O vento frio que nos congelou à porta do Meo Arena, foi compensado meia hora depois do show ter começado. Plateia desadequada, conforto qb das cadeiras e uma acústica duvidosa, o show de quase duas horas e meia dos 14 músicos sincronizados, envolveu-nos nos ritmos soul-samba.
Palco majestoso digno de uma Broadway, onde os instrumentos se agrupam por tipologia, em três patamares distintos. Primeiro as teclas (2), seguido das percussões (3), as cordas (3) e sopro (5) na frente de palco. Jogo de luzes intenso, com destaque nos rosas e lilases, no reflexo do néon vermelho em letras gigantes – Seu Jorge. Passava pouco das 22h00 quando o carioca, Jorge Mário da Silva e a sua orquestra subiram ao palco do Meo Arena.
De capuz na cabeça e óculos escuros postos, Seu Jorge entra discreto no meio dos instrumentos de sopro e das cordas. Com alguma dificuldade, conseguimos decifrar “Ela é bipolar”, tema que abre o seu último trabalho discográfico, “Música para Churrasco II”. Continuando com entrada e saída de instrumentos, violinos, guitarras e harmónicas ao sétimo tema Seu Jorge tira o capuz e dá as “boas noites” ao público.
Sentado com a viola no colo, assistimos a um outro concerto um outro momento. Uma voz cristalina acompanhada com o toque delicado dos dedos, nas cordas da sua guitarra. Subtilmente acompanhado, num ou noutro tema, pelo baixo ou pelas teclas. “Life on Mars” e “Rebel Rebel” (guitarra elétrica) de David Bowie, com letras do próprio Seu Jorge (álbum “Life Aquatic Studio Sessions”, banda sonora do filme com o mesmo nome).
Momento perfeito que antecede a entrada da sua convidada e conterrânea, Marisa Monte, que é recebida pelo público com uma enorme ovação. Nesta altura a maioria das pessoas já estava de pé e as cadeiras da plateia ficaram vazias. Ponto alto da noite, com “Amor I Love you” em que Marisa Monte toca bandolim e testemunha um pedido de casamento (ao que parece um momento repetido nos concertos de Seu Jorge). Retirada da convidada (com muita pena nossa) e o show seguiu um pouco mais intimista. Histórias do Maranhão e do filme “Casa da Areia”, em que Seu Jorge, já de casaco despido e sem óculos escuros, consegue uma maior cumplicidade com o público. “Mania de Peitão”, “Carolina”, “Amiga da minha mulher” e o público já estava rendido ao gingar de anca e ao samba no pé.
Um encore com a repetição do tema “Passe bem” com Marisa Monte, que se despede com um simpático “Noite memorável!”. Seguiram-se mais uns quantos temas que quase davam para mais um concerto, com Seu Jorge e os músicos em coreografias sincronizadas num soul descontraído e um samba ritmado. Noite que começou fria, com um Seu Jorge distante mas que terminou quente e com o público satisfeito.
Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – AudioVeloso