Foi na passada segunda-feira, dia 30, que se passou de uma temperatura gélida para um calor tropical delicioso. O Armazém F recebeu Os Mutantes e uma harmonia quente espalhou-se pelo ar.
Para abrir o espetáculo cinco rapazes lisboetas. Os Ganso ganharam o concurso Tradiio lançado para tocar na primeira parte do concerto e deram o seu melhor.
Com um instrumental rico e alguns riffs de rock’n’roll, os Ganso tem um som psicadélico, coberto com um manto de sintetizadores e uma energia positiva que se alinha com uma postura divertida em palco. A plateia ia dançando e acompanhado todos os movimentos do palco. A voz, em português, faz a diferença. No entanto, a colocação da mesma com arrastamento constante corta ligeiramente a magia instrumental. Foi uma meia hora bem passada, que serviu para envolver o público numa comunhão ansiosa para o que vinha a seguir.
Já só com um elemento da formação original, Sérgio Dias, sobem ao palco Os Mutantes carregados de uma aura de rock e de festa.
Com um Armazém F bem composto, preenchido por um público a condizer com o que vinha ouvir, Os Mutantes deram uma festa. Uma festa de rock que provou que a idade não passa por eles e que continuam donos de uma força e garra gigantes.
Pais do movimento tropicalista, guiados pelo pop-rock com sonoridades quentes, estes senhores trouxeram uma verdadeira cerimónia de culto ao rock. Iniciaram o espetáculo dando conhecimento que iam tocar “um monte de músicas boas” e assim foi. O alinhamento foi inteligentemente bem distribuído, espalhando os êxitos pelo longo da noite. “Jardim Elétrico”, “A Minha Menina”, “Time And Space”, “Balada do Louco” e “Cabeludo Patriota” foram satisfazendo os ouvidos existentes, terminando em plenitude com um encore com a “Panis et Circenses”. Partilharam culturas e línguas, cantando em português, inglês, espanhol e francês, sempre com uma simpatia e ligação com o público indescritíveis.
Reportando-nos aos verdadeiros bailes dos anos 70, dotados de toda a divagação mental possível, assistimos a uma maturidade digna de uma vénia. Os riffs que saiam das guitarras falavam por si e produziam uma complexidade melódica que misturava o rock’n’roll, com ecos psicadélicos, com uma cortina de rock progressivo e experimentalismo. Este hibridismo musical impediu o público de ficar parado: ou se dançava ou se fazia headbanging, sempre com sorrisos plasmados no rosto cantando em uníssono. Os solos eram divinos e a brincadeira que faziam com os instrumentos aqueceu, definitivamente, a sala.
Foi servido um cocktail de música, com traços quentes da América do Sul e o valor enorme de uns Reis que, como provaram, ainda têm muito para dar.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Nariz Entupido