Não fosse estarmos em pleno verão e a noite de 24 para 25 que se proporcionou no fim de semana passado na Galeria Zé dos Bois bem podia ter sido confundida com a noite de Natal. Porquê? Porque no sapatinho daqueles que decidiram mergulhar no aquário da Galeria estava guardado um belo presente. Um presente chamado Golden Teacher.
Numa hora de concerto, encore incluído, o sexteto de Glasgow protagonizou uma atuação eletrizante que, poder-se-ia escrever, deixou o público rendido. Mas na verdade, a expressão seria inexata. Porque o que estes Golden Teacher procuram, e alcançam, não é tanto a rendição quanto a celebração, como de resto indica o nome do seu terceiro e mais recente EP: Party People. E foi de facto uma festa que aconteceu. Quem tivesse chegado a meio do concerto iria encontrar uma sala completamente entregue à dança, sem qualquer tipo de inibição: eis o efeito Golden Teacher. Música portanto definitivamente dançável. Mas o fator contagiante não está apenas no beat. Na receita, em comunhão com elementos eletrónicos, há uma bateria, percussões e, acima de tudo, um ingrediente humano decisivo: a alegria e prazer com que os membros estão em palco, desde os teclistas, naturalmente mais circunscritos, aos dois vocalistas, Cassie e Charlie, que aproveitam a sua liberdade de movimentos para dançar. Charlie numa postura mais desafiante e com um pendor mais poético; Cassie alternando a graciosidade de movimentos – atua descalça – com momentos em que uma voz insuspeitamente potente e visceral faz a sua aparição.
Eletrónica, Disco Sound e ritmos africanos e indianos são algumas das inspirações mais óbvias da banda. Mas, tal como tudo o que tem personalidade, há algo nos Golden Teacher que foge a tentativas de descrição e só pode ser entendido intimamente. Mas não virando a cara à luta e tentando fazer o que aqui nos compete, há que dizer que também contribui para descodificar a identidade desta banda a sua componente performativa, não só a cargo dos vocalistas/dançarinos mas também da figura algo surrealista do teclista de peruca loira que, ora com recurso a um clarinete, um vocoder ou diversos tipos de percussão, vai descentralizando a atenção da “boca de cena”. Esta é uma banda para ver e ouvir ao vivo.
De resto, a ênfase não é colocada na harmonia: predominam o ritmo, o baixo “rífico” e a construção de ambientes que chegam a ser ligeiramente opressivos mas que são potencialmente enebriantes. Os elementos da banda conseguem não ser dominados pela matriz eletrónica do seu som e, tão bem quanto a mais competente banda rock, gerir a tensão musical, criando momentos explosivos através de excelentes progressões rítmicas. E este é um dos indicadores de que o que faz a música dos Golden Teacher resultar é algo que hoje em dia parece estar em vias de extinção: química. A mesma química que fez com que, no final, os membros da banda se abraçassem antes de sair do palco.
Um concerto muito, muito bom. Obrigado Zé dos Bois.
Texto – Pedro Raimundo
Fotografia – Luis Sousa