Pergunta: Será que é possível deixar o Paradise Garage quase cheio numa terça-feira à noite? Sim, se forem os Gamma Ray a tocar. O quarteto germânico, instituição do Power Metal mais musculado, teve um regresso triunfal a Portugal no âmbito da sua digressão de 25 anos de carreira, assinando um concerto nada mais do que irrepreensível, uma celebração de tudo o que representa este género musical.
Devido a uma impossibilidade logística, não deu para assistir senão à última música dos Neonfly, não sendo, portanto, formular uma análise justa à prestação da banda inglesa. Kudos, ainda assim, ao capacete de plumas que um dos guitarristas estava a usar.
Seguiram-se os Serious Black, projecto que felizmente tem mais qualidade do que o seu nome foleiro sugere, sendo composto por músicos com algum pedigree que o tornam numa espécie de superbanda série B. Sem o teclista Jan Vacik nem o baterista Thomen Stauch, substituído pelo muy competente Alex Holzwarth (teria sido, no entanto, agradável ver o ex-Blind Guardian mostrar como se faz), a banda mostrou Power Metal agradável, se bem que olvidável perante a masterclass que se seguiria. Urban Breed mostrou todo seu alcance vocal, mas pareceu algo contido, como se não conseguisse dar tudo em palco e a falta dos teclados foi pobremente substituída por um backtrack que deu um caracter algo desconexo à performance. Ficam, todavia, na memória, a medley de I Was Made for Loving You/Rock You Like a Hurricane e a orelhuda High and Low.
Chegava então a derradeira hora. O repto fora lançado com Bad Reputation, de Joan Jett, ecoando na sala até dar lugar a um coro de aplausos pelo regresso de Kai Hansen e companhia a Portugal, agora a sério e não para tapar buracos como no Vagos 2013. Como é expectável neste tipo de tours de aniversário, o alinhamento pautou-se por uma sábia escolha de temas ao longo de toda a carreira dos Gamma Ray, conseguindo mesmo extrair com mestria as melhores canções dos desinspirados álbuns mais recentes dos alemães. Escusado será dizer que Hansen também aproveitou para ir buscar temas dos Halloween ao baú, apresentando I Want Out para fazer as delícias dos fãs mais veteranos (com um interlúdio reggae, a demonstrar a veia brincalhona da banda). Foi, no entanto, com um clássico gloriosamente ortodoxo do seu primeiro álbum que o grupo começou logo por ter o Paradise Garage na mão, Heaven Can Wait.
Estando a banda no ponto das suas capacidades técnicas, Kai Hansen, contudo, já não vai para novo e não demoraria muito tempo até Frank Beck ser chamado ao palco para partilhar o microfone, numa atitude de honestidade salutar. Presença regular nos espectáculos dos Gamma Ray desde o ano passado, o vocalista tem um estilo muito similar a Hansen e a sua performance deverá ter convencido até os fãs mais conservadores. Porém, deverá ser realçado, que a velha raposa espampanante ainda convence, tendo assinado um dos momentos mais altos da noite com a baladona The Silence.
Last Before the Storm, Valley of the Kings ou Dethrone Tyranny são malhões de solos vertiginosos e refrães memoráveis e cada um por si só justificaria o epiteto de ponto alto da noite, mas esse título ficaria reservado para a recta final. Ao escutar as primeiras notas sorumbáticas de Rebellion in Dreamland, tem se a noção de que se vai embarcar numa jornada épica, mas nunca que essa viagem irá passar também por Heavy Metal Universe e o ataque furioso Speed Metal de Ride the Sky. O final desta medley de sonho chegaria numa esplendorosa versão alargada de Somewhere Out In Space, com direito a solos intermináveis e interacções com o público. Seguir-se-ia o obrigatório encore com Heading for Tomorrow e Send Me a Sign para encerrar as festividades, mas o estado de graça causado pela sequência acima mencionada foi tal que os Gamma Ray até podiam ter acabado a tocar o Malhão.
Texto – António Moura dos Santos
Fotografia – Nuno Cruz
Promotor – Prime Artists