Sábado, dia 2 de Abril, Lisboa. A noite não convidava a sair. Cidade entupida pelo trânsito, acumulado a contas com a chuva que teimava em cair. O nosso sentido de dever, e a força de um pretexto maior, tirou-nos do sofá. Lá fomos. A razão chamava-se Linda Martini, e prometia trazer uma noite de gozo à antiga, daquelas de menino, dos tempos em que brincávamos na rua. “Sirumba” era o nome, suficiente, fosse ou não pretexto.
A banda apresentava-se no Coliseu dos Recreios em Lisboa para mostrar o mais recente trabalho, lançado no dia anterior, a mais pura das verdades em dia de mentiras. Chegados a esta mítica sala de espetáculos em Lisboa, percebemos que ia ser uma noite de casa cheia. Daquelas que só acontecem com as grandes bandas. Os fãs chegavam, ainda ofegantes por uma corrida na rua como quem foge da chuva, e rapidamente se colocavam de forma ordeira para entrar. Nós aguardávamos a hora certa para começar o nosso trabalho. Ligeiramente depois da hora combinada, lá entravam aqueles que eram em tempos conhecidos pelos putos de Queluz, o André, a Cláudia, o Pedro e o Hélio . A chamada linha de Sintra sempre foi pródiga na criação de boa música, e os Linda Martini herdaram dessa característica também.
Começava o concerto com as duas malhas já conhecidas do novo “Sirumba”, os temas “Unicórnio de Sta. Engrácia” e “Sirumba”, concerto que todos ansiavam á muito tempo. Começou da melhor maneira, dizemos nós. Era a forma ideal para iniciar ao vivo um novo trabalho pois estes foram os temas que rodaram nas rádios nos últimos tempos.
A presença dos Linda Martini nos Coliseus é um momento único, e por isto em jeito de piada André “informava” o público que “António Zambujo e Miguel Araújo estão hoje de férias”, como quem diz, a noite no Coliseu seria só deles. Iniciava-se uma maratona – daquelas boas que não fazem doer os pés – de 17 músicas até ao primeiro encore, e fazia-se história enquanto se misturava no alinhamento temas antigos com alguns dos novos temas como “Putos Bons” – que Hélio dedicava a todos os “putos bons e aos outros também” – “Comer por Dois”, “Dentes de Mentiroso” – que Cláudia dedicava ao Pai que estaria , ou talvez não, no meio do público, e a um alguém que tinha atirado um cravo para o palco ou não fosse Abril o mês mais apropriado para o fazer.
Ainda de “Sirumba”, seguiam-se “Bom Partido” e “Farda Limpa”, momento que Hélio aproveitava para agradecer a todo o staff técnico que os tem ajudado nesta vida de vários anos de estrada. Entre novos temas, o público era brindado com “Juventude Sónica”, “Amor Combate”, “Mulher-a-dias”, “Estuque”, “Volta”, “Dá-me a tua melhor faca” ou “Ratos”, temas que trouxeram alguns moches e vários momentos de crowdsurf entre os fãs mais enérgicos, e para surpresa de todos, Claudia a terminar “Amigos Mortais” com um assobio a solo, ao género das melhores bandas sonoras de filmes de western, daqueles que passavam nas tardes de sábado na TV, prestação que seria agraciada pelo público com muitas palmas.
Já a noite ia longa, quando a banda se ausentava do palco para o primeiro encore. A maioria do público “gritava” em modo afinado o seu regresso para cantar “Cem Metros Sereia”, tema que seria guardado para próximo do final do concerto. Regressavam os quatro para tocar mais cinco temas, entre eles “Dez Tostões”, “Panteão”, ou “Cem Metros Sereia” para tirar o pé do chão, Hélio confidenciar que seria um bom dia para casar, e o Pedro atirar-se ao público em modo crowdsurf também. A banda não se ia embora sem um segundo encore, e voltar para um último tema, “O amor é não haver polícia” do album “Olhos de Mongol”.
Foi uma grande noite para os Linda Martini num Coliseu dos Recreios quase, quase, esgotado. A opção de entrelaçar os mais emblemáticos temas antigos com os temas do novo album foi muito acertada, ou não tivesse “Sirumba” ter sido lançado no dia anterior. Este “Sirumba” demonstra-nos a maturidade própria de quem já tem mais de 13 anos de existência e a crescer de forma sólida. A continuar assim podemos dizer que estaremos a assistir ao percurso de uma das maiores bandas portuguesas de sempre. Voltámos para casa de “barriga cheia”, e até a chuva acalmava com tamanha festa que tinha acontecido no Coliseu.
Texto – Carla Santos
Fotografia – Luis Sousa