Na passada quinta-feira, deu-se início a mais uma edição do Festival indoor Jameson Urban Routes.
A entrada era livre e o Musicbox Lisboa dedicou este dia à celebração da música portuguesa. Para a cerimónia, a sala de paredes de pedra encheu-se de pessoas de todas as idades e convidou Cave Story, Galgo e Pega Monstro para se juntarem à festa.
Não deixando de soar estranho, os Cave Story abrem a noite. Estranho porque foi, sem dúvida, a atuação da noite, merecendo outro tipo de horário. Sendo uma das bandas revelação do corrente ano, os rapazes das Caldas da Rainha mostram-se donos de uma congruência instrumental capaz de cativar até os mais sépticos. A progressão das danças entre o baixo e a guitarra metodicamente encaixadas em riffs que tanto têm de melódicos como de crus trazem a estes meninos uma originalidade e força que se vê pouco.
Pela quase meia hora de concerto, assistiu-se a mosh, à guitarra a voar por entre o público que, furiosamente, contribui para a distorção e arrastamento criados no momento. “Richman”, “Southern Hype” e “Fantasy Footbal” originaram reboliço e as faixas novas “Prime Time” e “NNNN” criaram sede de mais.
Os novos e acarinhados Galgo viriam acalmar os ânimos no seguimento. A sua característica principal é aposta no experimentalismo entrelaçado com o psicadelismo. A voz, quase inexistente, quando aparece, mal se percebe. A aposta na distorção reina.
Com o EP5 acabado de sair, os Galgo concentram-se na exploração do mesmo, ouvimos “Torre de Babel”, “Trauma de Lagartixa”, entre outras. Os sintetizadores e as guitarras psicadélicas galgam num sistema de loops demasiado repetitivo e monótono. O investimento no mundo psicadélico é bom e faz-nos viajar de olhos fechados. Contudo, fica a sensação de que não chegamos ao fim da viagem porque pelo caminho vamo-nos dispersando no vazio.
Um dos concertos mais aguardados da noite vinha a seguir, eram as Pega Monstro. Estas irmãs não partilham apenas o mesmo sangue, partilham o gosto pelo punk e pelo caos e interligam-se numa sintonia perfeita.
A bateria, com um pedal extremamente punk e uma energia brutal que garante headbanging na sua plenitude, remete para o movimento punk saído do final da década de 70 em Portugal relembrando que o punk não morre. Nem a sua mensagem! Que se enquadra sempre em qualquer tempo.
A ideia destas irmãs é criar algo de diferente e fazerem o que lhes está enraizado na pele. Contudo e, apesar de ter sido um concerto explosivo e cheio de magnetismo cru, o resultado ao vivo afasta subtilmente o fascínio pelo resultado em estúdio. A voz, demasiado distorcida, mal se percebe, dando apenas um ar de ser mais um elemento de ruído existente.
Do alinhamento fizeram parte “Branca”, “Braço de Ferro”, “Estrada”, “Amêndoa Amarga” entre outras faixas do novo álbum – Alfarroba– e também “Partir a Loiça” e “Cachupa”.
Resta dizer que apenas com uma guitarra e uma bateria se pode criar o caos entre o público e fazer boa música. O concerto foi marcado por mosh constante e vontade que não chegasse ao fim.
No seguimento da noite e, para não irmos para casa sem abanar a anca, no clubbing tivemos o Francês Pilooski conhecido por mixar músicas dos anos 50, 60, 70, resultando em boas energias e ritmos suavemente apetecíveis. A cabine foi partilhada com Magazino, o Dj Lisboeta, referência no mundo electrónico português.
Chegados ao fim da primeira noite de Jameson Urban Routes, podemos concluir que a música portuguesa se recomenda. Não há lembrança de um momento com tanta qualidade e diversidade de música em Portugal como a realidade com que nos deparamos no momento e o Musicbox contribui, em muito, para esta divulgação.
Reportagens dos restantes dias do festival:
Dia 23 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 23, BEATS QUE ENCHEM A ALMA
Dia 24 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 24, EXPLOSÕES DE PERCUSSÃO
Dia 30 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 30, E AO QUARTO DIA RESSUSCITOU!
Dia 31 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 31, CÁPSULA ORBITAL
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Musicbox Lisboa