. Que no fundo é o que ele é, um mestre da melancolia e do sentimento, da voz e da guitarra e, sobretudo, um mestre da música.
[Sam Alone]
Era chegada a hora de percorrer o resto do caminho e Rocky Votolato sabia o que tinha a fazer. Com uma aura repleta de boas energias, humildade e simpatia, o senhor Rocky sobe ao ringue do Sabotage para assim encerrar a sua tournée em Lisboa e envolver o coração dos domingueiros resistentes.
Nascido no Texas, trouxe-nos um country puro e bastante energético. A voz sólida e limpa entrou nos ouvidos como se de um fluído se tratasse.
Acompanhado pela guitarra acústica e a harmónica, traz consigo músicas curtas e melodicamente bem trabalhadas e alegres, ainda que contem histórias de vida e de amor. A descontração, a experiência e a maturidade são notórias. Rocky veio para vencer e para conquistar o público. Este, não tardou a ficar rendido e a cantar com ele em uníssono.
Partilhou ainda o palco com We Bless This Mess, com quem orgulhosamente cantou uma canção. Após 45 minutos, Rocky deixou o público com um sorriso nos lábios e a alma cheia. Para além de ter encerrado a tournée e confessar que estava desejoso de voltar a casa, encerrou uma noite de envolvência e puro intimismo.
[Rocky Votolato]
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa