Crónicas Opinião

Benjamin Clementine, condolência de um passado

“I saw a girl in my class who had a toy piano. I asked if I could play and she said no, so I waited till she went for lunch and I took it home. I played, I heard sounds, I just liked it, I didn’t understand why. The next day, obviously, I brought it back, after a bit of trouble with my parents. I got into detention but that was one of the best unforgettable moments of my life”.

Benjamin Clementine

Benjamim Saint-Clementine, Londres 4 de Dezembro de 1988. Último de 5 irmãos, viveu a infância e parte da adolescência na zona norte da cidade.

Maçãs do rosto vincadas, de expressão forte e com o sorriso escondido no canto dos olhos. Corpo esguio no prolongamento da guitarra. Dedos suficientemente longos que exorcizam nas teclas do piano, as vivências sofridas, começar a tocar aos 11 anos no piano do seu irmão mais velho e ganha o gosto pelos compositores clássicos, nomeadamente Erik Satie, pois a música pop aborrecia-o.

Aos 16 anos entra em processo de negação com a escola e, a disciplina de Literatura Inglesa, foi a única que lhe despertou interesse. Apaixonado por literatura europeia desde muito jovem, devorava dicionários, e clássicos como William Blake, Shakespear, Rimbaud e Baudelaire, nas livrarias de Londres. Nega o liceu e abandona-o, como também a sua família e inicia o longo processo de vida incerta (há quem lhe chame vida de sem-abrigo).

Aos 19 anos ruma a Paris e depois de várias tentativas falhadas de trabalhos menos interessantes, começa a tocar em bares, hotéis e no metro (a rua é o seu lar).

Montmartre, bairro dos artistas e dos poetas, por excelência. Por 20€ ao dia, dividia um quarto com mais 9 camas (além da sua). Uma guitarra em mau estado e um teclado em 3ª mão eram os seus pertences.Durante o dia escreve e compõe, e à noite canta as suas músicas. Influências de Nina Simone, Tom Waits e Nick Cave, consegue um registo singular que é tendencialmente uma panóplia de estilos musicais, minimalista, opera-rock, avant garde, etc.

Saint-Clementine é um conto de fadas sendo ele próprio a Fada! Em 2012 alguém se vislumbra com o seu talento e depois de uma actuação no Festival de Cannes, Lionel Bensemoun torna-se seu agente proporcionando-lhe a gravação do seu primeiro álbum, “Glorius You” pela Behind Record, que sai para as lojas em 2014. A partir desse momento os convites foram surgindo, as suas actuações foram-se intensificando e a entrega a esta nova vida de cantor-compositor foi total. Presenças em festivais de renome na europa e Canadá, como Montreux Jazz Festival (Canadá) e Eurosonic Festival (Holanda) foram-lhe conferindo notoriedade e alavancaram o seu sucesso. Em 2015 lança o seu segundo álbum, “At Least For Now”,pela Virgin EMI. Temas como Condolence e Adios já se tornaram momentos altos nas suas actuações. Benjamin Clementine é poeta, pianista (e guitarrista) e compositor. A sua voz eleva a vivência do seu passado-recente e projecta as palavras que, apesar de impregnadas de dor, contam retratos de esperança e de amor.

“And no wonder why the road seems so long Cause I had done it all before, And I Won(…)” Condolence

Esteve em Julho do ano passado em Lisboa (Super Bock Super Rock 2015) e voltou em Novembro onde actuou em Braga, Aveiro, Porto e Lisboa (Mexefest 2015). Dia 1 de Junho (Dia Internacional da Criança!) toca no Coliseu dos Recreios em Lisboa, dia 2 de Junho no Coliseu do Porto e dia 3 de Junho em Coimbra no Convento de São Francisco. Serão certamente excelentes concertos!

+info em https://www.musicaemdx.pt/events/benjamin-clementine/

Texto – Carla Sancho