Ninguém estava à espera, mas cá estão eles. Em repouso após o Grand Finale que foi o concerto no Sudoeste 2013, actuação cujos ecos ainda se sentem, os Orelha Negra escolheram 2016 como o ano para voltar, precisando apenas de prometer música nova para esgotar o CCB com facilidade. Aproveitando o hiato para se dedicarem a outras andanças, João Gomes, Sam The Kid, Francisco Rebelo, Fred Ferreira e o DJ Cruzfader prometeram, contudo, entrar no novo ano de alma e coração nos Orelha Negra, sendo este concerto um presente para os fãs que não quiseram esperar pelo novo álbum, a sair algures neste ano. Com algum desplante, interrompemos o ensaio da banda para uma, por vezes confusa, mas divertida, conversa.
Música em DX (MDX) – Parecem estar a entrar em 2016 da melhor maneira, com o concerto do CCB esgotado. Sabendo que o segredo é a alma do negócio, o que é que mesmo assim podem revelar desta actuação que vem aí?
(Silêncio)
Francisco Rebelo (F.R) – Pá…
(Risos gerais)
F.R – …o que é que podemos revelar? Vamos mostrar as músicas novas, uma boa parte delas vai entrar no nosso novo álbum e só isso é uma mega novidade, porque é praticamente tudo novo. É um concerto exclusivo.
MDX – É um sneak peak ao álbum antes de este sair
F.R – É, praticamente. Não completamente, mas praticamente.
Sam the Kid (S.K) – A nível do espectáculo, além de nós há sempre aquele elemento que recebe aquele “props”. O Pedro, das luzes, também está a preparar um espectáculo novo em função das músicas novas que estamos a fazer. Nós não investimos assim tanto na cena visual, mas ele é o elemento que trata da iluminação e também merece um destaque.
MDX – Tendo lido e assistido a algumas entrevistas vossas, notei que vocês encaram os Orelha Negra com algum desprendimento. Tendo vocês outros projectos nos quais trabalham, quando é que surge a vontade de voltar aos Orelha Negra?
F.R – É um bocado isso…
Fred Ferreira (F.F) – Mas não encaramos com desprendimento…
João Gomes (J.G) – Nós gostamos é de não nos sujeitar a “timings” exteriores a nós os cinco. Todos temos uma vida ocupada, mas todos temos enorme prazer e gosto em tocarmos neste projecto, em tocarmos juntos. Agora, não gostamos de estar limitados “timings” exteriores, sejam de mercado, sejam de editoras, do que for.
F.F – E nós tivemos, se não me engano, uns 4 ou 5 anos com muita actividade. A seguir ao Sudoeste, que tinha sido um momento muito grande, fazia sentido parar um bocadinho para nós podermos fazer outras coisas e para descansar. Faz bem sair um bocado, fazer outras coisas para depois voltar.
J.G – Não tendo coisas novas, também não gostamos de estar a “chover no molhado”, tocar só por tocar. E é isso, como temos outras coisas, não vamos estar a usar este projecto como nosso ganha-pão e estás há 3, 4 anos a tocar os mesmos álbuns nos mesmos sítios. Por isso, preferimos fazer uma pausa e agora voltámos cheios de fome, tanto nós como nosso público, acho eu.
MDX – Por que caminhos irá este álbum levar a sonoridade dos Orelha Negra? Tiveram alguma ideia em mente enquanto o estiveram a escrever?
S.K – Não… é livre, é uma coisa livre. Tentamos só não repetir coisas muito iguais aos álbuns anteriores, mas são coisas que fazem sentido no universo de Orelha Negra. Isso é um bocado subjectivo para cada um de nós e para o público quando ouvir. Há pessoas que podem achar “Olha, bom seguimento…”, mas acho que nunca vão sentir “Epá, está bué diferente dos outros anteriores, nada a ver”, acho que não. É boa música, bons grooves…
F.R – Por outro lado é um disco diferente dos outros.
S.K – Claro!
F.R – Aqui quisemos experimentar coisas novas que ainda não tínhamos feito, desenvolver outras que experimentámos no álbum anterior e arriscar algumas ideias que ainda não tínhamos explorado. Texturas, sons…
J.G – E coisas técnicas. Em temos de influências e sítios onde vamos buscar as nossas referências, isso não mudou.
