Backstage

Bed Legs, a garrafa negra com o licor de Rock’n’roll

Os Bed Legs são o Fernando Fernandes na voz, o Tiago Calçada na guitarra, o Hélder Azevedo no baixo e o David Costa na bateria. São bracarenses e formaram-se no fim do verão de 2011. O amor à música uniu-os e a vontade de mostrar isso às pessoas resultou no seu primeiro álbum. Black Bottle sai para o público no dia 29 de Janeiro e promete causar um turbilhão de emoções no corpo e ouvidos dos que lhe abrirem a porta.

Trata-se um percurso por entre 9 faixas todas assombradas pela magia do rock’n’roll. Aquele que mistura o blues com o soul e que nos reporta automaticamente para uma noite perdida entre os anos 60 e 70 algures num bar americano.

A voz quente, grave, astuta e forte qual Jimi Hendrix ajuda a tranquilizar os movimentos corporais energéticos que despertam os instrumentos que a acompanham. A qualidade dos riffs eléctricos e electrizantes transmite uma energia contagiante que impossibilita a inércia. A acompanhar, o baixo robusto e a bateria desconcertante. Assim são os Bed Legs e o seu primeiro álbum, que nos trás algo fresco e que se propaga por todas as partes do corpo.

O Música em DX conseguiu apanhar dois elementos da banda (Fernando e Tiago) numa visita a Lisboa e conversou com eles para saber mais sobre o projecto e o álbum.

Música em DX (MDX) – Porquê Bed Legs?

Tiago – Foi uma brincadeira. Não tínhamos nome, tínhamos um concerto para dar e tínhamos de dar um nome, foi um jogo de palavras de onde resultou Bed Legs.

Fernando – Depois à volta disso fomos associando coisas como sermos quatro e as pernas da cama também serem; em cima da cama acontecem coisas que nós gostamos nas mais variadas circunstâncias, sóbrios ou bêbedos ou a ressacar. Acaba também por se construir um imaginário à volta disso. Foi uma brincadeira que acabou por nos levar a sério mas não foi nada pensado.

Tiago – Não tem propriamente uma simbologia. As coisas começaram a agregar-se à volta disso, não fomos nós que quisemos marcar o nome. Foi mesmo uma brincadeira.

MDX – De onde vem a vossa inspiração?

Fernando – Vem de tudo o que ouvimos e das coisas que nós seleccionamos, as coisas boas, as nossas referências. Vem das nossas vivências também e de tudo à nossa volta. Mas musicalmente temos muito boas referências, algumas acho que são notórias, mas sei lá, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Graveyard, Rage Against The Machine, Red Hot Chili Peppers. Noutros estilos musicais também, mas normalmente são bandas que tenham uma atitude forte.

MDX – Querem falar sobre a concepção do álbum?

Fernando – O álbum é mais uma lamentação do que propriamente uma celebração. Os temas não acabam bem, são lamentos… como a “Black Bottle”: as pessoas estarem fartas de beber tanto e a vida não mudar e estarem a afundar-se nos próprios demónios; os desencontros amorosos, os romances que não funcionam, a vontade de mudar de vida, tentar reconquistar um amor perdido e, ser mais interventivo na luta pela vida, como agarrares-te aos teus ideais e valores. O álbum relata tudo isso. Ao verem os títulos das músicas apercebem-se disso: “Road Again”, “New World”, “Vicious”, há a tendência para o vício, ser uma pessoa que depois de tanto se viciar acaba por se tornar noutra pessoa, má, mais depravada, com apetite pela destruição e um fascínio por esse apetite de auto – destruição, mas depois ao longo do álbum percebe-se que há uma vontade de mudar isso. Há um novo mundo que nos espera, somos sempre capazes de chegar a um sítio melhor do que aquele onde estamos agora.

 

 

MDX – Fizeram uma espécie de crowdfunding para ajudar na edição do álbum. Isto deu algum resultado? Ajudou?

Tiago – Não de todo. Se calhar por culpa própria: não foi bem pensado, nem a altura em que foi lançado foi a melhor. Então não teve assim grande retorno, não atingimos o objectivo, o álbum foi pago por nós.

MDX – Vocês fazem imensas referências a um bar. Que bar é este? Algo imaginário ou existe mesmo?

Fernando – É um bar que engloba todos os bares por onde nós passamos desde o tasco mais pequenino às discotecas saloias onde estivemos e perdemos o controlo. Mas é uma metáfora para todos os sítios boémios que nós frequentamos.

MDX – Existe uma referência a garrafas, rixas, vícios… Dá a sensação de agitação, de caos. Consideram que isso possa ser a descrição da vossa música? A vossa descrição?

Fernando – Isso faz tudo parte dos ambientes que nós frequentamos. Há sempre rixas, há sempre descontrolos, bebemos demasiado, há sempre flirts, romances. É a juventude.

Tiago – Se calhar isso tem influência nos temas que escrevemos. Basicamente escrevemos acerca de nós e de vivências nossas ou de pessoas com quem nós convivemos.

Fernando – É um imaginário que também frequentamos, que é mais secreto e nem toda a gente para lá, um ambiente mais boémio, mais descontrolado, mais vicioso.

20160120 - Entrevista - Bed Legs

MDX – Qual seria a melhor sensação que poderiam causar às pessoas com a vossa música?

Tiago – Acho que todas as melhores sensações que provocamos é ao vivo. Costuma ser uma festa, invariavelmente. Se as pessoas não gostassem, se não estivessem a curtir o concerto não havia festa, portanto esses são os impactos que eu sinto e vejo que temos, pelo menos ao vivo.

Fernando – Somos relaxados, por isso também parte um bocadinho das pessoas relaxarem e libertarem-se um pouco. Se as pessoas não estiverem soltas não vão curtir muito. A electricidade, o impacto que nós temos e esperamos que as pessoas se libertem e façam a festa connosco.

MDX – Qual é a vossa ideia sobre as críticas que têm surgido em relação ao single e ao álbum até?

Tiago – Para já a maior parte das críticas têm sido positivas, o que é bom. Temos tido um bom feedback e claro que estamos contentes.

Fernando – Às vezes as pessoas criam interpretações diferentes das que nós temos mas é um filho que nós criámos e ganhou vida própria e agora está em contacto com outras pessoas e depois elas interpretam à maneira delas. Nós temos a nossa interpretação e vamos criando novas interpretações também ao longo do tempo em que vamos ouvindo os temas. O que importa é isto andar nos ouvidos das pessoas e que as pessoas criem uma relação com o álbum, que seja algo saudável.

MDX – O que esperam de 2016?

Tiago – Dar muitos, muitos concertos. Tenho a ideia de que o álbum vai funcionar muito bem ao vivo e nós sentimo-nos bem é a tocar ao vivo. Tentar tocar o álbum no maior número de sítios possível, levá-lo ao maior número de pessoas possível e desfrutar.

 

Que assim seja e que levem o álbum o mais longe possível!

Black Bottle tem lançamento oficial marcado para a próxima sexta-feira, dia 29 de Janeiro e os Bed Legs vão apresentá-lo ao vivo no dia 20 de Fevereiro no Sabotage Club e no dia a seguir, 21, na Fnac do Chiado.

 

Entrevista – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa