Desde 2013 que o público pode votar naqueles que considera serem os melhores festivais de música em Portugal. Tal é possível por iniciativa do Portugal Festival Awards, que teve este ano a concurso cerca de 140 festivais, contabilizando entre si mais de 2,3 milhões de espectadores.
Para além de poderem votar os melhores festivais nas categorias de Melhor Cartaz, Contribuição para a divulgação da música portuguesa, Festival mais sustentável, Melhor Comunicação, Contribuição para o turismo, e, Melhor ativação de marca, foi também possível votar os artistas em três categorias diferentes, nomeadamente, Melhor Actuação ao Vivo Artista Internacional (Blur, Chance The Rapper, Muse, Nicolas Jaar e Tame Impala), Melhor Actuação ao Vivo Artista Português (Batida, Carlão, Diabo na Cruz, PZ e Regula, e Melhor Actuação ao Vivo Artista Revelação (Da Chick, Duquesa, Golden Slumbers, Isaura e Thunder & Co.).
A escolha dos vencedores é feita pelo público, através de votação online, e por um júri do qual fazem parte diversas personalidades públicas de reconhecido trabalho na indústria da música. Foi neste contexto que desafiámos uma das juradas, Ana Teresa Ventura, jornalista de mérito na área da música. Uma entrega e dedicação na imprensa escrita (uma década no Blitz), na televisão na SIC Radical acompanhando alguns dos mais emblemáticos festivais de música (destaque Rock In Rio), e na sua própria rubrica “M de Música” na SIC Mulher. Ana teresa Ventura aceitou o nosso desafio de imediato, demonstrando sempre disponibilidade e simpatia. Obrigada Ana!
Música em DX – Qual foi o momento ou os momentos que determinaram a tua carreira no jornalismo de música?
Ana Teresa Ventura – Talvez optasse por referir uma data: 26 de Janeiro de 1998, o dia em que entrei pela primeira vez na redacção do jornal Blitz. Lembro-me que, nessa semana, os Pearl Jam estavam na capa do, então, semanário, marcando o início do meu percurso naquela casa, que se tornou o meu lar e a minha maior escola. Foram os ensinamentos aí acumulados que levei para a minha aventura seguinte, quando comecei a colaborar com a SIC Radical nas emissões dos festivais de Verão, uma tarefa que me dá um prazer enorme e que, ano após ano, nunca deixa de ser desafiante. E, porque não há uma sem duas, outro momento marcante foi o arranque da minha rubrica – o M de Música – que está no ar, na SIC Mulher, desde 2010. Esta vida, porém, também tem sido feita de pessoas, as que fazem a música que gera o ponto de partida para esta aventura. Aí, poderia enunciar uma mão cheia de marcos: o dia em que entrevistei o Zé Pedro pela primeira vez, a primeira passagem de Madonna por Portugal, os três concertos dos Nine Inch Nails em Lisboa, a entrevista aos Jane’s Addiction, em Nova Iorque, ou o telefonema (cheio de gargalhadas) com o Dave Grohl. Havia tantos outros…
Música em DX – Fazendo uma avaliação da tua trajectória, o que te deu o passado que te diferencia hoje como profissional na área da música?
Ana Teresa Ventura – O facto de ter começado na imprensa – quando o boom da internet ainda não tinha acontecido e tínhamos, efectivamente, que esperar pelas terças-feiras para descobrirmos as principais novidades musicais – fez toda a diferença. Mostrou-me um jornalismo distinto, onde a noção de notícia passava por uma investigação cuidada, muito longe do imediatismo actual. Ao longo dos anos, tudo mudou e muito: ter acompanhado e coordenado os primeiros anos da revista Blitz acabou, sem eu estar à espera, por me preparar ainda mais para o derradeiro desafio, que foi a mudança (brutal) de linguagem, quando comecei na televisão. O que me parece que me distingue é, precisamente, a experiência em dois media diversos e a vontade de querer fazer sempre mais. E melhor também.
Música em DX – És uma das juradas do Portugal Festival Awards 2015. Queres falar-nos um pouco como surgiu o teu envolvimento neste evento?
Ana Teresa Ventura – O convite – que foi, claro, recebido de braços abertos – surgiu no ano passado, quando a organização dos PTFA me contactou. Vivendo festivais há tanto tempo (quer em trabalho quer em lazer), na minha perspectiva, era irrecusável. Até porque os PTFA fazem todo o sentido: a indústria dos festivais movimenta milhares de pessoas, em todo o país. Reconhecer e premiar quem os leva até nós é mais do que merecido.
Música em DX – Os músicos nomeados são de géneros musicais distintos, o que torna a escolha mais difícil! Fala-nos um pouco dos nomeados e dessa dificuldade, se é que ela existe para ti?
Ana Teresa Ventura – O que torna um concerto um momento único tem muito pouco a ver com género musical. Aquilo que, enquanto espectadora, mais procuro é o elemento surpresa: isso só pode acontecer num festival. Perco a conta ao número de vezes em que me cruzei com artistas/bandas dos quais pouco ou nada conhecia (ou até que não me agradavam sobremaneira) mas que fui “espreitar”, porque estavam num line-up de um determinado evento. Se pegarmos numa categoria como a de artista revelação, por exemplo: claro que o lado estival de Duquesa será diferente da explosão de Da Chick ou da electrónica de Thunder & Co. Se isso torna a escolha mais difícil? Claro que não. Um concerto é muito mais do que música: é uma experiência irrepetível, onde público e palco se tornam um só. Ah, e, claro, para isso acontecer, não são precisos efeitos especiais nem balões nem serpentinas. Basta apenas aquilo que nos levou, a todos, aquele lugar. Já disse que é a música?
Música em DX – O melhor e o pior da música internacional que ouviste nos últimos tempos?
Ana Teresa Ventura – Sabem qual é o grande feitiço da música? Ser como uma espécie de observação feita com a alma: o que eu “vejo” é completamente diferente daquilo que a pessoa que está imediatamente ao meu lado vai “ver”. Parece cliché mas é a mais pura da verdade: os gostos não se discutem. E, porque sou uma eterna optimista, acredito sempre que um determinado artista ou projecto, um dia, me poderá surpreender. Coisas boas – e recentes – da música, em geral? O regresso em força do vinil (o que eu me tenho que conter para não gastar pequenas fortunas é uma tarefa hercúlea). Também sou adepta dos serviços de streaming – o que me leva, inevitavelmente, a uma das piores realidades actuais: as dificuldades que os artistas passam por não serem pagos, como deveriam, de facto, ser, pela música que fazem e que nós ouvimos. Talvez seja por isso que continuo a gostar tanto de ir a concertos e a festivais: é possível que, um dia, o deixe de fazer mas não me parece que isso esteja para breve!
Recordamos, a cerimónia de entrega do Portugal Festival Awards 2015 realiza-se no próximo dia 17 de Novembro, 3ªfeira, no Cinema São Jorge em Lisboa, e as entradas encontram-se esgotadas.
O Música em DX é parceiro oficial de comunicação do Portugal Festival Awards, para mais informação sobre o evento consulte toda a informação existente no nosso website.
Entrevista por – Carla Sancho
Fotografia (Capa) – Edgar Keats