MDX – Percebe-se, ao ouvir a vossa obra, que vocês têm muitas influências e não se coíbem de utilizar referências, que até podem parecer mais inusitadas, para servir as músicas. Como é que canalizam esse leque de possibilidades para um trabalho coeso?
J.G – Isso tem a ver com a nossa maneira de tocar e a dinâmica entre nós, que já tocamos juntos há muito tempo. Isso é que dá a coesão, independentemente das referências em cada tema, ou dos “sample”s virem duma linguagem ou doutra, seja rock, música clássica ou música tradicional. A maneira como nós misturamos essas coisas é que dá identidade à banda.
F.R – Passa também de certa forma pela maneira como nós nos apropriamos dos “sample’s”. Ou seja, a forma como cada um de nós, apesar de ser o Samuel quem mais trabalha a parte do “chopping” dos “sample’s” e das sequências, interpreta e lê aquelas sonoridades e imprime uma coisa nova a uma ideia inicial. É o resultado, como o João estava a dizer, de tocarmos juntos há algum tempo e, portanto, é a forma como nos encaixamos e como já entendemos toda a linguagem que dá este resultado. Não há uma grande explicação, há muitas coisas que são “feeling”. Há muitas ideias em que, por exemplo, o Samuel pode trazer um “sample”, eu ouço aquilo e penso numa coisa, ao Fred vem outra e ao João também, e depois o giro é quando isto se junta tudo e, daquela ideia, a coisa cresce, expande-se.
J.G – Só que muitas vezes, aquilo que vem à tua cabeça [dirigindo-se a Francisco, ou à do Fred ou à minha, são coisas semelhantes porque nós já estamos bué sintonizados com o que queremos para este projecto.
F.R – E às vezes podem não ser semelhantes, só que a soma das diferenças é que faz a diferença.
S.K – Em alguns casos uma música pode ter várias influências. Não é, tipo, nesta música estamos decididos que seja estilo isto. Às vezes, uma parte, o verso pode ter uma vibe assim, mas depois muda o refrão e já são outras influências. Tu trazes as tuas influências, não é para a música inteira, é para partes específicas da música. Pode estar numa cena Funk e depois passar para uma parte muito mais “rockeira”. Nós temos um bocadinho a cena de surpreender ao nível da estrutura da música, vai um bocadinho para aqui, um bocadinho para ali, é uma viagem.
MDX – Os Orelha Negra são um escape criativo para vocês?
F.R – Não, os Orelha Negra, como o João já disse, é um dos nossos trabalhos. Eu não acho que um artista crie por escape, cria porque tem necessidade ou porque lhe apetece fazer coisas. A resposta a essa pergunta é “não”, não é por escape que funcionamos, é porque gostamos de fazer isto e porque achamos que funcionamos juntos. Aquilo que fazemos juntos agrada-nos e, por consequência, deve agradar a terceiros.
S.K – Para mim só pode ser considerado um escape num aspecto de certas ideias não caberem noutros projectos.
MDX – Sim, a pergunta ia um bocadinho nesse sentido.
S.K – Pá, sim há temas, até podia enumerar vários, que partem de um “sample” que eu nunca iria utilizar num álbum meu.
F.R – Mas ele, se calhar, podia pegar nesse “sample” e fazer uma composição num outro projecto onde fosse tocar. Eu percebo um bocado o que tu estás a dizer, mas é um projecto como os outros.
MDX – Vocês são um quinteto instrumental com bastante “following”, especialmente junto de uma audiência mais jovem. Quais pensam serem as razões para terem tanta gente a querer ouvir-vos?
F.R – Acho que a razão principal é que as pessoas gostam da música.
J.G – Eventualmente também pode ter a ver com o facto de todos nós já termos carreiras extra banda e aqui juntarmos os públicos dos nossos projectos. Eu até diria que não concordo assim tanto com o que estás a dizer que o nosso público é mais jovem. Dentro dos projectos mais ligados ao Hip-Hop em Portugal, acho que devemos ser dos que tem público mais abrangente e até numa idade mais avançada. Todos temos as nossas carreiras, este grupo que está aqui junto já começou a tocar vai fazer dez anos e antes disso já tínhamos feito cenas, e por isso há muito pessoal de 30 para cima que já nos segue já desde a sua adolescência, quase. Por outro lado, acho que continuamos a estar actuais e actualizados. Estamos sempre, como ouvintes e fãs, a ouvir coisas novas, a criar e a fazer participações.
