Em Fevereiro do corrente ano, o primeiro disco de Mirror People aparece ao público. Passados 2 anos de árduo trabalho, as pistas de dança ganham uma nova cor. Voyager conta com a participação de músicos de diversas partes do mundo e guia-nos por diversos espaços temporais.
A 7 de Setembro saiu o novo single e vídeo-clip de Voyager – Dance The Night Away – com a participação do duo italiano Hard Ton. O Música em DX aproveitou a data para saber mais sobre Rui Maia e o seu projeto Mirror People.
Música em DX (MDX) – Porque tanto tempo de espera pelo álbum?
Rui Maia (RM) – Porque o álbum tem imensas colaborações de pessoas que vivem em continentes diferentes e demora um certo tempo a processar tudo, cada um tem as suas vidas e outros projetos. Com a troca de ficheiros para cá e para lá demora-se sempre algum tempo: às vezes enviava um instrumental e quando recebia a voz, a voz não colava bem com o instrumental, então tinha de reestruturar tudo, aconteceu isto algumas vezes. A maior parte dos temas tiveram 4 ou 5 versões diferentes, então tinha de pegar outra vez em tudo de raiz e mudar até achar que estava de acordo com o que eu tinha em mente e isso leva o seu tempo, naturalmente. Tentei ser o mais perfeccionista possível.
MDX – Numa entrevista que deste ao Público disseste que “procuraste a luz” enquanto trabalhavas no álbum, conseguiste encontrá-la?
RM – Não me lembro bem o que quis dizer com isso, mas quando estou a fazer uma canção e acho que a canção está pronta não há uma explicação lógica para isso acontecer. Há qualquer coisa aqui dentro que dá um click e eu acho que a canção está pronta. Ou seja, o processo de fazer uma canção pode nunca mais ter fim, podes nunca estar satisfeito. Tu tens de por um travão nas coisas e dar por finalizado. A verdade é que para este álbum, na altura em que o comecei a construir, alcancei uma certa maturidade e comecei a ter mais noção do que é que as músicas pedem a meu ver, se calhar a luz vem daí, vem de chegar a uma maturidade em que já não facilito tanto e já não faço tantas coisas “á balda”.
MDX – As pessoas que colaboraram contigo, eram sonhos antigos?
RM – Foram pessoas com quem trabalhei no passado e com quem tenho algo em comum, temos mais ou menos o mesmo estilo musical. A maior parte dos colaboradores são vocalistas e tenho sempre muita dificuldade em encontrar alguém para cantar, é muito difícil. Eles pareceram-me escolhas óbvias visto ter trabalhado no passado com a maior parte, foram logo as primeiras pessoas de que me lembrei e foi uma espécie de troca imaginária de trabalhos: tipo “ok, eu faço isto para ti e no futuro fazes algo para mim”, e é um bocado esse o pagamento, não existe pagamento monetário, há uma afinidade entre todos e faz sentido que assim aconteça.
MDX – Com quem é que gostavas de trabalhar mais?
RM – Imensas pessoas, óbvio. Com o Brian Eno gostava muito. Há imensas pessoas que admiro muito, mesmo fora da dance music… Eu costumo dizer que se tivesse de escolher uma banda para fazer parte, seria Wilco porque são uma banda ultra competente, bons músicos e com uma forma de estar mesmo boa. Sou fã de música, gosto de música e gosto de ler imensas biografias e ver documentários e então há muitas pessoas que eu admiro mesmo.
MDX – O que tens achado da crítica e das reações ao álbum?
RM – Estou bastante satisfeito. Ainda estou a trabalhar o disco e quero continuar a trabalhá-lo no próximo ano, mas estou bastante satisfeito. As reviews foram boas e a aceitação geral também, tivemos concertos importantes e em festivais bons e isso é reflexo de alguma coisa. Estou mesmo contente com o resultado do disco e ainda quero continuar a promove-lo, ainda tenho mais planos e acho que melhor do que isto só uma tour mundial ou parecido. Mas para já estou bem assim.
MDX – Relativamente ao título do álbum, personifica o trabalho e o percurso que estão por trás do disco?
RM – Sim e também a atmosfera do disco, imaginar aquilo na minha cabeça como sendo uma viagem, com uma nave espacial a passar os planetas, etc… Mas também pelas colaborações de várias pessoas.
MDX – E em relação à capa, porquê o espelho partido?
RM – Eu deixei o artwork um bocado à imaginação do Lord Mantraste que foi quem tratou dele. Não sei exatamente porque é que está partido, gosto da ideia que ele teve. Óbvio que ele partiu do título do projeto – Mirror People – e de ser o reflexo da própria pessoa, porque isto é um projeto a solo. Mas o facto de estar partido pode deixar alguma curiosidade e acho que é isso, para ficar o suspense no ar.
MDX – És tu que pensas os vídeo-clips?
RM – A maior parte dos vídeos já “estavam feitos”. Normalmente o que eu faço é ir à descoberta de imagens e depois contacto os realizadores e peço permissão para usá-las e os vídeos são feitos dessa forma. Tento dar imaginário ao vídeo para colar bem com a música, como espirito da música. Tento que funcione bem e que também transmita um bocado o meu universo para aquela canção.
MDX – E a escolha dos filmes é aleatória ou são filmes com significado para ti?
RM – A escolha não é bem aleatória, vai mais no seguimento do que estava a dizer, de achar que as imagens ou o ambiente funcionam bem ali, naquele contexto. Eu uso os filmes dessa forma mas depois tudo depende dos realizadores porque alguns não autorizam e ai não dá para usar.
MDX – Como escolheste o nome Mirror People?
RM – Em 2009 tinha um EP na Optimus e dei-lhe o nome de Mirror People e quando decidi deixar de trabalhar em nome próprio e começar a usar um nome de banda, Mirror People soou-me sempre bem e quis usar o nome para dar ao projeto de banda. É um nome que sempre me soou muito bem e pensei “porque não?” confundir um bocado as coisas: ter um EP Rui Maia de nome Mirror People ou ter um EP Mirror People de nome Rui Maia? Não existe propriamente um significado para a escolha do nome, o nome vem de uma música dos Love and Rockets, uma banda que eu gosto imenso. Fiz mesmo uma busca de nomes de ir aos Cd’s e ver o alinhamento, o nome das músicas… e foi assim que cheguei a Mirror People.
MDX – Mirror People, X-Wife, DJ, com que projeto o Rui Maia se encaixa mais?
RM – São todos projetos diferentes, fazem todos parte da minha personalidade. Os X-Wife são uma banda rock com elementos eletrónicos enquanto em Mirror People apesar de ser só eu, tenho bastantes colaborações, e a sonoridade é mais virada para o disco sound já o meu projeto a solo como Rui Maia tem uma vertente muito mais clubbing e não tão pop como Mirror People. Tento separar bem as coisas, às vezes é difícil porque sou eu que estou a fazer e, nesse caso, entre Mirror People e Rui Maia torna-se complicado. Eu gosto dos três projetos e cada um tem a sua força e cada um resulta bem dentro do universo em que se move.
MDX – Como decidiste criar Mirror People?
RM – Senti que precisava de uma continuidade. Precisava de abrir mais o horizonte da minha carreira e pensei que ter um nome de banda ou nome de projeto pudesse abrir mais portas do que estar a usar o meu nome pessoal, foi essa a razão.
MDX – Percorreste a maioria dos festivais do país, chegas ao fim do verão com uma sensação de realização, de dever cumprido?
RM – Sinto que as coisas estão a correr bem. Sinto, também, que é preciso continuar a trabalhar e não deixar a coisa morrer, há sempre imenso para fazer e há muito mais coisas que podem acontecer. Acho que o percurso está a ser bem percorrido e está a ser percorrido como deveria ser sempre. Estou contente tanto do lado da aceitação do disco como o lado dos concertos ao vivo. O projeto também foi mudando um bocado, fui tentando limá-lo. Agora ao vivo existem 2 versões: existe a versão com banda que são 4 elementos – bateria, baixo, voz e eu na parte eletrónica – e a versão duo que sou eu e a Maria do Rosário, ela na voz e eu nos sintetizadores. Mas estou contente com tudo o que está a acontecer.
MDX – Onde gostaste mais de tocar?
RM – O último concerto como banda no NOS em D’bandada no Coliseu do Porto, gostei imenso. Primeiro porque nunca tinha tocado no Coliseu do Porto, sendo eu de lá. Gostei da aceitação, o Coliseu estava cheio, estava um ambiente de boa festa e a coisa correu muito bem. Fiquei mesmo contente, acho que foi muito bom para o projeto.
MDX – Onde te vês daqui a 10 anos?
RM – Vejo-me a fazer música. Já faço isto há uns anos e acho que é o que sei fazer melhor. Vejo-me a fazer música, se calhar com outros projetos, naturalmente. Se possível a produzir coisas e acho que vai ser isso que vai acontecer.
E assim esperamos Rui, que continues a criar e a produzir como tão bem sabes fazer. Aguardamos novas viagens.
Entrevista por – Eliana Berto
Fotografia – Valentina Ernö (Silvana Delgado)