Depois do EP Telemachy, editado em 2009, os Youthless ganham uma nova vida com This Glorious No Age. Editado pela NOS discos, sai hoje para o público (disponível em http://nosdiscos.pt/discos/destaques/this-glorious-no-age) e é apresentado na próxima sexta-feira no MusicBox.
Os Youthless são um duo: Sebastiano Ferranti no baixo e voz e Alex Klimovitsky na bateria, sintetizadores e voz. Sebastiano é inglês e Alex americano. Decidiu a vida que se encontrassem em Portugal durante a adolescência. Partilham amizade e o gosto pela música. Inseparáveis, esta é a segunda banda que têm e a mais consistente.
This Glorious No Age, é o primeiro disco da banda. Passou por contratempos, teve colaborações e tem algo intrínseco adjacente ao seu conteúdo e formato. Trata-se de um álbum com ritmo e sintetizadores contagiantes. Ouvem-se acordes complexos e atmosferas inquietantes de distorções esquizofrénicas.
O Música em DX foi ao encontro destes dois rapazes para descobrir mais sobre eles e sobre este primeiro álbum.
Música em DX (MDX) – Como é que se conheceram?
Sebastiano Ferranti (Sebas) – Conhecemo-nos no liceu, no Instituto Espanhol, o Alex tinha 14 e eu tinha 15.
Alex – Estávamos na mesma turma e acho que éramos os únicos 2 alunos da escola toda que falavam inglês, comunicávamos num espanhol péssimo… até que descobrimos que ambos falávamos inglês. Eramos o “Bill & Ted” do Instituto Espanhol. Eu sou de Nova York mas tinha vivido uns anos em Espanha, o Sebastiano é inglês, de família inglesa. Começámos a aprender a fazer música juntos, começámos a tocar guitarra juntos e formámos uma banda com um amigo nosso: Guillermo Landin, depois começámos a desenvolver Youthless.
Sebas – A outra banda começou em 1996 e foi até 2008 e Youthless começou em 2009.
MDX – Há quantos estão em Portugal?
Alex – Eu vim com 14 anos e depois e depois fui-me embora outra vez e a partir dos 18 anos fiquei um bocadinho nómada vivendo em todas as partes. Mas passo a maior parte do tempo cá.
Sebas – Eu também me tinha ido embora. Quando o Alex ia para Nova York eu ia para Inglaterra, mas agora estou aqui mais tempo, tenho família cá.
MDX – Porquê Lisboa?
Alex – Adoro Lisboa. Lisboa e Nova York são as minhas cidades preferidas. Sinto-me mais à vontade na Europa que nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos há muito fascismo e a vida lá mete medo.
MDX – O que voz fez passar para sons mais electrónicos?
Alex – Quando lançámos a primeira Demo houve críticas que disseram que as batidas eram programadas, mas não são, é apenas gravação com um som muito sujo. Em relação aos sintetizadores deste álbum, fizemos as músicas como sempre, mas depois como as melodias iam ficando muito intricas, apeteceu-nos. Melodicamente, às vezes, perdiam-se as nuances. Eu antes também tocava teclado e bateria mas agora as batidas vão sendo mais complicadas, a parte dos sintetizadores vai ficando mais complicada, então decidimos chamar amigos para ver se podiam contribuir e gostámos tanto que agora ao vivo levamo-los connosco: Francisco Ferreira (Capitão Fausto), João Pereira (Riding Pânico) e o Duarte Ornelas.
Sebas – No disco também tocou Chris Common com percussão em algumas músicas, gravámos muito do disco com ele, na cave dele. Ele é baterista e especialista em afinar baterias e sacar o melhor som da bateria. Havia muitos truques, diferentes microfones, diferentes cores de amplificações.
Alex – Ele é muito fixe. Conhece muito sobre gravação e então usávamos métodos de gravação dos anos 70: gravar só com 3 microfones e pormos a bateria numa parte baixa duma escadaria e o som vai subindo por todos os pisos para dar o efeito duma catedral. Também gravámos com Pedro Cruz que faz som para os Buraka, fizemos as gravações com ele na cave do Frankie Chavez, que ele também tem um estúdio. A Francisca Cortesão também cantou no disco. Temos também um coro infantil, são os sobrinhos do Sebas, chateámo-los durante vários dias para cantar e cantaram super bem, têm aquele sotaque mesmo britânico. Fizeram a gravação há 3 anos. O disco está pronto há mais de 1 ano e meio, mas demos ao Justin Garrish (Vampire Weekend e The Strokes) para misturar e ele fez-nos um favor porque gostava muito do som mas era só no tempo livre, então demorou um ano e meio a misturar aquilo.
MDX – Como foi juntar estas pessoas todas para colaborarem convosco?
Alex – A maior parte já eram amigos, conhecidos. O mundo da música é pequeno e fomos falando com eles e os contactos espalham-se.
MDX – Alguma colaboração que vos marcou mais?
Alex – O Francisco Ferreira e o João Pereira ficaram a pertencer à família da banda, andam a tocar connosco ao vivo e é muito bom porque a coisa vai evoluindo e as músicas até têm um som melhor. Fui tudo divertido e útil. O Francisco já veio connosco em tournée para Inglaterra.
Sebas – Cada pessoa é diferente. Mas é sempre tudo muito divertido, jantamos todos juntos, depois vamos para a cave, fazer gravações, beber, não é só tocar apenas, há uma amizade.
MDX – Descrevam num adjectivo o vosso álbum.
Sebas – Bliss.
Alex – Terror. O sentido do álbum é sobre estar aterrorizado, as letras falam disso. No fundo o álbum é um “hopefull nightmare” porque as letras falam as minhas esperanças mas também sobre os meus pesadelos sobre o presente e o futuro, então vejo o álbum como um pesadelo catártico, um pesadelo que quando sai te faz sentir muito melhor. Mas não é de maneira negativa, também é divertido ter pesadelos.
MDX – Porquê um álbum com 17 faixas?
Alex – Muitas das faixas são interlúdios porque está tudo interligado. Mas tínhamos de por os nomes todos porque gostamos de por temáticas escondidas no álbum. Por exemplo no 1º EP se leres todos os nomes das músicas por ordem, os títulos formam um poema. Neste álbum fomos pondo nomes de duos famosos por ordem cronológica, começando por folk acústico como Tyrannosaurus Rex. A estrutura do álbum centra-se na evolução do mundo desde o mundo mecânico, pré-eléctrico até o mundo mais efémero, abstracto. Então fomos pondo nomes de bandas em cada música de vários estilos de música terminando com Lucky Dragons, um duo de Los Angeles abstracto e digital. As 17 faixas ajudam a colocar estes nomes todos e, para nós, isto foi um processo épico e, por sua vez, o álbum também ficou um pouco épico.
Já tínhamos a estrutura do álbum antes de eu lesionar as costas mas era mais conceptual, falava do mundo em geral. Depois do acidente com as costas é que comecei a escrever as letras e percebi que o que eu estava a passar reflectia perfeitamente o que estávamos a falar. Então mudei muitas músicas a nível de letra e cada faixa é muito pessoal e subjectiva. As letras são bastante auto biográficas. O novo single que sai agora foi escrito sobre a minha experiência de ter andado sozinho pelo Gerês. Usei o Gerês para falar dos pontos altos onde a sociedade pode chegar.
Sebas – São 11 faixas com 6 ligações.
Alex – Posso adiantar também que a capa do álbum foi feita pela Mariana Dias da Cunha e ficou muito bonita. É uma mandala, uma peça de madeira com pinturas que ela fez e imagens religiosas no meio.
Sebas – É algo físico, não foi inventado em Photoshop.
MDX – O nome do álbum surge de onde?
Alex – Vem da temática que falei. Por um lado tem o nome de uma banda: No Age, um duo com quem tocámos em Inglaterra e, por outro lado, fala dos temas do álbum: a ideia de estarmos num momento histórico muito importante para a civilização ocidental. Estamos num ponto em que parece que, provavelmente, tudo vai cair ou salvamos a cultura ocidental. Pode ser o princípio do fim da western civilization ou o início de uma nova era muito mais iluminada. Eu sinto que muitas pessoas pensam nisto. A única característica da nossa era é só a ansiedade do que vem ou a nostalgia do que houve e dai é que vem o nome de esta gloriosa idade não existente. A temática do álbum baseia-se na filosofia de Marshall Mcluhan que falou dessa mudança do mundo mecânico até ao mundo electrónico.
MDX – Em 2011 foram considerados a melhor banda nova deste ano para o Blogue Anbad. Isso interferiu de alguma maneira no vosso percurso?
Sebas – Absolutamente nada.
Alex – Depois disso houve muitas repercussões rápidas mas eu destrui-as quando tive o acidente com as costas. Fomos convidados para a Eurosonic e algumas editoras boas mostraram interesse, muitas coisas aconteceram, já tínhamos bilhetes comprados e tudo, já tínhamos marcado a tournée europeia e tínhamos estúdio marcado para começar a gravar este álbum, íamos muito às rádios como a BBC, saímos em muitas revistas inglesas. Mas eu lesionei as costas e pensava que ia ser rápido mas demorei muito tempo a recuperar, foi uma pena, mas acontece. E no mundo da música, normalmente, tudo se baseia em novidades e se uma coisa tem o seu momento de aparecimento e depois passa, as pessoas agarram-se a outras bandas. Agora voltámos a despertar interesse com este álbum, mas tivemos que recomeçar algumas coisas.
MDX – Como foi para vocês a experiência de abrir o concerto de Unknown Mortal Orchestra?
Alex – Foi muito bom. Eu gosto deles, são muito bons e passámos um bom bocado com eles.
Sebas – Foi bom sim. Casa cheia e correu-nos muito bem.
MDX – Acham que vos deu mais visibilidade?
Alex – Não sei bem, nunca tenho muita consciência dessas coisas.
Sebas – Tentamos focar-nos mais na arte e não nesses aspectos.
MDX – O que estão a preparar para o concerto de dia 11 de Março?
Alex – Muitos convidados, vai estar lá o Jibóia e Lama a assegurar a primeira parte. É possível que usemos algum disfarce.
Sebas – Nós vamos tocar o disco do princípio ao fim com convidados. Octa Push vai fazer um live act depois.
Os Youthless tocam na próxima sexta-feira, dia 11 de Março no MusicBox. Tocam ainda no dia 12 nos Maus Hábitos, no Porto; dia 18 no Texas Bar em Leiria; dia 19 no Salão Brazil, em Coimbra e dia 1 de Abril no Stairway Club, em Cascais.
Vão lançar nos próximos dias um vídeo, lançar o álbum em Abril em Inglaterra, vão tocar a Galiza e, quem sabe, correr o resto da Europa.
Entrevista – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa