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Chet Faker aqueceu o Coliseu

Que Chet Faker era um dos nomes da moda, isso já sabíamos, tanto pelo que vimos no NOS Alive do ano passado, como pelo facto de ter esgotado os dois concertos no Coliseu rapidamente. E ficou comprovado que há uma devoção enorme ao músico, detentor de um dos melhores álbuns do ano passado, logo no primeiro concerto no Coliseu dos Recreios em Lisboa, esta sexta-feira passada.

Antes de passar ao concerto propriamente dito, há que fazer uma menção ao Mr. Herbert Quain, que pelo nome não diríamos que é português, que esteve encarregue da primeira parte. Nem aqueceu muito, visto que o prato principal da noite era mesmo o cantor australiano. Ainda assim, o seu estilo, fazendo lembrar ainda que vagamente os Justice, fez por momentos sentir que estaríamos no terraço do Lux. O detalhe é que o imenso calor que se fez sentir dentro do recinto trazia-nos à realidade o contrário.

[Mr. Herbert Quain]

Cigarettes and Chocolate foi o tiro de partida para um concerto que durou hora e meia e encheu o público de um sentimento melancólico, característica do “australiano-anteriormente-detentor-de-uma-barba-invejável”. O primeiro grande teste ao público veio com o Melt, que literalmente derreteu quem estava na plateia e nos camarotes. Com a letra bem decorada – como aliás se viu durante todo o concerto – foi o primeiro grande “bruá” da noite.

Com Release Your Problems do Built Yout Glass e Love and Feeling de um dos seus EPs, Thinking in Textures veio um dos momentos inéditos do concerto. Inéditos no sentido de que Chet Faker só costuma tocar ao vivo. Recuando no tempo, até à década de 70, foi buscar o Moondance de Van Morrinson. Foi a partir daqui que Chet Faker tomou conta de um público que até então estava algo afastado, mais barulhento, sendo que alguns estavam mais preocupados em ver o australiano pelo telemóvel do que com os próprios olhos.

O apaixonado To Me antecedeu o momento da noite. Após um pedido em português (voz emprestada de uma rapariga que estava na primeira fila) para não filmarem e sentirem a música. Trocados os telemóveis por isqueiros, aqueceram-se as vozes para cantar o sucesso emprestado, porque é uma cover dos Blacksteet, “No Diggity”.

Drop The Game e I’m Into You, que antecederam no universo de Chet Faker ainda antes do Built To Glass, e que deram protagonismo pela colaboração com o também australiano Flume, elevaram a fasquia de uma noite que estava a correr de feição.

Para o final do alinhamento inicial estava guardado o Blush e o 1998, mas era óbvio que o concerto não se esgotava aqui. Se o melhor de uma refeição é a sobremesa, neste caso o melhor do concerto foi mesmo o encore. Nesta setlist estavam guardados o Cigarettes and Loneliness e o Dead Body, com Chet Faker já a trocar as teclas pela guitarra. “This one is dedicated for the beautiful people.” Gold encheu as medidas de um público que virou coro, brilhantemente orquestrado.

Na despedida, Chet Faker + um piano + um publico bem afinado e Talk Is Cheap com os braços bem levantados. Melhor fim não podia ter havido, com um “Thank you, see you next time”. O que vale é que, quem quiser, ele andará por estas bandas tanto no sábado como no NOS Alive.

[Chet Faker]

[Ambiente]

Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Luis Sousa