F.R – Eu acho também há outra razão. Não assim tantas bandas instrumentais, e o facto sermos um grupo assim, as pessoas quando ouvem as músicas sentem uma afinidade com a música e criam a sua própria viagem ou paisagem. A mesma música pode servir vários propósitos para pessoas diferentes. Isso foi uma coisa que nós não calculámos nem combinámos que haveria de ser assim, mas quando tu ouves uma música ela transmite uma emoção, uma sensação. Nós tivemos a felicidade de muitas pessoas sentirem vários tipos de apelos, de gostarem de ouvir a música e depois, consequentemente, de querem ouvi-la tocada ao vivo com mais energia.
S.K – Eu acho que é uma mistura de tudo, mas penso que o mais importante é aquilo que o Chico disse, que é o produto. Se o produto não for bom, não vale a pena juntares os reis de Portugal ou “whatever”, as pessoas não vão aderir. E é também o que o João disse, a nossa variedade. Há muita gente que nem gosta muito de Hip-Hop, mas que pode gostar da nossa cena por não haver rappers na sua essência dos nossos discos, já que as “mixtapes” podem ter, e isso leva a que pessoal do Hip-Hop e que não é do Hip-Hop curtam, de todas as gerações. Também há o facto de ser um projecto original e de não haver muita concorrência por assim diz, e se houver nós somos melhores que eles!
(Risos)
MDX – As pessoas quando pensam num projecto instrumental mais centrado na “Black Music”, com o Soul, o Funk ou o Jazz, podem acabar por rotulá-lo, justa ou injustamente, como uma coisa mais erudita e de audição mais difícil…
J.G – Mas há logo uma coisa com a qual eu acho que nós ganhamos em relação à maior parte dos projectos nessas áreas: nós não temos improvisação. Temos estruturas e formas muito agarradas às estruturas Pop, além de que usamos muitos “samples” vocais, e, portanto, penso que a nossa música não seja assim tão abstrata quanto isso. Apesar de sermos uma banda instrumental, estamos dentro do campo da música popular.
F.R – Eu já tenho dito isto várias vezes, eu julgo que os Orelha Negra na forma podem ser considerados um grupo de Hip-Hop, mas na essência não é só uma cena de Hip-Hop. Nesse formato, a coisa fica um bocadinho mais acessível do que pegares num grupo Funk ou de Soul instrumental, cujos argumentos, como o João disse, irão sempre parar à improvisação e a linguagem nem sempre é acessível ao público em geral. Como muitas pessoas não percebem os fraseados e a lógica da coisa, pode-se tornar um bocado maçudo para quem não é fã daquilo ou não entende. Nesse sentido, nós somos mais abrangentes porque temos estruturas fixas. Também não é aquele Pop quadrado, temos algumas coisas “maradas” se te deres ao trabalho de analisar…
J.G – Mas nós tentamos que essas coisas não estejam “in your face”! Só se tu fores analisar é que percebes “Aaaah! Aquilo parece simples, mas é complexo!” Esse é um dos nossos objectivos.
F.R – Aquilo que para nós, em termos de arranjos tem um grau de complexidade, é pensado de forma a que o ouvinte não sinta essa complexidade e sinta antes o “groove” quando está a ouvir a música. Se fores ao Pro Tools e puseres aquilo no Quantize vais perceber “Epá, estes gajos fizeram 3 compassos e mais 7, depois param no 1 e não sei quê…”. No fundo, está feito de maneira que tu estejas a ouvir a cena e…
J.G – Não te soe a uma coisa complicada.
F.R – É um dos problemas que tu encontras no Jazz. Eu gosto muito de Jazz, mas é um bocado essa cena. Às vezes estás num concerto e não sabes bem o que se está a passar.
S.K – Eu por acaso não tenho problemas em que alguém veja como erudito, desde que seja transversal e nunca abandone o espírito, estás a ver? Orelha Negra é isso. Se consumires como erudito, olha, para mim é uma honra!
J.G – E se calhar nesse aspecto, até é. É complexo, claro que também há cenas na Pop hipercomplexas
MDX – Já pensaram em levar o projecto para fora de Portugal, ir tocar ao estrangeiro mais vezes?
F.R – Ya, com o último álbum já fizemos umas 3 ou 4 datas.
S.K – Mas nós vamos e voltamos!
