Silêncio. Foi assim que começou o concerto de Tiago Bettencourt no Coliseu dos Recreios em Lisboa. A homenagem sincera às vitimas de Paris, sincera e estrondosa – não é todos os dias que assistimos a um Coliseu cheio sem quaisquer sinais de ruído – deu início à consagração de um dos melhores cantautores da actualidade.
Com um dinamismo entre o piano e a guitarra, vemos o Tiago a saltar sempre de um lado para o outro, para tocar “Espaço Impossível” ou “Largar o que há em vão”, isto no começo. Provas que sustentam a tese que não vem só para apresentar o novo álbum, “Do Princípio”.
Já são muitos anos de Bettencourt, e é com uma facilidade incrível que verificamos que o tempo passa rápido. Quem diria que a “Canção Simples” já tem oito anos? É com a maior leveza (cedida gentilmente pelas vozes femininas presentes na plateia) que ouvimos o refrão “fazes mais que o sol”.
Se Ameaça, Fúria e Paz e Sara (próximo single), figuraram no concerto como integrantes do novo álbum, um dos momentos foi a subida ao palco por parte da Inês Castel-Branco para cantar o “Se Cuidas de Mim”. Momento para contar mais tarde aos netos.
Com músicas tocadas a pedido (durante a semana), como o “Sol de Março”, “Do Princípio” ou “O Lugar”, claro que não podia faltar o “Pó de Arroz” ou a “Canção de Engate”. Canções que tanto homenageiam dois dos melhores músicos portugueses como também mostram créditos para o Tiago que demonstrou ter capacidade para a reinterpretação dos mesmos.
Com um concerto que durou cerca de duas horas e meia, a caminhar para a recta final, não faltaram os convidados. Neste caso, Paulo Gonzo foi o primeiro a surgir, para interpretar “Maria” e “Ser Suspeito”.
“Carta”, se calhar a canção (ou das) mais conhecida de Tiago e “Morena”, que porventura será a canção mais conhecida deste novo álbum, fecharam o concerto no Coliseu com o público a aplaudir de pé. Ao alcance de poucos.
No regresso para o encore, veio acompanhado pela Márcia. Com o modo “à vontade e à vontadinha” ligados, os dois presentaram-nos com o “Se me aproximar”. Como se não fosse suficiente, “A Insatisfação”, que está presente no último trabalho de Márcia, foi-nos tocado num tom muito sui generis.
A destacar também o Aquilo que não fiz, que mostra um Tiago quase a entrar num registo interventivo. A fechar a noite, ainda houve tempo para conceder dois últimos pedidos. “Eu Esperei” e “Chocámos Tu e Eu” fecharam uma noite daquele rapaz que para além de ser poeta se consagrou naquela noite como um dos maiores embaixadores da música portuguesa.
Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Everything is New