Se os Capitão Fausto têm os dias contados, é um facto. Mas o fim não está para breve, garante a banda. O mais recente álbum foi lançado recentemente e com o concerto de apresentação em Lisboa à porta, nada melhor do que o Música em DX conversar com a banda e perceber o que de novo a banda lisboeta nos tem para oferecer.
Uma coisa que salta à vista neste disco é a rutura que fazem com o Pesar o Sol. Há dois anos, era comum associá-los com os Tame Impala, pelo registo mais psicadélico. Por isso, quando se pergunta se este álbum é uma saída de um armário que já não pertenciam e se foi fácil descobrir a nova faceta pop, a resposta acaba por ser peremptória.
“Foi tão fácil como no outro disco. Nós não planeamos em antemão que tipo de música queremos fazer. Sabemos apenas o que não queremos repetir, o resto surge naturalmente. A dificuldade foi chegar ao arranjo ideal para cada canção.”
Sendo um álbum que está a ser muito bem recebido pela crítica, alguns mais cépticos poderão estranhar em como este é o melhor registo até à data. Entendo o melhor como uma superação constante, o que a banda entende é que este disco é o que entusiasma mais, como todos os que são lançados.
“Se estivessem sempre pegados a uma altura passada não seriam muito felizes.”
A ambiguidade do título “Capitão Fausto têm os dias contados”, faz pensar o ouvinte/leitor/espectador/fã da banda que das duas uma. Ou estão à beira de acabar ou poderá ser uma indirecta para alguém. Na realidade é uma associação entre as letras, que suscitam a relação entre a morte e o presente. “Vou morrer mas antes vou aproveitar bem”, como aparece Morro na Praia, é uma prova que sustenta a teoria. Quando ao fim da banda, a garantia é clara.
“Vamos de facto acabar e temos mesmo os dias contados. Só que não é para breve.”
A exploração desta relação presente-futuro, aprofundada ao longo de todo o álbum, reflecte também uma navegação pela maionese, na incerteza que é a vida. Mas como descrever a nossa geração?
“A nossa geração tem um pouco de tudo. Conhecemos pessoas que passaram a adolescência toda a preparar o futuro e, aos nossos olhos, perderam algumas coisas importantes. Mas também muitas que só conseguem aproveitar presente e têm o futuro incerto (como já dizia o Beto, o cantor). Nós estamos um bocado no meio, então temos tudo incerto.”
Um apontamento interessante também deste trabalho é também a presença de um quarteto de sopros, que aparece em “Semana em Semana” mas também noutras cinco canções. Mas como é que aconteceu?
“Foi uma mistura de acaso e vontade antiga. Sempre ouvimos e gostamos muito de música pop com esse tipo de orquestração. A meio da composição do disco reparámos que havia espaço para esses instrumentos. Ficámos muito contentes com o resultado.”
Ter este resultado acaba por ser maior do que a soma das partes, mas essas partes surgem do quotidiano da banda. Seja dos outros projectos (embora este termo pareça na opinião da banda “obrigação universitária”), seja da relação de cinco amigos há 10 anos. Mas chega a ser várias partes até no que andam a ouvir nos últimos tempos, já que ouvem “algures entre Neil Young e Diego Miranda”.
O que quer que tenham ouvido, deu o resultado que foi um dos melhores álbuns de 2016 em Portugal.
Próximas datas:
28 de Abril – Lux Frágil, Lisboa
29 de Abril – Lux Frágil, Lisboa
30 de Abril – Texas Bar, Leiria
6 de Maio – Auditório AJCOI, Pinhal Novo
13 de Maio – Castelo Santiago da Barra, Viana do Castelo
14 de Maio – GNRation, Braga
15 de Maio – Aqui Base Tango, Coimbra
+info em https://www.facebook.com/capitaofausto/?fref=ts
Entrevista – Carlos Sousa Vieira