Este fim-de-semana foi preenchido em concertos. Um pouco por toda a Lisboa, os mais variados géneros estiveram representados em diversos locais e salas de espectáculos. Mas imbuídos pelo espírito psicadélico, fomos para o Sabotage Rock Club onde vimos uma invasão agressiva, intensa mas concisa dos 10.000 Russos (não, não se trata de nenhuma acção contra a Crimeia).
Para aguçar o apetite dos presentes, os portueses vinham com um novo álbum, homónimo. Com um aditivo que torna este álbum interessante: foram os primeiros portugueses a assinar o lançamento do seu álbum de estreia com a editora britânica Fuzz Club Records.
Com um espectáculo visual interessante, com as misturas de cores e líquidos reflectidos por um retroprojector, os 10.000 Russos fizeram-se expressar de forma intensa, por momentos, parecendo que iriamos ver uma banda a perder o controlo e a noção (no bom sentido) e levar o concerto para outros níveis.
João Pimenta – na bateria mas que se destacou na liderança pelos préstimos vocais que deu – foi o expoente da banda, pois foram as variadas vezes que a sua voz distorcida e entorpecida chegavam ao ponto de ameaçar romper com os tímpanos dos poucos, mas bons, fãs ali presentes no Sabotage. Para exemplificar tudo o que foi referido, o ruidoso, mas trépido Karl Burns.
O baixo, encarnado por André Couto, fazia o corpo vibrar, o corpo e quem sabe o Cais do Sodré, com as vibrações a ecoarem por todo o espaço. Pedro Pestana, na guitarra, que passou mais tempo de cócoras a tocar e a elevar o som para outros níveis, indicou o caminho que se devia tomar, com riffs explosivos mas ao mesmo tempo misteriosos, como em Barreiro (ou agora também se passa a chamar Lisbon South Bay?) ou o galopante Usvsus.
Um concerto que foi personalizado, sem espaço para euforias, nem interacção com o público – a música encarrega-se disso, mas sim para cativar aqueles que receberam de braços abertos a banda que veio do Porto.
Numa viagem que foi curta, também o álbum assim o dita, mas suficiente para deixar atordoados quaisquer dos ouvintes, foi com sentimento de dever comprido que os 10.000 Russos se despediram do Sabotage.
Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Valentina Ernö (Silvana Delgado)