Bamboleio é o nome do primeiro álbum dos PISTA, que chega dois anos após o lançamento do homónimo EP de estreia. O trio, composto por duas guitarras e uma bateria, tocadas respetivamente por Cláudio Fernandes, Ernesto Vitali e Bruno Afonso, apresenta dez faixas inevitavelmente esculpidas à força de guitarras, que são claramente as protagonistas do fonograma.
E de outra forma não poderia ser, uma vez que as vocais, nas faixas em que existem, aparecem em segundo plano, seja por figurarem apenas como coros – Sal Mão, por exemplo – ou simplesmente por não aparecerem destacadas na mistura – como em Queráute -, caso em que se aproximam estilisticamente da abordagem vocal do pop/rock português dos anos 80.
A energia com que o álbum abre (Ar de Inverno) remete imediatamente para tempos áureos do rock, especialmente por uma certa crueza do som, opção de produção que é muito bem-vinda num momento em que o mundo da música é ameaçado por um ultra-perfecionismo sonoro uniformizador e avesso à dinâmica e ao organicismo. Mas esta familiaridade causa também a vontade de ouvir uma voz liderar os temas. Quase parece que a banda foi para estúdio gravar mas o vocalista não pôde ir nesse dia.
Os Pista são, não obstante, mais que uns The Shadows com energia à MC5 e disciplina digna de rock progressivo. Há uma multiuniversalidade que perpassa pelo álbum, como se as últimas décadas de música estivessem condensadas num cocktail servido num copo contemporâneo, a que não faltam incursões por ritmos: tropicais, que lembram uma certa fase de Talking Heads (A Tal Tropical, com uma sonoridade de inspiração centro africana e o fantasma vocal de António Variações pairando no ar); especificamente africanos (3-0); nacionais populares (na faixa que dá o nome ao álbum); ou de filiação alemã (novamente Quéraute, aportuguesamento de Kraut).
Será este primeiro álbum um conjunto de músicas mais ou menos aleatório ou um set que promete assegurar animação em qualquer concerto? Talvez ambas as coisas, talvez uma de duas, talvez mais do que está ao ouvido. Alea jacta est.
Texto – Pedro Raimundo
Fotografia (Capa) – Vera Marmelo