Numa pacata noite de quinta-feira, dia 17, os ventos de Coimbra trouxeram-nos a Ibéria Tour e, com ela, a Jigsaw & The Great Moonshiners Band. O palco do Popular Alvalade ganhou vida e um encanto especial numa noite que se tornou intimista e intimidante.
Com uma existência de quase 17 anos, este duo carrega às costas o peso da sabedoria e é capaz de nos trazer uma dualidade de sentimentos que passa pela nostalgia e amargura e para na serenidade.
O seu folk, com raízes grossas e profundas no blues e no country, consegue massajar qualquer alma e qualquer coração. Seria mentira afirmar que um concerto de a Jigsaw deixa alguém indiferente.
Rapidamente acordamos num clube perdido numa das ruas pouco iluminadas de Chicago ou do Texas. O clube mistura o fumo de cigarros com o de charutos e espalha um denso aroma a Whisky pelo ar. É naquele clube que passamos quase uma hora e meia e, se pudéssemos, ficaríamos o resto da noite.
Este duo que pode ser absorvido por uma silhueta escura e melancólica, traz consigo os The Great Moonshiners Band (Pedro Antunes, Vítor Torpedo e Guilherme Pimenta) e, com eles, o papel de dar um brilho à densidade que cobre a atmosfera. As letras são fortes, negras e obscuras assemelhando-se, por vezes, a chamamentos. A cantá-las, esta uma voz que tanto tem de sensual e cremosa como de áspera. No fundo da mente descobrem-se imagens de Johnny Cash, Leornad Cohen e até Tom Waits ou Bob Dylan.
Com uma formação um pouco diferente da inicial, desta feita com uma via ligeiramente mais eléctrica mas mantendo o toque melodioso e melancólico, onde se junta o banjo, a harmónica, a melodia rítmica com carícias doces das teclas e a confortante bateria acústica, a Jigsaw & The Great Moonshiners Band trouxeram tudo o que havia de melhor para o palco. Tanto as histórias sábias e sentidas que apareciam entre as músicas, como a descontracção e a boa música.
O alinhamento recaiu maioritariamente sobre No True Magic, álbum lançado em 2014, e ainda pairou sobre Rooftop Joe e Like The Wolf. O encore foi passado à frente e, logo de seguida, ouvimos a magia de “The Greatest Trick” e “His Secret”. Se a lua estivesse atrás deles, o cenário ficaria completo.
Os a Jigsaw vão seguir por caminhos lusos até meados de Maio, sigam-lhes o encanto e abracem o conforto da melancolia.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Nuno Cruz