No dia em teremos os vencedores do Concurso Nacional de Bandas Antena 3 a tocar no Festival Super Bock Super Rock, é necessário retratar a final que trouxe Antony Left até aqui.
Foram poucas as pessoas que se deslocaram ao Grande Auditório do CCB na noite de 2 de Julho. A plateia era basicamente composta por apoiantes das bandas participantes.
Pouco passava das 21h quando subiram ao palco os Eat Bear, oriundos do Porto e com existência desde 2012 intitulam-se como uma banda de rock de garagem. O som deles é mais limpo que o rock de garagem. Apostaria mais em apelidar o estilo deles de puro rock, com alguns riffs pop e outros rock’n’roll. A banda é composta por duas vozes que são usadas individualmente em músicas intercaladas, sendo uma mais saliente, robusta e forte que a outra. Os solos de guitarra são bem trabalhados e inspirados, havia alguma distorção e a energia do baterista destacava-se tanto auditiva como visualmente.
Após 5 músicas, os Eat Bear deixam o palco para Antony Left e o resto da sua banda entrarem. Vieram com a timidez e introspecção própria da idade, dificilmente encaravam a plateia apesar dos gritos que acompanharam o concerto. A sua composição instrumental era de louvar. Em cima do palco existiam um violino, um violoncelo, uma guitarra acústica e a bateria e em conjunto produziam um som bem trabalhado, com uma ótima composição. Da simplicidade dos acordes fazia-se o todo e a melodia era tranquilizante e apaziguante. Contudo, a voz que acompanhava a qualidade sonora era fraca, sem força, sem garra e com alguma desafinação, criando um contraste difícil de ignorar. Apesar da atuação ter feito a delícia dos presentes que, por sinal, eram maioritariamente apoiantes da banda, ficou aquém das expectativas.
Por último, mas não em último as luzes acendem-se para os Le Crazy Coconuts. Originais de Leiria e com existência desde 2012, vieram para trazer uma lufada de ar fresco. A inovação na criação prendeu logo a atenção das pessoas: junto com a bateria, a percussão era feita com sapateado. A maturidade da banda era saliente e a voz, a melhor da noite, projectava-se com firmeza e ritmo pelos quatro cantos do CCB. Os Le Crazy Coconuts têm uma notória influência de Interpol e The Black Keys. Tocaram cobertos de energia e certezas, estavam imparáveis. O sapateado de Adriana Jaulino era acompanhado por uma dança sensualmente grotesca. O baixo, por sua vez, fez o trabalho de honra. A penúltima música era uma adaptação a “These Boots Are Made For Walking” da Nancy Sinatra, onde o ritmo foi estrategicamente reduzido e a letra trocada: em vez de botas, falava-se de sapatos e fazia todo o sentido.
Enquanto o Júri, composto por Henrique Amaro e Luís Oliveira da Antena 3, Jwana Godinho da Música no Coração, Hélio Morais dos Linda Martini e Selma Uamusse, se debruçava sobre a escolha do vencedor, os You Can´t Win, Charlie Brown encantavam os espectadores com a sua forma mágica de fazer música.
Era tempo do público se aconchegar confortavelmente nas cadeiras e saborear nota por nota o concerto dos You Can´t Win, Charlie Brown. O grupo de 6 elementos formado em 2009 trouxe um momento de calmaria e encanto. Ao longo das 9 faixas tocadas, todas longas e complexas, um ritmo alegre e harmónico encheu a sala do CCB. Dotados de uma grande versatilidade instrumental, apresentam um cenário composto por cordas, teclados, Glockenspiels, Duduks, metalófones e sintetizadores. A música “After December” dá o arranque de saída e leva os seis elementos ao microfone, algo que é fascinantemente encaixado na complexidade da construção instrumental.
O concerto foi marcado por músicas do primeiro álbum da banda, lançado em 2010 como “Green Grass #1”, “An Ending” e “Over the Sun” por exemplo, e músicas do segundo álbum lançado no ano passado como “Fall For You”, “Shout” e “ Natural Habitat”, música com que terminaram quase 1h30 de um espectáculo emocionalmente bom.
A decisão foi tomada e recaiu sobre Antony Left, o que não deixou de ser uma surpresa intrigante, dado a prestação deles em cima do palco, tendo consciência que houve melhor. O prémio atribuído consiste na possibilidade de tocarem no Palco Antena 3 do Super Bock Super Rock e na gravação em estúdio de uma música. Resta referir que, embora fosse um concurso de bandas nacionais, a falta da língua portuguesa sentiu-se e, mais uma vez, a opção pelo inglês se realçou.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Rita Justino