(Risos)
J.G – Pá, mas essas coisas normalmente… Partem das bandas e pode investimento das bandas a fazer isso, mas, no fundo, nós tocamos aonde nos convidarem. Temos todo o prazer em tocar em todo o lado. Mas, para mim, pelo menos, é igual tocar em Almada ou tocar em New Jersey ou na Sibéria. Desde que haja condições e público para ver.
F.R – Mas eu acho que pergunta tem mais a ver com a internacionalização. Portugal tem sempre a questão da periferia. Se fossemos músicos em Paris ou em Berlim, para além do teu circuito interno, tu rapidamente tens à volta do teu país uma série de fronteiras e podes fazer uma tournée europeia à volta da Alemanha. Os portugueses estão aqui na cauda da Europa, cada vez que querermos viajar, temos de atravessar a Península Ibérica, a França e não sei quê. Portanto, logisticamente, as tournées para músicos portugueses são sempre coisas muito difíceis. Não estamos à procura de fazer tournées europeias, mas gostaríamos de fazer se surgir a oportunidade. Ir lá para fora não é a nossa motivação para funcionar.
S.K – A cena é que… já fui ao Brasil, Angola e Macau.
(Risos)
DJ Cruzfader – Holanda, Espanha, França….
(O resto da banda indica sítios)
J.G – Angola?!
S.K – Não, eu sei, estava a tentar cantar os DaVinci!
(Risos)
S.K – Agora a sério, como eu hei-de dizer. Sendo uma banda instrumental, claro que isso pode acontecer. Há algumas coisas que nos dão orgulho, com a Internet às vezes há projectos internacionais que nos pedem coisas… Também temos convidados internacionais nas nossas “mixtapes”, mas isso é do nosso convite. A cena do Vhils também foi boa para nós, fez-nos um vídeo e também o divulgou… Mas, pessoalmente, eu estou sempre fixe assim, como a cena está. Não sou super ambicioso, à procura do mega hit mundial. Até porque, usando “samples”, tu metes lá um gritozinho “Hoooo!”, até foste criativo, mas os bacanos vêm atrás de ti e é difícil. Como está, dá para ter assim um buzzinho bacano e de fazer algumas salas europeias, que por vezes fazemos.
F.R – Feitas as contas, já fizemos umas quantas cenas. Mas é assim, quanto tu me falas em tournées, eu imagino sempre aqueles casos em que sai um disco e pumba, não sei quantas datas.
MDX – As datas na parte de trás da t-shirt
F.R – Ya, não temos essa t-shirt ainda.
(Risos)
S.K – Epá, mas o Fred é que já foi com os Buraka [Som Sistema] e isso é bué cansativo. Um gajo está por aqui, chega ao fim-de-semana e vais ali a Viseu e tá fixe, também já estamos a ficar velhos.
F.F – Fiz com os Buraka e com a Banda do Mar, o ano passado fiquei quase o ano todo a morar no Brasil e já só queria era voltar. Por mim, se puder tocar aqui sempre, com malta perto, é o melhor. Não me importo nada.
S.K – E o João também tem as cenas da Ana Moura.
J.G – Mas está-se bem. Eu não me importo de, no fim-de-semana, em vez de ir a Viseu ir a Bruxelas! É a mesma coisa, a viagem demora duas horas!
MDX – A última pergunta, um bocado da praxe. Que projectos tem para o futuro? Estão a planear fazer algo com a envergadura do concerto no Sudoeste?
F.F – Pensamos sempre em fazer coisas que surpreendam, mas tem de haver um motivo para o fazer. Não vamos fazer espectáculos à toa. É provavelmente que aconteçam, mas iguais àquele nunca vão ser. Foi a primeira vez que fizemos algo do género e para nós foi uma sensação diferente, mas há de haver outros concertos especiais, sem dúvida.
S.K – Depois de fazeres um espectáculo com orquestra, começas a entrar naquele caminho como os Xutos em que, não é estar a comparar-nos, mas já é “agora desta vez vai ser big band, da próxima é debaixo de água, etc…”. É pensar que ainda não fizemos isto nem aquilo. O “standard” é começar com orquestra, depois tens de começar a pensar em variar.
F.R – O que eu acho que poderá acontecer é, este álbum há de nos levar por um caminho, certamente haveremos de preparar também um mixtape como fizemos com os outros todos. O concerto do Sudoeste, no fundo, não foi mais do transportar a mixtape para o palco, adicionada com os próprios cantores, com o repertório deles e com a orquestra. Haveremos de ter uma ideia qualquer que possa estar a este nível, mas que não seja igual.
