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O WHY Portugal por Nuno Saraiva, vice-presidente da AMAEI

Presença forte, pela dimensão vertical vestida de negro, pela determinação em profissionalizar a indústria da música em Portugal. Nuno Saraiva é vice-presidente da Associação de Músicos Artistas e Editoras Independentes (AMAEI), e no passado mês de Janeiro deixou uma bandeira nacional em Groningen (Holanda). Portugal será um country focus no festival Eurosonic-Nooderlag 2017.

Na sequência deste importante momento, está a ser apresentada agora a plataforma WHY Portugal que tem como objetivo agregar artistas e profissionais da indústria da música portuguesa numa base de dados o mais completa possível, seguindo a lógica de plataforma de music exchange, fomentando contactos B2B, bem como apresentando os artistas nacionais e as equipas profissionais que os representam ao Comité de Programação do Festival para num momento mais próximo do evento divulgar os artistas portugueses convidados a integrar a programação especial do Eurosonic dedicada a Portugal. A primeira sessão já ocorreu no passado dia 20 de Fevereiro em Portimão, e terá mais duas sessões no Porto e em Lisboa.

Música em DX (MdX) – Como surgiu a ideia de Portugal como country focus no Eurosonic 2017?
Nuno Saraiva (NS) – Enquanto agente e manager, já conheço o Eurosonic desde 2003. Em 2008 quando comecei a representar os artistas nacionais, senti que havia handicaps em Portugal. Que ao início “estranhei” e depois “entranhei”. O Fado sendo um estilo musical diferenciador, pode ser também ele um handicap para o que é Portugal musicalmente em 2008. A 1ª vez que falei na possibilidade de Portugal como country focus com o Eurosonic foi logo em 2010, mas não havia como, Portugal não participava ainda, por exemplo, no European Talent Exchange Programme, somente iam ao Eurosonic cada ano um artista nomeado pela Antena 3 através da EBU, Eruopean Broadcasters Union… um “conta gotas”. Não tínhamos um único festival na rede ETEP, muito menos uma conferência PRO para ajudar a preparar os nossos profissionais.

Em 2012, com o entendimento das labels independentes na AMAEI, Associação de Músicos Artistas e Editoras Independentes, e depois a Aporfest, associação de festivais ligada aos Iberian Festival Awards. Para além da Antena 3, começaram a aparecer 3 ou 4 artistas de PT no Eurosonic por ano. A AMAEI e Antena 3 conseguiram, finalmente, que Portugal seja o Country Focus em 2017 o que quer dizer cerca de 20 artistas convidados. No início ainda surgiu a hipótese de um foco Ibérico, mas o Jorge Alexandre Lopes da A3 explicou aos organizadores que não faria sentido. Não existe esse hábito, seria um country focus desnorteado! Em setembro último a AMAEI responsabilizou-se pelo orçamento mínimo. É no Eurosonic que se constroem carreiras europeias, estão lá todos os festivais de verão da Europa! Há um banco de artistas que tocam no Eurosonic para fazerem circular os artistas europeus – Rede ETEP.

20160202 - Entrevista - Nuno Saraiva (AMAEI) @ CIM

MdX – O que nós portugueses, podemos ganhar com isso?
NS – O Why Portugal? É uma plataforma agregadora de contactos import / export, num contexto business directed, b2b. O Hugo Ferreira da OmniChord Records, é o coordenador desta plataforma, nesta fase de countdown, iremos fazer a apresentação formal em três cidades portuguesas, Lisboa, Porto e Portimão, após consulta com várias labels e managers de Coimbra que nos disseram que iriam ao Porto sem problemas. Não queremos que ninguém fique de fora. Dia 20 em Portimão na Associação Contramaré, 23 no Porto nos Maus Hábitos e 25 em Lisboa no Centro de Inovação da Mouraria. Até Abril esperamos ter massa critica suficiente na plataforma, que será capaz de fazer a ligação interna de uma banda, por exemplo, cruzando os agentes, as labels, os artistas, os promotores, a imprensa, etc. que trabalham juntos. O Why Portugal irá continuar para lá do Eurosonic 2017.

MdX – Temos cada vez mais musicos portugueses no South by Southwest…
NS – Sim e muitas vezes não aproveitam a feira! Pretendemos dar formação ao cluster, é importante saber falar a linguagem dos programadores dos festivais e outros profissionais. Entre o agregar o cluster e as missões externas, a ideia é capacitá-los.

MdX- Como estão a pensar fazê-lo?
NS – Com sessões em Lisboa e Guimarães no contexto do Westway LAB em Abril; depois uma conferência de imprensa a anunciar com elementos do próprio Eurosonic em Portugal, ainda antes do Verão. E outros workshops mais à frente.

MdX – Qual a vantagem de fazer uma candidatura a estas sessões?
NS – A lógica é ter uma oportunidade no Eurosonic para 15 ou 20 artistas, mais os profissionais que os representam, em sessões profissionais de networking na grande conferência do Eurosonic. 12 profissionais portugueses, como por exemplo o Pedro Azevedo do Music Box já estiveram este ano no Eurosonic. Mas é pouco. Para o ano é importante estarmos lá em peso. Não sendo um “export office”, o WHY Portugal irá procurar financiamento, fundos culturais, Portugal 2020, etc., bem como patrocínios de marcas para potenciar a parte profissional do evento: comunicação, marketing, speed-meetings, receptions, etc. mas cada artista deverá ir por si – o Eurosonic só paga os hotéis.

