Estava um dia cinzento e as nuvens pareciam não querer seguir o seu caminho. Era dia 9 de Junho e o Parque da Cidade do Porto abria as suas portas, para aquele que, em minha opinião, é um dos melhores festivais de Portugal, o NOS Primavera Sound. Era a 5ª edição e a composição do cartaz, das mais variadas tonalidades e gostos, fazia estremecer.
Infelizmente não me foi possível chegar a tempo de assistir a Sensible Soccers, mas talvez não preciso de assistir para dizer que, certamente, foi um concerto grandioso.
U.S. Girls
No palco principal, defronte a um público ainda recatado, está a americana U.S. Girls acompanhada de uma 2ª voz feminina. Sintetizadores e samples eram o material de trabalho. Alguma loucura e gritos em cima do palco acompanharam o concerto que conteve algumas faixas do último álbum Half Free. Com arranjos um pouco diferentes do que se ouve em estúdio, para além de uma pop electrónica, ouvem-se ainda contornos e r’n’b e alguns beats de hip hop. O concerto terminou com Meg a distribuir flores para o público e a varrer os vestígios das mesmas no palco. Um concerto que ficou aquém das expectativas.
Wild Nothing
Para apaziguar tudo, no palco ao lado, iriam começar os Wild Nothing. Cinco rapazes, um novo disco (Life Of Pause) e a magia do seu dream e indie pop. Houvesse sol e estaríamos perante o fim de tarde perfeito. Trouxeram-nos ondas apaixonantes de boa energia e paz. Ao longo do relvado viam-se corpos a ser colhidos sensualmente pelas vagas sonoras. A voz, suave e melódica quase que obrigava a fechar os olhos e a passear de mãos dadas com alguém especial. Foi uma hora repleta de boas energias onde a “Nocturne” e a “Paradise” levaram o público ao êxtase. Para terminar, Jack afirma que devemos todos deslocar-nos ao palco ao lado, para ver a sua banda preferida, os Deerhunter.
Deerhunter
Os Deerhunter são seis e trazem com eles uma amálgama de instrumentos e sabedoria. A celebrar 15 anos de carreira, vieram fazer jus às aclamações que têm surgido nestes anos à sua volta e oferecer-nos um momento de magia e recordações. As distorções das guitarras, electrizantes, caminhavam de mãos dadas com o saxofone e as percussões. Os sintetizadores levavam-nos a abanar a anca e a sorrir. As camadas de estilos musicais existentes não tinham fim, desde o shoegaze ao art rock e indie rock, passando pelo ambient e pela pop. O concerto foi centrado nos últimos álbuns da banda: Fading Frontier, Monomania e Halcyon Digest. Apesar de Bradford passar o tempo a falar em espanhol, os Deerhunter foram recebidos com um sorriso que se manteve até ao fim do concerto.
Sigur Rós
Eis que chega o concerto mais aguardado da noite. Os Sigur Rós aparecem em palco dentro de uma espécie de jaula, com um bosque escuro às costas e com sons ofuscantes de intro. Rapidamente começa a entrar-nos pelos ouvidos e por todo o corpo um som sublime e divino. O experimentalismo é suave e profundo e por vezes inquietante, próprio para elevar almas e criar uma envolvência mágica e de comunhão perfeita. Felizmente, em meu redor, o silêncio abundava, o que me proporcionou uma viagem longa, tranquila e maravilhosa de olhos fechados. Para além de toda a composição de vídeo e luzes surpreendente, no ecrã aparecem a tocar com um brilho e uma aura a sair-lhes do corpo e, certamente, que se filmassem o público, muitos apareceriam assim também. As faixas, longas, complexas e corpulentas, tornam aqueles três seres grandiosos e geniais. Criam-se tempestades auditivas e os olhos ficam húmidos, por momentos sentíamo-nos a planar sobre o recinto e a rasgar o céu negro e misterioso. Tocaram um pouco de cada álbum e saíram sem dizer nada para regressarem depois com o encantamento de “Popplagið” e, despedir-se, após 1h30, com uma vénia. Vénia essa retribuída por todos nós, que ficaríamos ali mais umas horas. Foi, garantidamente, o concerto mais bonito e envolvente do primeiro dia de festival.
Parquet Courts
Ainda em fase de transe caminhávamos para o palco ao lado. Num instante deixávamos a beleza e o divino para trás e mergulhávamos nas ondas de energia electrizante dos Parquet Courts. Tão crescidos que estão! Quem os viu em 2014 no Optimus Alive pode notar as diferenças de maturidade e postura. Vinham cheios de força e dispostos a fazer mexer tudo e todos. O seu punk tem diversos tons e transforma-se por vezes em garage e que bem que lhes ficam esses tons! As novíssimas “Dust”, “Human Performance”, “One Man No City” e “Outside”, entre outras provaram que Human Performance não é só um bom disco de estúdio e que, em palco supera tudo. Do alinhamento ainda fizeram parte “Black & White”, “Bodies Made Of”, “Borrowed Time”, “Content Nausea” e “Sumbathing Animal” e muitas outras mais. Sim! Porque o punk quer-se rápido e sem muitas pausas! Nem a chuva que caia afastou ou intimidou as pessoas, tendo havido mosh e crowdsurfing para completar a paisagem. O segundo melhor concerto deste dia!
Animal Collective
Para encerrar e acalmar os corações, algo para disfrutar apenas. Três rapazes em frente às suas mesas de mistura e sintetizadores traziam-nos a electrónica mais experimental possível. Serviram um set carregado de cores, formas e melodias esquizofrénicas. Dançava-se ao som de explosões sonoras que tanto atingiam o clímax como desciam a pique para a calmaria. Os reflexos das imagens e cores fortes que vinham do palco, apareciam na cara e sorriso das pessoas.
Assim terminou o primeiro dia de festival, carregado de emoções e sabedoria musicais. A cama aguardava pelo merecido descanso e a alma tinha de se recompor para o dia que se aproximava.
NOS Primavera Sound’16 Dia 10
NOS Primavera Sound’16 Dia 11
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Hugo Lima | NOS Primavera Sound 2016