Calor, muito calor. Se calhar, foi esta a ideia que mais passou durante a noite na Galeria Zé dos Bois, no passado sábado, com o concerto do Benjamim. Mas ao menos estava uma casa cheia para sintonizar o Auto Rádio que passeou por Portugal de lés a lés este verão de 2015.
Com uma primeira parte feita por AP Braga, com a curiosidade, como ele próprio indicou de, “Há 50 anos fazia as primeiras partes do Zeca Afonso, agora faço as primeiras partes do Benjamim”, o ZDB escutou poemas Reinaldo Ferreira, mas o ponto alto foi mesmo o recordar do Zeca, com o tema “Chamaram-me cigano”. Foi um momento bonito e solene que preparou o público, para o concerto de Benjamim.
Quando os acordes de “Eu quero ser quem tu quiseres” começam a ecoar no mais acolhedor aquário do Bairro Alto, sabemos para o que vamos. Num ambiente com balões ao alto, amigos de Benjamim no palco, foi tudo muito fácil de entender. Mais do um álbum que andou em todo o lado, todo o verão, mais que a apresentação do álbum mais fofinho do ano, foi a celebração da música de amigos para amigos. Neste festim, há que recordar temas que nos fazem viajar no tempo e voltar aos tempos (pouco) saudosos da guerra colonial, como o Tarrafal ou O Quinito foi para a Guiné. Se por um lado podem ser sérios, por outro, há uma esquizofrenia alegre que nos confunde e faz dançar.
Para o transe geral, tanto da banda como do público estava guardado o Auto Rádio. Para além de dar nome ao álbum dá azo a voos instrumentais maiores do que aqueles que nós mesmos. Se houvesse momento mais fofinho do concerto, este ficaria entregue à performance do Volkswagen. Quem nos dera queimar gasóleo, não como a empresa automóvel, mas com todos os que estavam no concerto.
De novo ao palco, surgiu AP Braga, desta vez para tocar Rosie, um dueto fofinho que alegrou outra vez quem já tinha assistido à primeira parte do concerto. Já na recta final, claro que estava guardada Os Teus Passos, o single que levantou o véu do Auto Rádio. Foi daqueles momentos de energia positiva e que varreram de uma ponta à outra a ZDB.
“Esta é a nossa última música, e é mesmo a última. Porque não tenho mais”, despediu-se Benjamim com o Exílio. Posto isto, fica aqui a pergunta: Dá para fazer uma tour contigo, Benjamim?
Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Rita Justino
Promotor – Galeria Zé dos Bois