O Why Portugal está capacitado para preparar muito bem cada artista que lá vai. Cada um terá que decidir se vale a pena lá ir, não há nenhum fundo para custear as viagens. A não ser que o novo Ministério da Cultura subsidie ou a TAP Portugal possa patrocinar as passagens aéreas! Mas não é esse o ADN do WHY Portugal, é o do exchange e da capacitação profissional.

20160202 - Entrevista - Nuno Saraiva (AMAEI) @ CIM

MdX – A AMAEI esteve nas duas edições do Mercado de Música Independente, na cavalariça Real no Principe Real. O que achaste dessa iniciativa?
NS – Foi uma boa experiência, sugeri ao Rui Miguel Abreu que se faça um a norte do país. Acho importante todas as editoras e artistas auto-editados marcar presença, participar. Não faz sentido estarmos separados, pois apontamos todos para o mesmo caminho! Mas é como diz o Bizarro, Presidente da AMAEI… as quintinhas e os castelos…

MdX – Infelizmente é em todas as áreas, não é?
NS – Essa lógica já prevalece há mais tempo com outras indústrias, a cortiça, os vinhos, a moda. Sente-se que há uma nova geração que está muito mais aberta e percebe a força do colectivo.

MdX – Por necessidade?
NS – Necessidade relativa, porque há nichos que não sentem isso, o jazz, a electrónica avant-garde. Há necessidade de criar um flow-chart que mostre o todo da indústria da música, pois quando chegarmos ao Eurosonic é essa a linguagem.

MdX – Queres falar um pouco da AMAEI?
NS – A AMAEI é uma associação profissional de musica editada, que defende os interesses das editoras independentes, e artistas auto-editados, por exemplo, na questão dos direitos conexos. Tenta combater as desigualdades das grandes editoras e das editoras independentes. Por exemplo, com a Sociedade Portuguesa de Autores, estabelecendo um protocolo com critérios mais justos para fomentar as edições independentes, que são as verdadeiras editoras nacionais.

20160202 - Entrevista - Nuno Saraiva (AMAEI) @ CIM

MdX – Lobbing com a SPA?
NS – Transição, por exemplo, do tradicional pagamento da reprodução mecânica. Já conseguimos um protocolo em que 50% é pago à cabeça e os restante 50% a 150 dias. É mais justo, pois as majors pagam conforme vendem, não à cabeça. É uma competição desleal das majors face às independentes. É este tipo de assunto que tratamos e defendemos na AMAEI.

MdX – Fala-me um pouco disso.
NS – Existem os direitos de autor e os direitos conexos (artistas e produtores fonográficos). Os direitos conexos são pagos pela Audiogest e a GDA. É essa informação, é esse tipo de profissionalismo que a AMAEI oferece aos seus associados. Lobby globalizado com 35 congéneres no mundo inteiro. Editoras independentes, com ligações à WIN, IMPALA e MERLIN: agência agregadora dos direitos digitais independentes. 80% das novas edições são independentes. O bolo maior das editoras são independentes. O digital é cada vez mais transparente e cada vez mais documentado. A Audiogest já está a trabalhar nisso. A Adele, os Radiohead são independentes. O desafio da AMAEI é colocar o dinheiro no bolso de alguém que o merece, 3 anos é o prazo limite para reinvindicar os direitos… É preciso vontade política, a música deve passar para a escola, na Suécia há músicos amadores melhores que muitos profissionais nossos. Há uma cultura musical, visto como uma produção artística e um negócio. É o longo caminho das pedras que temos que percorrer, até politicamente perceberem a importância das indústrias culturais e criativas (ICC). Na Inglaterra do pós-guerra, foi a indústria musical (os Beatles, p.ex.) que alavancou economicamente o país, e lhe deu um retorno imaterial da imagem do país.

A Suécia tem números de população idênticos aos nossos, e exportam 160 milhões de Euros por ano do seu cluster das ICC de música. Mas não o fizeram a cantar em Sueco, não o fizeram com as suas músicas tradicionais.

Todos os países têm o seu “fado”. Continuamos a cometer o erro da tradição, e a deixar que lá fora achem que é a única musica que temos. Temos que mudar esta ideia, que não está correcta. O Fado – e sobretudo a sua nova geração – tem o seu lugar, como é óbvio, mas Portugal já não é só Fado.

Próximas datas de apresentação do Why Portugal:

23 fevereiro – Maus Hábitos – Espaço de Intervenção Cultural
Rua Passos Manuel, 178 – 4º, 4000-382 Porto
15:00 | Entrada Gratuita

25 fevereiro – Centro de Inovação da Mouraria, Lisboa
Travessa dos Lagares,1, Lisboa
17:00 | Entrada Gratuita

Sobre a plataforma WHY Portugal:

WHY Portugal | http://www.whyportugal.org

AMAEI – Associação de Músicos Artistas e Editoras Independentes | http://www.amaei.org

Antena 3 | http://antena3.rtp.pt

Sobre o Eurosonic:

Eurosonic Noorderslag acontece na cidade holandesa de Groningen e celebrou a sua 30ª edição este ano. Conta com mais de 3.900 profissionais da indústria da música, mais de 340 showcases de artistas holandeses e internacionais e 175 painéis e conferências. É o ponto de partida para o debate e principal rede de contactos para a indústria da música internacional focado na música europeia, digressões, festivais, música ao vivo e media.

Mais informações:
WHY Portugal | http://www.whyportugal.org
AMAEI – Associação de Músicos Artistas e Editoras Independentes | http://www.amaei.org
Antena 3 | http://antena3.rtp.pt

Entrevista – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa