O Reverence Valada tem-nos apresentado noites especiais e de culto em forma de Reverence Underground Sessions no Sabotage Rock Club. Desta feita, os convidados foram os Mão Morta que esgotaram as noites de Sexta-Feira e de Sábado. Estivémos presentes no primeiro concerto e, se pudéssemos, estaríamos no segundo e em dias a seguir até que o cansaço os vencesse. A eles e a nós.
É inexplicável ver uma banda com 31 anos de carreira voltar aos clubes e aos palcos mais pequenos. É inexplicável, também, o espectáculo que proporcionaram e as emoções que causaram como se de um momento único e mágico se tratasse.
O palco era demasiado pequeno para os 6 elementos, os 6 instrumentos e a bagagem musical que carregam. No entanto, talvez este aspecto esteja no cerne da magia existente à volta desta noite. Os Mão Morta sentiram-se em casa e nós também.
Eram noites para voltar às origens, tanto fisicamente como musicalmente. Ninguém sabia o que ia acontecer naquela cave mas a verdade é que ninguém saiu descontente. Uma harmonia e conforto circulavam pelo ar abafado e a satisfação reinou durante mais de 1h30 de concerto. Ninguém queria que acabasse! O fim não era uma saída, mesmo o fim de algo bom.
Em cima daquele palco a poética negra e de intervenção soou mais alto. Suplícios, lamentos e desalentos faziam parte das letras. Adolfo, com a sua voz insólita, penetrava na mente e nos sentidos de todos. O instrumental, composto por três guitarras, baixo e bateria mostrava-se coeso e maduro. A densidade sonora que saia pelas colunas era algo assustadoramente confortante e, por vezes, enchia-nos daquela tranquilidade inquietante que nos leva a questionar onde estamos ou quem somos. Os solos de guitarra sugavam-nos como ímanes e Adolfo dançava e encenava gestos e truques ao ritmo do som que era criado com mestria pelas cordas, ao mesmo tempo que o suor lhe escorria pelo corpo.
O público ia explodindo e ecoava com vozes elevadas as letras que se recitavam. A comunhão estava criada e a alma levitava, tal como a humidade, pelo ar. Ouviam-se gritos e apelos! A “1º de Novembro” ficou apenas entre o coro feito pelo público no intervalo do concerto. Ouvimos, entre outras,“Oub’Lá”; “E se Depois”; “Hipótese de Suicídio”, do último álbum, onde Adolfo afirma que aqui se “dá o encontro do passado com o presente à luz de velas vermelhas para bem do nosso futuro”; “Budapeste”; “Charles Manson” ou Tira a Camisa, segundo Adolfo; “Barcelona” e “Anarquista Duval”. O encore foi feito como uma segunda parte e pudemos ouvir “Facas em Sangue”, “Maria, Oh Maria”, “Lisboa”, “Até Cair” e “Horas de Matar”. Na faixa “Até Cair” Adolfo faz um stage diving, uma viagem, que afirmou curta, mas emocionante. Ao longo do concerto foram ainda feitas pequenas analogias e ironias com os “franceses”.
Parabéns Reverence e parabéns Sabotage por mais uma noite especial! Obrigada Mão Morta por todos os locais onde nos guiaram e por todos os sorrisos e arrepios que causaram.
Que as mãos nunca morram, que a essência do rock esteja sempre presente e que o concerto de Sábado tenha sido tão especial como este.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Reverence Valada