Dias antes de mais uma edição do Jameson Urban Routes e enquanto os PAUS gravam o novo disco em estúdio, o Música em DX foi visitá-los ao HAUS e conversou com Fábio Jevelim, Hélio Morais e Makoto Yagyu sobre o presente e o futuro.
Música em DX (MDX) – Como surgem os PAUS?
Hélio – As primeiras conversas surgiram no final de 2008 à volta dum bombo e duma bateria com o mesmo bombo. Fez-se um ensaio assistido numa exposição da Mariana Dias da Cunha em que eu e o Quim convidamos o Makoto e o Shela, na altura, mas não fizemos nada de jeito, isto foi em Novembro ou Dezembro e nunca mais pegámos naquilo. Só uns 6 meses mais tarde eu e o Quim resolvemos ir tocar os 2 um bocado e fizemos um beat ou 2 a que achámos piada. Fomos ter com o Makoto e gravámos. O Makoto pôs um baixo, o Shela pôs um teclado, fizemos isto tudo num dia, pusemos umas vozes e depois pensamos “bem, bora marcar mais uns dias a ver se conseguimos fazer mais 3 músicas em mais 3 dias” e fizemos mais 3 músicas em mais 4 dias e depois decidimos lançar o EP e tivemos que aprender a tocar aquilo. Foi assim que começámos.
MDX – Até onde é que querem ir?
Hélio – China.
Fábio – Eu ia até ao Japão.
Makoto – O Mali também dava. Bem, não pensamos muito nisso, vamos vivendo um dia de cada vez, ir fazendo música, discos, ir dando concertos. Não há grande objetivo. Não projetamos muito o futuro, vamos fazendo as coisas, sabemos que temos de fazer discos e de tempos a tempos dar uns concertos e não nos queixamos, é muito bom.
Fábio – Eu acho que tu queres chegar sempre ao próximo álbum, é sempre o objetivo de todos os álbuns, é chegar ao próximo. Se houver pessoas a gostar e a querer que vamos tocar a algum lado, perfeito.
Hélio – Sim, porque acabas de gravar este e depois começas a deixar de gostar dele passado 2 meses e portanto queres fazer outro. Enquanto for assim é bom sinal. Queremos ir até onde gostávamos de ir juntos, basicamente.
Fábio – Nem é não gostar dele, é mais já o teres tocado tantas vezes e já teres ouvido tantas vezes que queres já chegar ao próximo.
MDX – Porquê a bateria siamesa?
Hélio – Eu e o Quim tocávamos bateria os 2. Ainda que o Quim fosse mais conhecido por ser vocalista dos Vicious Five, era baterista antes de ser vocalista, inclusivamente de Vicious Five (no primeiro EP ele gravou a voz e a bateria). Ele estava com vontade de tocar bateria outra vez e, por outro lado, o que eu fazia melhor era tocar bateria. Foi basicamente começarmos a fazer música juntos, uma vez que nunca o tínhamos feito. Já nos conhecíamos desde a onda punk hardcore desde 96 ou 97, mas a verdade é que nunca tínhamos tido uma banda juntos e surgiu ali na altura. Estávamos os 2 com tempo livre para falar da vida e pronto.
Fábio – E acharam que era uma muito prático ter 2 bateristas numa banda a nível de logística.
MDX – Qual é a sensação de andarem a circular pelo mundo inteiro?
Hélio – Normalmente a sensação é de cansaço e de se comer muito mal fora de Portugal, mas ao menos estamos a fazer isso com a família e essa é a parte boa da coisa. Divertimo-nos imenso nos concertos, dizemos imensa porcaria juntos e damo-nos bem. Se fossemos uma banda que fosse uma empresa se calhar não tinha piada e se calhar é por isso que as bandas acabam: quando se deixam de dar enquanto um grupo de amigos e se começam a dar enquanto empresa, porque não é uma vida fácil nem glamourosa como há pessoas que idealizam. Ainda agora fizemos uns quantos quilómetros, fomos de carrinha para França, demos 3 concertos e voltámos. Não é uma coisa que tu faças se não gostares mesmo.
