O nome surge em duplicado mas o protagonista é só um. Tiago Castro é o mago por detrás do projecto Acid Acid, aventura que começou para criar musica ambiente entre a escuridão do espaço e o cintilar das estrelas, tela espacial obscurecida pelos contornos psicadélicos com que se desdobra entre a guitarra e os órgãos. Aproveitado o seu vindouro concerto no Sabotage Club, com Dope Body, no próximo dia 24 de Setembro, o Música em DX resgatou a conversa que teve com o simpático músico e radialista no backstage do festival Reverence Valada.
Música em DX (MDX) – Em que é que consiste o projecto Acid Acid?
Tiago Castro (TC) – Bem, Acid Acid sou só eu a tocar guitarra e órgãos, para criar uma música um pouco textural, ambiental, com poucos ritmos. É exploratória e espacial também. Eu vou hoje tocar uma coisa diferente, eu normalmente faço do concerto uma peça única de meia hora, sem interrupções e com várias fases. É uma coisa para viajar, explorar, muito mais calma e suave do que tudo o que está aqui a acontecer!
MDX – Trabalhas muito o layering da música.
TC – Sim, tem várias camadas, uns movimentos mais experimentais, algum noise também, mas mais calmo e sim, por camadas.
MDX – Quando é que começaste o projecto?
TC – A coisa começou no final de Novembro, aliás, foi por essa altura no ano passado que eu dei o primeiro concerto, em Dezembro acho eu, em Lisboa e foi a convite da Nariz Entupido. Eles estavam a fazer uma curadoria num espaço na Rua de São Paulo, o Salão. É uma loja de candeeiros que também é um atelier onde eles estavam a fazer vários concertos e convidaram-me a mim por mail a perguntar se queria experimentar. Eles programam pessoal mais na área da folk mas já começam também a tocar em algumas coisas mais experimentais e acharam piada eu ir lá tentar desenvolver algo para apresentar. Eu disse várias vezes que não até que me convenceram, foi daqui que nasceu, as coisas foram crescendo e surgiu esta composição longa e é isso que eu tenho andado a apresentar. Também já gravei uma bootleg no Sabotage, vendemos às vezes nos concertos e estou agora a gravar o disco.
MDX – Como tem sido o processo de composição?
TC – Tem sido um pouco estranho. Como é uma coisa exploratória, pode ir para muito sítio. Eu tenho ideias base, só que depois as coisas vão crescendo e como é música de explorar os sons, eu encontro um som e penso “hey, vamos explorar aqui isto”. Estou a gravar eu mais um amigo meu que está a produzir e é uma coisa muito caseira, mas como eu não tenho baterias nem nada pode ser uma coisa feita em casa e está a ficar com um som muito bom.
MDX – Sendo a exploração uma ideia basilar do projecto, calculo que ocorra com frequência começares uma ideia e depois mudares tudo a meio.
TC – Sim, muitas, muitas vezes. Até a própria peça que vou apresentar aqui, que já toquei várias vezes ao vivo, vai crescendo, ou seja, tem uma linha condutora mas por vezes sigo um caminho, por vezes outro e vou adicionando, é música com muito espaço e quando está a ser gravada isso também acontece.
MDX – É possível até que, ao longo da vida deste projecto, a música vá ser sempre diferente em cada concerto?
TC – Sim, é possível, até porque o que eu estou a gravar não é bem o que eu estou a apresentar ao vivo neste momento e eventualmente vou deixar de tocá-la para mostrar o material novo. Mas sim, esta música que eu toco já passou por muita mudança. Apesar de ter uma linha condutora fixa, uma espinha dorsal, as possibilidades são muitas. Isso é engraçado, eu não estou propriamente a improvisar, estou é sempre a criar coisas novas para adicionar à peça.
MDX – Qual é o teu passado musical pré-Acid Acid?
TC – Só toquei em bandas de garagem, fiquei parado muito tempo, muitos anos. Eu tive de tirar o pó aos instrumentos, mas literalmente. Ia dando uns toques na guitarra, mas tive de limpar tudo. Tive de voltar a pensar em música.
MDX – E assim, no espaço de um ano, como é que perspetivas fechar a última noite do Reverence?
TC – É muito estranho (risos). Eu fiquei fascinado com o convite, tenho alguns excertos gravados em formato demo no Bandcamp e o pessoal do Reverence ouviu e gostou muito. Eu até perguntei “Faz sentido eu tocar no fim? Não é melhor no início?”, ao que me responderam “Não, não Tiago, vai ser perfeito para fechar”. Estou a confiar muito na organização e gosto muito do festival.
MDX – Já cá tinhas vindo?
TC – Sim, no ano passado e adorei. No segundo dia estive até a passar música no palco principal e, portanto, vi muitos concertos em cima do palco. Fiquei fascinado, pelo ambiente e pelos concertos.
Capa de Acid Acid (excerpt 4). Para ouvir clique aqui.
MDX – Ou seja, vais ser dos poucos sortudos possivelmente a ver o Sol nascer enquanto estás a tocar.
TC – Espero que não seja o único! (risos) Parte do meu trabalho, ontem e hoje, tem sido de dizer às pessoas para irem lá, nem que seja ver só um bocadinho e depois vão dormir, mas que apareçam e resistam!
MDX – Quais são os planos para os próximos tempos?
TC – Queremos começar a apresentar a peça e para o ano estamos a tentar preparar uma série de concertos. Até ao final deste ano ainda vão haver mais alguns, mas no próximo ano, já com o álbum cá fora, queremos dar vários concertos. Queremos também encontrar o nosso público específico.
MDX – Já pensaste expandir este projecto para lá do formato one-man band?
TC – Já me passou pela cabeça, mas neste momento ainda não. Lá está, quando eu tocava guitarra e baixo em bandas de garagem aprendi que, o bom das bandas é que toda a gente contribui e tem algo a dizer, mas o mau é que há muitos egos. Uma das razões pelas quais eu deixei de tocar foi porque me fartei disso. Neste projecto eu sou um pequeno ditador, tenho as coisas sobre os meus ombros. Se me enganar, a responsabilidade é minha, é a minha música.
MDX – Há uma outra liberdade.
TC – Muito, e é por isso que eu estou muito contente com isto, porque como deixei de tocar há tanto tempo e agora voltei, sou só eu e estou muito feliz com isso. Até me podem criticar, podem dizer, e já disseram, “é melhor fazeres assim” ou “ficava bom uma distorção mais poderosa” e eu experimentei, tenho feito essas coisas, mas sou só eu.
www.facebook.com/acidacidmusic | https://acidacidmusic.bandcamp.com/
Tiago Castro está amanhã no Sabotage Rock Club com o seu projecto Acid Acid, e advinha-se uma grande noite em conjunto com os norte americanos Dope Body. A abertura de portas é às 22h30, e o concerto inicia às 23h.
Mais informação sobre o evento em https://www.musicaemdx.pt/events/dope-body-usa-acid-acid-tiago-castro-dj-set/
Texto – António Moura dos Santos
Fotografia – Luis Sousa