S.K – Mas é difícil. “Unplugged” não dá…
F.R – Ou tocar num trapézio…
(Risos)
MDX – Mas há sempre a ambição de fazer alguma coisa nova.
F.F – Olha, a minha ambição quanto a Orelha Negra era tocar no Coliseu, por exemplo. Isso era uma coisa que eu gostava de fazer. Se calhar um dia vamos conseguir, já estivemos mais longe.
S.K – Não é que tenhamos mesmo essa ambição, mas é uma coisa que ainda não fizemos.
MDX – Não vão procurar activamente chegar a esse objectivo.
F.F – Naturalmente tu vais vendo o caminho que as coisas tomam e nós quando tocámos a primeira vez ao vivo, que foi no Musicbox, as pessoas acharam e disseram-me que nós éramos uma banda boa para tocar em sítios como no Musicbox. E pronto, nós fizemos o nosso caminho, no ano seguinte já estávamos no São Jorge, passados dois anos estávamos no CCB, este ano estamos lá novamente. Portanto, o caminho vai sendo feito e tu vais vendo a dimensão que as coisas tomam, se o público aumenta ou diminui, logo se vê. O objectivo agora são estes próximos concertos, é o nosso desafio maior.
S.K – E depois acabar de produzir o álbum.
MDX – As ideias para o álbum já estão todas assentes ou estão a pensar em adicionar coisas depois do concerto?
S.K – Claro que sim, de certeza absoluta. Mas de certeza absoluta mesmo.
J.G – Não são bem temas, mas sim arranjos.
F.F – Até temas, se aparecerem ideias.
S.K – Sim, até temas.
J.G – Ok, mas nós já temos o repertório mais ou menos escolhido
F.R – Do que vamos tocar, já temos o material propriamente gravado. É uma questão de só fechar a produção
S.K – Por exemplo, há músicas em que às vezes, nos nossos discos, o Chico toca outros instrumentos. Com uma guitarra e assim. Até agora não houve margem definidas. Pode também assobiar, como assobiou no outro disco, numa nova música.
F.R – A nossa cena é sempre um work in progress e aconteceu, já nos álbuns anteriores quando já estavam gravados, acabarmos por compor duas ou três cenas novas porque surgiram ideias que achámos fixes e colocámos no disco.
[Começa uma amena cavaqueira, difícil de reproduzir aqui, quanto à data oficial quando os Orelha Negra apresentaram o primeiro álbum]
MDX – A resposta do público pode depois ter algum peso no resultado final?
S.K – Sinceramente, não é a resposta do público, é nós sentirmo-nos bem a tocar. As pessoas não vão reagir do tipo “Oooooooh, não senti esta parte!” ou “Yeaah! Senti muito!”, não é? Só se tivesses mesmo um propósito de interação que não resultou, o que não é bem o caso.
F.R – É a primeira vez que as pessoas vão ouvir a música e não conseguem também, em 60 minutos, digerir aquilo e pensar “Olha, a primeira foi fixe, mas a terceira… e depois a quinta também entrou bem, mas a sétima…” Só se for um jornalista, que está lá com a caneta a anotar…
MDX – O chato, portanto.
(risos)
F.R – O que eu quero dizer, ainda ontem contámos essas história, é que isso não significa que no concerto não surja um momento que não estava previsto e que de repente houve uma situação, uma sinergia qualquer que se criou ali e que depois ouvimos a gravação do concerto e pensámos que era bom para pôr no disco. Uma ideia, um riff, um break que não estava ensaiado, uma “sample” de voz, qualquer cena nossa que saiu diferente daquilo que estava planeado e que às tantas é melhor do que o que tínhamos. Mas isso não tem a ver com o público, é com a nossa avaliação do trabalho.
O espectáculo que marca o regresso dos ORELHA NEGRA que acontece amanhã em Lisboa, no grande auditório do CCB, encontra-se esgotado. Os bilhetes para o concerto de dia 30 de janeiro no Hard Club, no Porto, estão à venda na sala e nos locais habituais.
Mais informação em
Facebook Orelha Negra – https://www.facebook.com/orelhanegra/
Bilhetes Orelha Negra (Porto – Hard Club) – http://ticketline.sapo.pt/evento/ORELHA-NEGRA-12375
Entrevista – António Moura dos Santos
Fotografia – Luis Sousa