Makoto – Já nos proporcionou bastantes viagens interessantes e incríveis. Temos feito maioritariamente Europa e na Europa é tudo igual, as capitais são todas iguais… O mais exótico que fomos foi ao México. Foi muito bom, nunca tinha ido e poder ir com amigos é muito bom. Fizemos a travessia para os Estados Unidos. Já tivemos algumas peripécias interessantes e se não fossemos PAUS se calhar não tínhamos feito… Gostava de ir à Asia. É um mundo e um ambiente completamente diferente. Africa também, mas é um bocadinho mais complicado.
Fábio – Sim, não tínhamos ido a certas cidades onde fomos tocar se fossemos como turistas. É giro conhecer essas cidades, só tens é sempre pouco tempo para ver, nunca dá para ver muito bem, mas é giro conhecer. Fizemos a travessia do México para os Estados Unidos de carro com um condutor que trazia leite em pó para os bebes e foi parado. Foi engraçado, mas era mesmo leite em pó.
Hélio – Claro que fomos mandados parar e tivemos que esperar bastante tempo. Os americanos que iam connosco só precisaram de mostrar a identificação e nós é que tivemos de passar um bocadinho mais de tempo na fronteira.
MDX – Porquê “Mitra”?
Hélio – O nome mitra não é no sentido “chunga”. Mitra não é significado de “chunga”, é uma apropriação. Nas mitras dava-se abrigo aos mendigos, aos errantes da vida. Por outro lado tens múltiplos significados de mitra que foram aparecendo com o passar dos anos. No nosso caso, mitra é uma pessoa desenrascada, é um fura-vidas que se vai imiscuindo na sociedade e vai tendo atitudes ou ideias um bocado diferentes mas vai-se infiltrando aos pouquinhos um bocado em todo o lado.
Makoto – É uma pessoa que se desenrasca, não pára em lado nenhum, não faz parte de lado nenhum mas faz parte de todo o lado e consegue-se ir encaixando.
MDX – E a gravação está a correr bem?
Hélio – Está. O estúdio está a soar muito bem, o que é fixe. É o primeiro álbum de raiz que estamos aqui a gravar.
Fábio – As coisas estão a correr bem. Pensámos mais em tudo: na construção do som para na mistura já termos uma visão melhor, visto que é o Makoto que está a misturar, depois estivemos ali a explorar a sala que é nova para nós, com material novo também. A sala tem umas características muito boas para PAUS que nós não sabíamos e só quando começámos a gravar é que conseguimos perceber. Então tem estado tudo a correr muito bem, um bocado mais cauteloso porque estamos com novas informações e novos métodos de trabalho.
MDX – Qual é a vossa opinião sobre o festival Jameson Urban Routes?
Hélio – Vamos saber no sábado. Mas é fixe, todos os anos o festival tem bandas boas e tem um cartaz bem feito para além de nunca termos ido ao MusicBox.
Makoto – Jameson não deve faltar, logo, por ai, tem tudo para correr bem.
Fábio – A Jameson associa-se sempre a concertos e eventos engraçados. Tem um target de investimento artístico com que pessoal como nós se identifica.
MDX – Vão filmar o primeiro clip lá?
Hélio – Vamos. Não podemos é dizer de que forma mas isso as pessoas depois descobrem lá.
Fábio – Vai ser filmado e depois editado.
MDX – Para além disso estão a preparar mais alguma surpresa? Quais são as vossas expetativas?
Fábio – Acho que vai ser fixe, vai ser a primeira vez que lá vamos tocar e é sempre engraçado. Nós gostamos do Musicbox. A nível de surpresas vamos ver se o Makoto faz um stage dive uma vez que, desde que entrei para Paus, nunca o vi fazer nenhum. Tocar músicas novas, nunca se sabe, se calhar sim, se calhar não. Também temos estado focados em acabar as gravações do álbum e anda um bocado difícil a gestão de tempo para fazermos coisas diferentes, mas vamos dar um grande concerto porque andamos a tocar muito.
Makoto – Eu gosto muito de tocar lá, já lá dei um dos melhores concertos da minha vida.
Certamente que irá ser um grande espetáculo. O concerto de PAUS no Jameson Urban Routes é no Sábado, dia 24 de Outubro, e o lançamento de “Mitra” está previsto para Fevereiro de 2016.
Entrevista – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa