O dia começou cinzento com algumas gotas de água a cair do céu, afinal o que é Paredes de Coura sem chuva na terceira semana de Agosto?
Já é o último dia? Era a pergunta que ecoava na cabeça dos festivaleiros. Sim, o bom passa rápido e só havia mais um dia de música pela frente. Uma tarefa restava: aproveitar ao máximo o que de melhor o Vodafone Paredes de Coura sabe dar.
Natalie Prass
A tarde começa de forma sensual no palco Vodafone FM, a cantautora americana, que estava demasiado eufórica, encantou o público com a sua forma gentil e elegante de cantar soul. A leveza das suas músicas marcava e acompanhada a leveza do clima que se fazia sentir e aliviava os corpos já ligeiramente cansados da maratona musical. Apresentou o primeiro álbum da carreira, homónimo, lançado no corrente ano e tocou “Your Fool”, “Bird Of Prey” e “My Baby Don´t Understand Me”, entre outras.
Woods
Estes meninos do folk-rock americano com pinceladas de algum psicadelismo subtil fizeram uma excelente introdução aos Temples que pisariam de seguida o mesmo palco. Deixar fluir seria o termo correto para descrever este concerto e o público acompanhou a onda e de longe via-se um compasso unido e alinhado de movimento de anca. Atrás da banda existiam os 4 elementos sinistros que compõem a capa do último álbum lançado no ano passado – With Light And With Love – e foi com amor e luz que deixaram o palco tendo, antes disso, deixado o público anestesiado com a faixa “Moving To The Left”.
Sylvan Esso
O duo americano que não gosta de se apelidar de banda, chegou para surpreender a plateia. Estando as tarefas divididas entre o microfone para ela e a mesa de mistura para ele, foi criado um momento de descontração e boas energias, a música eletrónica com toques de indie pop não era difícil de entrar no ouvido e de lá permanecer. As pessoas iam passando e ficando e as que não o faziam comiam acompanhados de uma banda sonora que não permitia não abanar a cabeça.
Temples
Já era noite quando algo cintilante entra em palco. Era o casaco característico de uma verdadeira rockstar que James Bagshaw usava, os cachos de caracóis continuam a tapar-lhe os olhos e a preservar a timidez escondida por detrás deles. Um ano e pouco passou desde que se estrearam em Portugal e este regresso foi acompanhado de uma melhoria na prestação em palco, mais soltos e confiantes mas ainda com a sensação que têm mais para oferecer. O psicadelismo que vai beber na fonte dos Beatles e nas viagens dos Caravan apresentou-se de forma pura e uniforme. Com um único álbum no bolso no qual, obviamente, se concentraram, foram guiados por entre “ The Golden Throne”, “Keep in the Dark”, “Mesmerise” e terminaram com a tão aclamada “Shelter Song”. Pelo meio foi introduzida uma música nova – “Henry’s Cake” – que deixou o apetite aberto para o novo álbum que há-de vir.
Lykke Li
Com umas cortinas pretas a romper o tecto até ao chão, Lykke Li entra majestosamente em palco com uma leveza deslumbrante. Trazia consigo a vontade de deixar marca e a verdade é que deixou. Acompanhada pela chuva a jovem sueca desfilou sensual e imponente totalmente segura de si, conseguindo deixar o público a cantar emotivamente em uníssono e de mão no ar, fazendo com que os problemas técnicos que se faziam sentir na projeção da voz fossem postos de parte. Com uma baqueta na mão ia tentando enfeitiçar os presentes que já estavam mais que rendidos. Por entre os êxitos, a maioria conhecido por todos estavam “ Sadness is a Blessing”, “Just Like a Dream”, a cover de Drake “Hold On, We’re Going Home” e a tão esperada “I Follow Rivers”. Com os seus ritmos de dream pop, de eletrónica e indie conseguiu fazer um bom aconchego no estômago para a bomba que vinha a seguir.
RATATAT
Coube aos nova-iorquinos a tarefa de encerrar o palco principal de um festival que trouxe noites memoráveis ao anfiteatro natural de Paredes de Coura. A verdade é que a festa de encerramento foi bem sucedida e o público estava desejoso de mais. A dupla tem a capacidade inteligente de fascinar tanto auditiva como visualmente, estando constantemente a passar vídeos e imagens aleatórios que entram na cabeça e lá se deitam com a música, criando explosões de diversos sentidos em simultâneo. Como objetivo, traziam a promoção do álbum lançado no mês passado – Magnifique – e mostraram entre muitas a “Pricks of Brightness”, a “Cream on Chrome” e a “Abrasive”. Apesar da irreverência e distinção no meio da música eletrónica, os instrumentos de cordas (guitarra e baixo) são vistos como atores principais e com o passar do tempo, o concerto vai parecendo ter sempre a mesma fala. No entanto, não foi isto que impediu o crowd surfing abundante, a alegria estampada na cara de todos e a espera interminável por um encore que nunca chegou a acontecer. Apesar da falta de comunicação é garantido que estes senhores ganharam um lugar no coração dos presentes.
Chegou ao fim a edição do Vodafone Paredes de Coura que conseguiu lotar um espaço que outrora era desconhecido. Na memória vão ficar concertos míticos e místicos, um ambiente de união e harmonia e a vontade de ter mais. O mais que acontecerá para o ano de 17 a 20 de Agosto e mal aguentaremos a ansiedade.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – © Hugo Lima | Vodafone Paredes de Coura