Backstage

Entrevista com The Cosmic Dead, Viagem intergalática

O Milhões de Festa está à porta e com ele aterram em Portugal uma lista imensa de bandas. Para além de bandas portuguesas e do estrangeiro, vêm nomes que ultrapassam este universo, como os The Cosmic Dead. Embora no papel sejam Glasgow. Embora sem scotch, a banda composta por Omar Aborida, no baixo, Lewis Cook no sintetizador, Julian Dicken na bateria, James T McKay na guitarra e Güürly Shoastmann no vibrafone compõem um som, que como indica o nome da banda, alonga-se pelas galáxias além Via Láctea.

Depos de passar por Barcelos, os escoceses desembarcam em Lisboa, onde no próximo sábado irão tocar no Sabotage Rock Club. Em conversa com o Música em DX, James T McKay descreveu a presença da banda em solo lusitano em tons humorísticos, já que nunca costumam passar além Sauchiehall Street [o TripAdvisor diz-nos que é uma das principais ruas da cidade escocesa] aos domingos, pelo que é sempre diferente esta viagem.

Mas deixando de parte das trivialidades turísticas, o que importava era conhecer um pouco de como a banda era, como se descreviam, enfim, um pouco de identidade para quem ainda não os conhecia. Ser assim dado para o universal e para o cósmico também é ser dado para o enigmático, pelo que, James não consegue também dar uma resposta precisa quanto à descrição da banda: “Como é que uma experiência que não foi experienciada pode ser descrita? Como é que se descreve um pôr-do-sol? Começa verdadeiramente escuro e acaba não-escuro? É como deixar um cão furioso por apenas morder a pata”

Por esta viagem intergaláctica, o que é um dado adquirido é o facto de todos os elementos se alinharem pelo mesmo diapasão, já que foi fácil de se entenderem relativamente que estilo de música iriam tocar e também que nome a banda iria ter. É um pouco de rock, um pouco de psicadélico, um pouco de experimentalismo e o resultado dá uma mescla de sons fora da rotina. O que acaba por ser natural que se dê espaço à improvisação. “Se um ser não improvisa tanto quanto a vida permite, então não procura novas maneiras e formas de viajar. Durante muito tempo, nós andámos a bater na mesma tecla, o que não estava certo.” Pelo que a solução, para o guitarrista, é naturalmente sair do casulo para ser “uma pessoa melhor e mais zen”.

Mas que receita é essa para ser uma pessoa mais zen? Nesta demanda pela procura de sentimentos transmitidos, a resposta para o que o coração sente ou não, a resposta não podia ser, mais uma vez, enigmática: “A música é como um satélite à procura dessas vibes em estado puro. Normalmente não sinto nada. Os sonhos que tenho, são sonhos em que não estou presente. É como uma festa que não sou convidado, porque apenas os seres humanos podem ser convidados e eu estou morto.”.

Mudando de canal, deixando de lado estes temas algo deep, e passando para a polémica dos selfies sticks e outros gadgets que entram na “ratoeira da swaguização”, a solução de James T McKay é bastante simples: “Se o pessoal não gosta, não compra. Muito do pessoal fica irritado com a nova tecnologia e isso impede de poder ajudar a ultrapassar os comentários negativos. Esses comentários, providos de palavras ocas e incómodas, não estimulam um ambiente criativo, o que acaba por criar barreiras, e o que acaba por apelar à auro-destruição do eu interior.”.

Portanto, para quem fizer a viagem no espaço, sem sair de Portugal, com os The Cosmic Dead, o guitarrista só deixa um conselho: “Venham passar um bom bocado, qualquer um que esteja lá é pela mesma razão e é para se divertir. Não passem energias negativas e sejam excelentes uns com os outros.”.

Quem não puder ver estes meninos em Barcelos, pode sempre ir até ao Sabotage Rock Club no próximo sábado para viajar numa noite que promete.

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Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – The Cosmic Dead