Nem sempre nos sobram forças para, após um longo e cansativo dia de trabalho, largar o conforto da nossa casa, deixar tudo por fazer, e sair em direcção a Lisboa para uma noite de música. Apesar de, a passada 4ªfeira dia 27 de Abril, ter sido um desses dias em que a vontade insiste em nos contrariar o cumprir do dever acordado, lá fomos em direcção à Galeria Zé dos Bois.
Sabíamos de antemão que iria ser especial, que voltaríamos para casa com um sorriso largo no rosto, e talvez tenha sido essa força extra que nos fez lá chegar. Somos recebidos pelo ambiente à média luz junto ao bar com a oferta caseira, simpática, de uma fatia de bolo. Era afinal um dia de festejo, Carlos Medeiros, Pedro LucasIan, Carlo Mendoza e Augusto Macedo, Medeiros/Lucas, estavam prestes a apresentar oficialmente “Terra do Corpo” . O segundo trabalho deste par, após “Mar Aberto” lançado no ano passado, era à algumas semanas um dos álbuns que não nos cansávamos de ouvir. Editado pela Lovers & Lollypops, apresentavam-nos à algumas semanas como sendo um dos álbuns do ano. Arriscado, pois claro, ou não estivéssemos ainda em Abril e com tanta música ainda por estrear em Portugal. Faltava-nos por isto o condimento especial de um concerto ao vivo, sempre diferente de uma audição das mesmas faixas gravadas, re-gravadas, re-arranjadas, e outros “re’s” próprios de um trabalho gravado que se pretende lançar ao público.
O já famoso aquário da ZDB estava cheio e preparado para receber “Terra do Corpo” de Medeiros/Lucas. Iniciado o concerto rapidamente nos apercebemos que as nossas expectativas estavam a ser cumpridas, senão superadas, e que a nossa alma estava rejuvenescida. O suposto cansaço do dia de trabalho já ia longe quando Pedro anunciava que a noite iria ser preenchida com o novo trabalho, mas também com alguns temas do trabalho anterior.
Aos primeiros acordes de guitarra de Pedro, Carlos respondia com as primeiras palavras em tom próprio de quem tem este dom. Começavam a noite com “Sístole Perdida” sem a companhia de Filho da Mãe ou Tó Trips, e “Safra de Gente” seria o tema que se seguia. O nosso trabalho seria bem mais simples se escrevêssemos a sequência do concerto, os temas um a um. No entanto, uma noite destas não se poderia assim descrever assim. É impossível descrever na perfeição a quanta sintonia acontece em Medeiros/Lucas, em quanta simplicidade Carlos olha e agradece ao seu público, ou o quanto nervosismo de Pedro que coça a cabeça, ou sorri cabisbaixo para o resto da banda, sem jeito, sempre que termina um tema. Da noite fizeram parte ainda temas de “Mar Aberto” como “Fado do Regresso” ou “Fado do Marujo” no encore, mas, como não poderia deixar de ser pela sua participação especial no novo álbum, a grande surpresa estava guardada para a subida ao palco de Selma Uamusse no lindíssimo tema “Corpo Vazio”.
Pensávamos nós, quando saíamos de casa em direcção a Lisboa, que não poderíamos arriscar já dizendo que “Terra do Corpo” seria um dos álbuns do ano. Voltámos para casa com a certeza que, aconteça o que vier a acontecer, já nada nos tirará da certeza que o novo trabalho de Carlos Medeiros, Pedro Lucas, e restante banda, é sem qualquer dúvida demasiado especial para não ser um dos grandíssimos trabalhos de 2016.
Texto – Carla Santos
Fotografia – Luis Sousa