Mais um dia nos esperava no Parque da Cidade do Porto. Por sinal, um dia carregado de emoções, concertos bons e para todos os gostos e paladares. As pilhas estavam recarregadas e toda a gente estava pronta para iniciar uma nova jornada.
White Haus
Nada melhor que começar o festival a dançar sob um sol brilhante. White Haus, que responde pelo nome de João Vieira (X-Wife e Dj Kitten) trazia com ele a sua pop electrónica banhada a ondas de disco sound e electrónica minimal. Ritmos apetecíveis e extramente dançáveis apoderavam-se do nosso corpo e impediam-no de ficar parado. Não se trata da música electrónica que muitos estão acostumados a ouvir, trata-se de uma viagem às pistas de dança dos finais dos anos 70 e inícios de 80, onde os sintetizadores e o baixo tinham supremacia. Afirmou que estava prestes a lançar um novo álbum e que decidiu experimentar algumas músicas ali. Ia intercalando as músicas novas com as já conhecidas e, na verdade, o público aderiu da melhor maneira aos novos sons.
Cass McCombs
Era tempo de usufruir de um pequeno relaxamento. A música de Cass McCombs pede descontracção e rabos sentados na relva. Ao contrário do que seria previsto, não apresentaram o novo álbum – Mangy Love. Em cerca de 50 minutos tocaram apenas 6 faixas que compreendiam os álbuns Big Wheel And Others, Catacombs, Wit’s End e uma faixa de Mangy Love. As faixas longas e serenas, carregadas de distorções e sintetizadores revelavam um rock tímido e um indie rock mesclado com folk que se tornava num belo elixir para a tranquilidade. Apesar da degustação estar a ser agradável, as faixas deviam ser mais curtas e menos monótonas.
Destroyer
Mais um caminho a percorrer para o palco ao lado, desta vez para sermos envoltos numa delícia musical a cheirar a encantamento divino. Dan Bejar tem um dom para a composição e, não fosse isso um grande feito, ainda completa com um voz aveludada que arrepia. Eram 8 em cima do palco e o som que saia pelas colunas revela-se dono de uma complexidade sonora capaz de criar magia. Os instrumentos de sopro fazem toda a diferença e sugam-nos para um universo paralelo de romantismo e magnitude. De Poison Season ouvimos músicas como “Forces From Above”, “Times Square” e “Dream Love” e de Kaputt, “Chinatown”, “Kaputt”, “Suicide Demo For Kara Walker”, “Song For America” e “Bay Of Pigs”, entre outras. Um concerto bonito e majestoso em toda a sua envolvência, como sempre!
Brian Wilson
O concerto mais aguardado estava prestes a começar e um nervoso miudinho começa a subir-me a espinha. A mim e, certamente, a 80% do público. Não é todos os dias que vemos um génio em cima do palco. É indiscritível o que este Senhor trouxe para a história da música e o tamanho da sua contribuição para o nosso crescimento musical. Apesar do peso da idade se reflectir na sua prestação em palco, tanto em força como na voz, como na maneira de tocar piano, não deixou de ser um concerto imponente, histórico, mágico e nostálgico. Muitas memórias se recriaram ali perante aquelas 11 pessoas que pisavam o palco, debaixo daquele sol alaranjado. O som ia-se perdendo entre o vento que se fazia sentir e a voz, frágil, por vezes não se ouvia. No entanto nunca poderia apontar isto para dizer que foi um concerto mau. Não foi! Foi delicioso e dancei de sorriso rasgado no rosto e de lágrima a querer aparecer ao som de “California Girls”, “Don’t Worry Baby”, “Wouldn’t It Be Nice”, “God Only Knows”, “Pet Sounds”, “Good Vibrations”, “Surfin’ U.S.A.” e “Fun, Fun, Fun”. Em cima daquele palco não se celebrou apenas o 50º Aniversário de Pet Sounds. Em cima daquele palco e abaixo dele as almas uniam-se e mostravam toda a nostalgia e contentamento por estarem ai. Obrigada por isso Brian e por tudo o que fizeste por nós e pela música!
