Na passada quarta-feira o MusicBox teve um convidado peculiar, e aperaltou-se para a ocasião. Houve cadeiras e mesas dispostas frente ao palco, o público também apresentou-se em grande número, e Willis Earl Beal não demorou mais do que o necessário a entrar em palco, com um copo de vinho e cigarro na mão.
Logo no primeiro instante o artista deixou claro que haveria três regras neste espectáculo. Regra número um, os aplausos não eram permitidos. Regra número dois, ninguém podia estar de pé. Regra número três, se o espectáculo estivesse a ser chato para alguém, que saísse. E enquanto as pessoas se iam sentando no chão ele descalçou-se para fazer algumas flexões e alongamentos. Com o aquecimento feito seria de pensar que por fim o concerto em concreto teria início, mas ainda faltava um sound-check de última hora. Willis queria ter tudo perfeito para nós, a ideia era soar como a voz de Deus.
Por fim, escondido debaixo de luzes azuis, fumo, um chapéu e a sua máscara (a ideia era realmente estar escondido do público), o concerto começou. Flying So Low foi um dos temas da noite, um dos momentos mais calmos, mas os melhores momentos foram sem dúvida os pequenos discursos. Com um forte niilismo existencial e negativo hipnotizou e questionou o público, ironicamente dizia “Do you like me? Please like me!”, nesses curtos espaços de tempo pôs sempre tudo em questão. Mais à frente tirou o cinto das suas calças e bateu com ele pelas paredes e no chão, gritando “don’t make noise in the church!”.
Interpretou também à capella Why Try To Change Me Now? Do Frank Sinatra e, explicou o porquê de não ter uma banda, pois afinal de contas ninguém tem um banda atrás de si quando vai na rua. Teve ainda que nos refrear de aplaudir, e explicou o seu ponto de vista frente ao capitalismo, como tal sistema torna a indústria da música tão maldosa, e tudo o que ele quer é ter dinheiro suficiente para viver num forte solitário, que depois de chegar a esse ponto não voltará a incomodar ninguém. Após essa explicação deu a noite por encerrada, deixou um apelo para comprarem a sua música e saiu do palco ao som de aplausos há muito contidos. Nem todos os concertos são deste cariz, deveria haver mais concertos assim.
Texto – Samuel Pereira
Fotografia – Ana Pereira