A 4ª noite da maratona outonal a que o Musicbox Lisboa já nos vem habituando desde 2009, criou-nos grandes expectativas, não fosse esta noite estar esgotada praticamente desde que os bilhetes foram postos à venda. Num misto entre bandas nacionais e estrangeiras esta foi uma noite cheinha de muito e bom rock e alguma electrónica!
Vindos da cidade invicta (Porto), e trazendo um campo de girassóis com eles, a Carolina (bateria) e o Carlos (guitarra e voz) arregaçaram mangas e calças e oferecem-nos mais de uma dúzia de temas punk-rock. Com os canudos encaracolados sobre os olhos e uns calçanitos tigrados, Carlos abraça a guitarra com furor e entre temas, vai partilhando as novas músicas que estão para download. A Carolina, a fazer lembrar a actriz e activista norte-americana Patricia Arquete, movimenta energeticamente os braços fazendo brilhar o loiro da franja caída sobre os olhos. Conteúdos exclusivos do underground way (“They’re trying to poison the shit I drink And they are trying to control the way I think (…)” , UFO, s/t EP), numa postura light de surf rock garage. A dupla The Sunflowers do Porto sem sotaque nortenho, foi um excelente aquecimento para a banda francesa tão aguardada pelo público (La Femme), e para uma noite que prometia muita dança efusiva.
A sala foi enchendo a tal ponto que quando os La Femme tocam os primeiros acordes, havia pessoas quase a meio da Rua Nova do Carvalho a assistirem ao concerto! A energia contagiante de Sacha Got (teclas/voz), Clémence Quélennec (voz/teclas), Marlon Magrée (guitarrista/teclas/voz), Sam Lefevre (baixista) e Noé Dalmas (baterista), arrebatou qualquer um que estava naquela sala.
“Psycho Tropical Berlin” (2013) o único CD da banda de Biarritz e algumas músicas novas, incendiaram o público que não conseguia parar de pular nem de dançar, ao ritmo do psych-punk, groove, new wave, o que quiserem! Atrevidos no scotch que acompanhavam com cigarros, nuns “filhós da putá” a bons pulmões (tema Anti Taxi) e numa sugestiva canção para “fumar maconha”, foi o bastante para um grande concerto. A suavidade e o charme de Clémence (boina preta francesa já conhecida nas suas actuações) joga na perfeição com a irreverência de Sacha e com a genialidade de Marlon. O palco do Musicbox foi de facto pequeno para estes grandes jovens músicos, que ao longo da actuação iam assimilando e devolvendo a energia que o rendido público lhe oferecia (“óbrrigadô!”) Num agradecimento mútuo (nosso e deles) voltam ao palco duas vezes e, no último encore, entre imagens parisienses arrastam quinze minutos numa espécie de improviso que leva o público novamente ao rubro!
Xinobi tinha a difícil tarefa de manter os sorrisos felizes nos corpos em ebulição, deixados pelos La Femme. Mas não duvidámos da capacidade do Bruno, do Jibóia e da Ana e companhia em manter o público em alta. Vestidos de preto com traços também negros no rosto, o trio de cordas foi incrível com a sua actuação puramente instrumental (CD “1975”), a fazer-me lembrar os franceses Rinôçérôse.
De registar, fica a produção do palco associada (luzes e imagens) aos dois momentos distintos, um em que tocavam somente as cordas e o outro onde se juntava a voz sensual de Ana Miró. No primeiro a escassez de luz e de imagens (praticamente), e o segundo com a palavra Xinobi projectada no ecrã em efeito persiana, com luz branca a incidir nos cabelos esvoaçantes da menina.
A electrónica chegou para terminar a noite e com a sala a esvaziar, Hyenah deu o seu melhor para alguns que teimavam resistir. Quando saímos, chegava o 2º turno de público, muito provavelmente para dançarem ao som de Mike Stellar (Miguel Belo) que fechou esta quarta noite do Jameson Urban Routes.
Reportagens dos restantes dias do festival:
Dia 22 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 22, O QUE É NACIONAL É BOM
Dia 23 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 23, BEATS QUE ENCHEM A ALMA
Dia 24 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 24, EXPLOSÕES DE PERCUSSÃO
Dia 31 – JAMESON URBAN ROUTES’15 DIA 31, CÁPSULA ORBITAL
Texto – Carla Sancho
Fotografia – Miguel Mestre
Promotor – Musicbox Lisboa