Solids, de devaneios psicadélicos à intensidade do rock

Situado no Cais do Sodré, o Sabotage Club assume-se cada vez mais como um ponto de paragem obrigatória para os apreciadores de música mais alternativa. Na passada Sexta-Feira – 25 de Setembro -, num evento organizado pela Amazing Events, assistimos à estreia em Portugal dos canadianos Solids, acompanhados pelos nacionais Strobelight Newborns e Desert Mammoth.

Coube aos Strobelight Newborns, vencedores do concurso Finding The Way – Edição Sound Bay Fest 16, a abertura de uma noite que seria dominada por diversas vertentes do rock mais alternativo, do psychedelic ao stoner, piscando ainda o olho ao indie. Esta última que é a sonoridade base da banda que, antes de começar a sua actuação, apresentou, pela voz do seu vocalista e baixista, cada um dos seus quatro membros, convidando-nos de seguida a desfrutar da viagem que propunham oferecer aos presentes – que ainda não eram muitos, apesar de ao longo do concerto a sala ter começado a ficar bem composta. Não demonstrando ainda um grande à vontade em palco – fruto da sua juventude e do facto de estarem ainda a dar os seus primeiros passos enquanto banda -, conseguiram ser coesos e competentes em palco, dando um concerto sólido, apesar da sua evidente inexperiência. Com um forte predomínio do instrumental e uma voz mais ausente, foi nas partes mais aceleradas do seu indie rock, com incursões progressivas e psicadélicas, que a banda conseguiu cativar, de uma forma mais vincada, o público. Não tendo sido um concerto fascinante, deixou boas indicações.

De seguida, chegaram os Desert Mammoth. O trio instrumental apresentou, perante uma moldura humana bem definida, o seu som carregado de riffs pesados e densos que, na sua sonoridade arrastada, levaram-nos a a embarcar numa viagem até um deserto distante. Foi um concerto marcado pelo peso característico do stoner, numa intensidade contagiante que não deixou ninguém indiferente ao poderio sonoro que nos chegava do palco. Apesar da consistência e forte presença em palco – destaque para o baixista -, a banda peca um pouco por o seu som criar, em determinadas alturas, uma (falsa) sensação de monotonia, rapidamente esquecida por um novo devaneio mais psicadélico e intenso que nos arrasta, e nos faz entrar no ritmo frenético e denso que a banda tão bem sabe criar. Uma pequena falha que se pode apontar à banda, apesar da boa actuação, é o facto de, ao longo de todo o concerto, não terem comunicado uma única vez com o público. Não que a comunicação verbal seja obrigatória para que um concerto seja bem conseguido, mas certamente que ajuda a criar uma maior empatia. De qualquer forma não mancha a qualidade da banda que cumpriu a sua função e deixou os presentes satisfeitos.

Depois da troca do material em palco, tudo pronto para acolher a estreia dos Solids em Portugal. O duo canadiano, composto por Xavier Poitras e Lois Guillemette, foi progredindo ao longo da sua actuação, impressionando pelo seu poderio sonoro emanar de apenas duas pessoas (às tantas parece que existe um baixo algures, mas não, a banda consegue soar bem, mesmo sem este estar presente). Em plena tour europeia, onde vêm apresentando o álbum Blame Confusion, a banda focou a sua actuação, como era expectável, neste seu primeiro álbum de originais. O rock alternativo marca a sonoridade da banda, onde se nota influências de bandas do mesmo género, nomeadamente aquelas que marcaram os anos 90, como por exemplo os Sonic Youth. Intercalando a sua agressividade com melodia – marcada por algumas partes mais pop –, o som da banda ganha ao vivo um novo formato, mais cru e agressivo do que em estúdio. Uma parede sonora que conseguiu cativar e impressionar os presentes, apesar de a voz ter estado algo inaudível, o que acabou por prejudicar um pouco a actuação da banda. Apesar disso, este ponto negativo não comprometeu um concerto recheado de excelentes momentos que marcou a estreia desta banda em Portugal, onde certamente serão bem-vindos da próxima vez que colocarem o nosso país no seu roteiro.