Um Mcdonalds, uma boca do Metro e uma das mais movimentadas avenidas da cidade. Decididamente não é o que se deseja para um Domingo à tarde. Felizmente há um segundo andar e atrás da porta um sorriso aberto que nos convida a entrar, é a Inês Magalhães. A cozinha torna-se familiar, a sala propícia a sentar-se no chão e os músicos a menos de um palmo. A agitação inconsequente da rotina diária desaparece, constrói-se refúgio e apercebemo-nos que sempre ali estivemos.
Outra vez aquela porta. A abri-la novamente a Inês para nos falar do MAGAFEST e das novas aventuras que se avizinham.
Música em DX (MDX) – Das MagaSessions ao MAGAFEST. Foi um processo de elefantíase ou há algo mais do que isso?
Inês Magalhães (IM) – A casa estava a ficar pequena, mas mais do que a mudança para um espaço maior é sobretudo a celebração de um ano, dos músicos que por cá passaram, a Lula Pena ou o Rui (Filho da Mãe). É a celebração com os espetadores que já conhecem as MagaSessions, os que o vão fazer, os músicos, de um espírito que valoriza a música. A música vale por si só.
MDX – E a Casa Independente é a extensão da Casa, uma espécie de segunda casa?
IM – Definitivamente não é uma segunda casa. É um espaço pelo qual nutro um carinho muito especial, apresenta uma linha musical de que gosto bastante e sobretudo enquadra-se no espírito das Maga, ou seja onde todos se sentem cómodos e veem concertos de que gostam. Correu muito bem o ano passado por isso não havia nenhum motivo para alterar.
MDX – Falaste numa linha musical. Que critérios de selecção estão subjacentes ao cartaz deste ano?
IM – Como sabes as MagaSessions estão longe de corresponderem a um só estilo – desde a música improvisada, ao folk, ao indie, ao jazz e à música de câmara tudo já teve abrigo nesta sala. E o cartaz deste ano reflecte essa intenção. Há também um sentido de provocação, nem que seja por um dia. Falo de uma provocação interior, como a pintura. Ver um quadro de William Turner não te deixa indiferente, mexe contigo. É este o sentido de provocação de que falo. Daí a escolha ser natural – o Filho da Mãe, o Silence is a Boy, o Norberto Lobo.
MDX – Nunca sentiste a vontade de trazer músicos estrangeiros?
IM – Sinceramente já pensei nisso, por exemplo gostava de ter organizado um concerto da Sílvia Perez Cruz, que agora assumiu uma dimensão bastante interessante. Ela irá tocar proximamente na Gulbenkian. Por exemplo, um dos primeiros concertos que organizei nas MagaSessions foi com a Dream and Drone Orchestra que conta com músicos estrangeiros. Mas, e apesar desta vontade, o que me interessa não é saber se o Magfest é 100% nacional ou não. O critério é outro.
MDX – Não tens medo de dizerem que repetes sempre os mesmos músicos?
IM – De todo. Conheço muitos dos músicos que participam nas Magasessions há muitos anos. São meus amigos. O Norberto Lobo conheço há mais de 20 anos, o irmão – Garcia da Selva também, uma das minhas bandas favoritas é Norman, e por já ter feito concertos com eles vou deixar de os fazer? Também não me parece que este seja o critério. Além disso, um concerto com o Norberto ou com qualquer outro músico pode transformar-se em objectos completamente diferentes – Norberto a solo é uma coisa, com o Carlos Bica outra ou com o Gabriel Ferrandini outro exercício completamente diferente.
Além disso, as coisas vão-se sucedendo muito naturalmente. O Norberto Lobo e o Carlos Bica já tocaram cá em casa naquela combinação única e que apresentaram ao vivo raríssimas vez, com a Lula Pena, e apesar da sua natural timidez a fazer lembrar um pouco o Norberto, e após vários contactos considerei que fazia sentido no cartaz desta edição. O Jibóia também. Ou seja, os músicos, os diferentes projectos acabam por se encaixar naturalmente.
MDX – Uma festa por um dia não te parece curto?
IM – Sobretudo tem a ver com questões práticas, com a questão do dinheiro que é muito importante nestes casos. Este ano, tal como o anterior, é um dia. Penso que resulta bem assim. Quem sabe se no futuro não haverá alterações, ainda não sei.
MDX – Uma das particularidades das MagaSessions é a programação dedicada às crianças, haverá também isso no MAGAFEST?
IM – Não haverá um concerto dedicado exclusivamente aos mais novos como há nas Magasessions, mas a Casa Independente permite que elas possam correr de um lado para o outro, dentro e fora de casa, estar em contacto com os músicos. Sem ser uma preocupação imediata sabemos que elas têm, e muito, o seu espaço lá também.
MDX – Como foi a mudança da Sessions para a Fest? Foi só uma questão de escala?
IM – Há diferenças grandes sim, mas também sei que há uma equipa por trás que me apoia sempre. O Tiago Martins e o Hugo Martins na parte técnica, a própria Casa Independente já tem uma estrutura, a Raquel Lains que tem sido incansável na promoção e com o qual trabalho diariamente. Desta forma tudo se torna muito mais fácil, quer na organização prévia, quer no próprio dia.
MDX – Quem entra em tua casa e olha de soslaio repara que não é só música – os dvd’s, os livros. Para lá dos concertos que mais haverá no Magafest?
IM – Olha que nos dvd’s também há Bridget Jones (risos). Haverá uma mostra de cartazes das Magasessions. Reflecte a preocupação que tento transmitir com um design cuidado, mas sobretudo partilhar parte da nossa história. Quando olho para eles, e estão ali vários em cima da mesa, vejo o tempo que muda, mas sobretudo o que se mantém como essencial e que me fez entrar nisto pela primeira vez – a música e a apropriação desta por quem cá vem de uma forma natural, muito espontânea.
Norberto Lobo & Carlos Bica, Filho da Mãe, Lula Pena, Silence is a Boy, Minta & The Brook Trout, Garcia da Selva, Simão e Jibóia foram este ano os artistas escolhidos para, entre as 18 horas de sábado e as 2 horas da manhã de domingo, dar música aos espectadores.
Os bilhetes custam 15 € e podem ser adquiridos nas plataformas da MagaSessions ou Casa Independente.
Para mais informação sobre o MAGAFEST’15 clique aqui.
Texto – João Castro
Fotografia – Valentina Ernö (Silvana Delgado)