Savages
A terra preparava-se para tremer. Estávamos prestes a ser arrastados por um furacão com uma força tremenda! Nunca tive um aspecto negativo para apontar a um concerto de Savages e não terei agora. Selvagens e ferozes, este quarteto dá tudo o que tem e ainda mais. Apesar de Jehnny ter avisado no início do concerto que estava com dores nas costas e que estava limitada de movimentos, passando para o público a responsabilidade da agitação, não parou um segundo! Todas as dores fossem assim e o mundo seria mais feliz! Ele era saltos, corridas de um lado para o outro, gritos, encontros com o público e até stage diving. A intensidade deste concerto foi demasiado elevada e o poder e presença que têm em palco de louvar. A voz faz estremecer o cão e post-punk que tocam faz-nos estremecer, a nós, por dentro. O concerto dividiu-se entre Silence Yourself e Adore Life, terminando com “Fuckers”, deixando-nos, completamente, sem norte.
PJ Harvey
Num piscar de olhos passaríamos do 80 para o 8. Apesar de ter escutado o álbum novo e saber que Polly se encontrava a caminhar por estradas mais luminosas e serenas, mantive a expectativa de assistir a um concerto de rock à antiga, coberto de movimento e expressão. A expressão e a intensidade estiveram lá do início ao fim e a entrega foi total, mas sem as explosões características. Com uma entrada digna do talento que possuí, rompe o palco com uma marcha lenta e acompanhada por 10 músicos, entre os quais, John Parish. Instrumentos de sopro, percussão e violino criavam um efeito sublime de uma orquestra muito bem guiada. A voz de Polly, nobre na sua magnitude, no seu corpo frágil e delicado, atribui ao concerto contornos místicos e transcendentes. Havia uma aura de magia negra e mensagens políticas por detrás deste concerto a preto e branco. Apesar de negra, era uma magia bonita e o concerto atingiu a grandeza de alguém que sabe o que faz. Apesar de toda a imensidão e intensidade, este concerto não me completou. Esta Polly, a diva, não era a que espetava nem a que me satisfez. Talvez não estivesse alinhada com a sua energia. O concerto centrou-se basicamente na apresentação de The Hope Six Demolition Project.
Mudhoney
A alma precisava de calor e o corpo de choques eléctricos. Era tempo de recuarmos ao início da década de 90 e preparamos os ouvidos para ouvir o que de melhor Seattle tem: a música! Se o concerto de PJ Harvey nos deixou amolecidos, este arrebitou-nos e trouxe-nos o melhor que existe nas origens do rock de garagem. Os sons fundem-se e há uma mistura entre rock de garagem com punk e grunge, resultando tudo numa explosão auditiva e sensorial. Aqui os riffs são puros e crus. As letras ecoavam por toda a plateia e o headbanging estava perfeitamente sincronizado. As malhas pesadas e duras rasgavam um cenário escuro coberto de natureza. E que bem que soava este quadro! Sentia-se uma aceleração incrível e o corpo deixava de obedecer ao cérebro, para seguir apenas o som destes 4 rapazes de Seattle. Toquem-nos que nós estamos doentes!!
Protomartyr
As emoções pareciam não terminar e, de rasgão, consegui ver ainda um pouco dos grandes Protomartyr. Aproximava-se mais uma dose de post-punk e o corpo estava sedento disso. Narrativa negra e densa com uma voz corpulenta a ditar palavras. O som deste quarteto entranha-se e torna-se um vício. O punk rock mostra as garras ao de leve e arranha-nos a pele. Um galopar suave de bateria e uma aposta no baixo deixam-nos rendidos. Venham mais vezes, por favor!
Beach House
Já pela noite dentro, o corpo pedia um pouco de descanso e relaxamento. Nada melhor que um concerto de Beach House para alinharmos os chacras. No ar sente-se uma aura limpa, bonita e profunda, como eles já nos habituaram. A voz é elegante e áspera e mistura-se entre o ritmo dos sintetizadores transformando o ambiente em algo acolhedor e seguro. A sua dream pop empurra-nos para a levitação e sonho. Do alinhamento constavam os últimos 4 álbuns da banda: Depression Cherry, Thank Your Lucky Stars, Bloom e Teen Dream. A vontade e entrega de Victoria sentiam-se a cada gesto que fazia. Vinham desejosos de nos oferecer um set completo e comprido e, com isso, proporcionar-nos o melhor fim de noite. A verdade é que cumpriram com o objectivo e a serenidade tomou conta do relvado, fazendo do caminho até casa algo suave e menos custoso.
Terminava assim o segundo dia de festival onde as emoções foram fortes e sentidas das mais variadas formas.
NOS Primavera Sound’16 Dia 09
NOS Primavera Sound’16 Dia 11
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Hugo Lima e Hugo Sousa | NOS Primavera Sound 2016