Era uma quinta-feira quente, dia 02 de Junho e o Paradise Garage estava prestes a criar uma atmosfera ainda mais quente e eufórica. Cerca de um ano e meio depois da sua vinda a Portugal, os D-A-D estavam de volta e prometiam uma noite de puro rock’n’roll que remetia para os álbuns mais antigos da banda.
A primeira parte do espectáculo ficou a cargo da banda União das Tribos. Confesso que foi uma escolha que me deixou com alguma perplexidade. A falta de conexão e ligação entre as duas bandas era gritante: numa, tínhamos a essência do rock’n’roll e na outra, uma boys band de pop rock com um frontman que leva o toque de performer ao exagero. Dos 5 elementos, 2 são os que marcam a diferença e trazem à banda algo de especial, eles são o António Corte-Real (UHF) na guitarra e o Wilson Silva (More Than a Thousand) na bateria. Ao ouvir estes dois rapazes a fazer a sua arte conseguíamos, por instantes, esquecer a espécie de tortura auditiva que se estava a viver, e viveu, durante cerca de 40 minutos. Os excessos eram uma constante. Desde gritos, a arrastamentos de voz desenquadrados, a comentários desinteressantes e a letras fáceis. Os momentos altos da noite foram quando tocaram a cover “Canção do Engate” de António Variações e a “Rockin’In a Free World” de Neil Young com João Beato. Não quero de todo desvalorizar a banda, apenas referir que um concerto de rock merecia mais garra e força na sua primeira parte.
Uma sala esgotada esperava-os. A ânsia sentia-se ao longe e a vontade de regressar às décadas de 80 e 90 estava estampada na cara do público.
Com uma espécie de papel de parede com um quadro ao centro como pano de fundo, invadem o palco os 4 reis do rock’n’roll prontos a proporcionar uma noite memorável. O baixista, tal Napoleão, toca a 2 cordas com 2 baixos com design próprio e cativante. Rapidamente começam a fazer estremecer a sala com um rock puro, sem aditivos. O público fica extasiado e Jesper, o vocalista, informa que o concerto vai ser dividido em 2 partes, sendo que cada uma corresponde a um álbum clássico da banda. Assim foi! A primeira parte do concerto foi mais “tranquila” e dedicou-se ao Riskin’ It All de 1991 e a segunda parte, mais explosiva e quase sem pausas, com o álbum No Fuel Left For The Pilgrims de 1989, tocado inversamente.
Os mais de 30 anos de carreira não lhes pesam. Os anos não passaram pela energia e garra que têm e em cima do palco conseguem construir ondas electrizantes e imaculadas que contagiam o público. Este, sedento de malhas e rock’n’roll entoa em coro faixas como “Bad Craziness”, “I Wont Cut My Hair”, “Grow or Pay”, “Laugh ‘n’ A ½”, “Point Of View”, “Jihad” e, “Sleeping My Day Away”, claro! Esta, a última faixa do concerto, trouxe a euforia e alegria de um adolescente de secundário à descoberta dos primeiros riffs. Aqui, vimo-nos todos desarmados e um tanto emotivos com a magnitude e carácter que transporta esta música, desde o seu lançamento até aos dias de hoje, e fizemos-lhe uma vénia. À faixa e a eles!
A segunda parte do concerto conseguiu acelerar o coração de todos e guiar-nos por um caminho mais rock’n’heavy, mais hard rock. Os solos de guitarra faziam-nos sair do nosso corpo, que entrou em modo headbanging automaticamente; a voz, madura e sabia, capaz de assumir várias formas e enquadrar-se em todas as melodias era a guia da alma; e a bateria criava um ritmo alucinante que, por vezes, não se conseguia acompanhar. Tudo isto entre piadas e simpatia espalhada entre eles e entre eles e o público.
Foi uma noite memorável onde durante cerca de 2h20 saboreamos a mestria e o peso de cada acorde da música deste quarteto dinamarquês.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Prime Artists