Lançaram um dos álbuns de rock mais emblemáticos deste milénio e assumem-se como uma das bandas mais interessantes dentro do género. Foi preciso esperar vários anos para a sua estreia em Portugal, mas, finalmente, em 2016, Portugal teve o prazer de receber a visita dos canadianos Black Mountain. A estreia demorou, mas quando aconteceu Portugal teve direito a três datas: no festival Tremor, nos Açores, no Hard Club, no Porto, e no Musicbox, em Lisboa. O Música em Dx esteve nesta última data.
Sala esgotada e expectativas elevadas. Estes eram os antecedentes de uma estreia muito aguardada pelo público português, em particular pelos lisboetas, que na passada segunda-feira esperavam ansiosamente para ouvir os Black Mountain, que lançaram o carismático álbum homónimo em 2005, e que depois de seis anos afastados dos discos de originais regressaram com IV, que como o nome indica é o quarto álbum da banda e o motivo que os trouxe ao nosso país.
A abrir a noite estiveram os The Backhomes. A dupla oriunda do Canadá constituída por Kees Dekker e Aimée van Drimmelen tem dois álbuns de originais, com uma sonoridade assente na viagem sonora proporcionada por duas guitarras e uma voz partilhada pelos dois membros, com componentes electrónicas que ajudam a preencher o som da banda. Um projecto interessante, mas que nesta noite não teve o tempo nem o ambiente apropriados para demonstrar a sua essência: sala ainda a compor-se e apenas cerca de vinte minutos para actuação. Quando estávamos a começar a entrar na viagem apercebemo-nos que esta chegou ao fim. Talvez numa outra oportunidade e numa altura mais oportuna possam demonstrar mais eficazmente a sua qualidade.
Depois de um curto intervalo, chegaram os tão aguardados Black Mountain. O Musicbox já estava cheio e assim que soaram os primeiros riffs de Mothers of the Sun percebemos que estávamos a presenciar um concerto especial. Os riffs podiam ter saído do amplificador dos Black Sabbath algures nos anos 70, mas não, estamos mesmo em 2016 e a belíssima voz de Amber Weber até pode cortar com a intensidade das guitarras, mas, com uma combinação entre riffs pesados e arrastados e uma voz quase angelical, a banda canadiana demonstra como se consegue reinventar e continuar a soar relevante.
Como era expectável, o concerto focou-se essencialmente no novo álbum da banda, que será lançado no início de Abril, e foi tocado quase na totalidade (faltou a Constellations). Se o álbum já soa bem em estúdio, ao vivo ganha uma nova roupagem e torna-se mais intenso, e é neste registo que nos interiorizamos da qualidade da banda canadiana. As guitarras parecem ganhar mais força e as teclas ajudam a criar um ambiente mais atmosférico, traduzindo-se numa viagem onde recuperamos o rock psicadélico dos anos 70, saltamos até aos riffs pujantes de um stoner rock mais moderno e baixamos a intensidade com alguma melodia, em alguns momentos até num registo mais pop.
Mas não só de músicas novas se fez o concerto, e houve tempo para recuperar temas emblemáticos como Stormy High, Tyrants ou Druganaut, onde o entusiasmo do público aumentou ligeiramente, apesar de o concerto ter sido sempre de grande entusiasmo e intensidade. Depois de Space to Bakersfield, a banda saiu de palco e regressou para um encore, onde tocou The Chain e a clássica Wucan.
Para quem esperou tanto tempo pela estreia dos Black Mountain em Portugal fica a sensação que faltaram alguns temas mais antigos (Set us Free, talvez pelo mediatismo, terá sido a ausência mais sentida), o que não manchou um excelente concerto, que não desiludiu e comprovou a qualidade da banda canadiana. Esperamos que regressem brevemente.
Texto – Pedro Reis
Fotografia – Luis Sousa