Foi uma atuação pragmática a que Chad Valley (nome artístico de Hugo Manuel) ofereceu no sábado passado ao público que marcou presença no Musicbox para mais uma das Heineken Series, sessões dedicadas à divulgação de novos valores da música contemporânea.
Pragmática porque o músico de Oxford tinha um trabalho a fazer e fê-lo. Fê-lo muito bem, aliás. Pragmática também porque fora dessa esfera não houve muito a registar. E como poderia haver? Um espetáculo constrói-se com base na relação que se estabelece entre performer e público, e este último, por mais entusiasta e honrado que fosse, não era em número suficiente para encorajar uma atuação mais transcendente.
De resto, Chad Valley apresenta-se em palco como uma espécie de maestro, executante, cantor e produtor num só, e reparte a sua atenção por teclados, efeitos, sequenciadores e dois microfones (o de mão com delay), o que não deixa também muita margem para floreados. A forma como maneja os instrumentos enquanto canta, como se aqueles fossem uma extensão da sua pessoa, é notável. E o resultado sonoro condiz com essa entrega: durante pouco menos de uma hora, Chad executou 8 canções da melhor indie pop ambiental que se faz no momento.
A beleza da música de Chad está no equilíbrio que consegue atingir entre ritmos bem marcados, harmonias espaciais e arranjos simples. A estes elementos sobrepõe, de forma muito orgânica, uma voz que surpreende pelo brilho, afinação e, especialmente, pela extensão: quando após os dois primeiros temas anuncia que vai tocar algumas “new songs”, o tom de voz revela que Chad é afinal um barítono, como o “comum dos mortais”. Mas o registo privilegiado é mais o de tenor, quando não o de soprano, mais propícios a glosar a sensibilidade e paisagens emotivas que as suas letras evocam.
A terceira música põe um pouco de água na fervura de um início de concerto dinâmico. O ritmo base, mais arrastado, é composto por samples de 808, claves e um “claps”, e o ambiente criado pelos teclados é propício a uma interpretação mais soul. Chad canta quase sempre de olhos fechados.
Não há tempos mortos nem arranjos fúteis na música de Chad Valley. Tudo está ali por uma razão. Economia e eficácia são palavras que nos vieram à cabeça durante a atuação. Aqui ficam outras, em todo o seu esplendor de subjetividade, que foram sugeridas por certos elementos das músicas: Sexual Healing, 80’s, I Still Haven’t Found What I’m Looking For.
A penúltima música introduziu um recurso diferente, uma espécie de vocoder que conferiu à voz de Chad uma característica robótica. A música em questão fará parte do novo álbum, que é lançado em Outubro. À medida que o concerto se aproximava do fim, os ritmos dançáveis fizeram a sua aparição e deixaram o público mais animado. Mas uma sensação agridoce marcou a noite… tão boa música e tão pouca gente para a gozar.
Texto – Pedro Raimundo
Fotografia – Rita Justino