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White Haus, O outro lado da música electrónica

Para além de X-Wife e DJ Kitten, João Vieira dedica-se também ao disco sound e a novas energias. Com o primeiro álbum lançado em 2014, White Haus explora caminhos entre a electrónica mínima e o disco sound. O resultado são ritmos apetecíveis que deixam um sabor a verão e vontade de nunca parar de dançar.

White Haus abriu o segundo dia do Festival NOS Primavera Sound e o Música em DX conseguiu ter uma conversa breve com ele antes do espectáculo.

Música em DX – Com que projecto te identificas mais: X-Wife, White Haus ou Dj Kitten?

João – São projectos diferentes e identifico-me com todos, neste momento gosto mais de tocar ao vivo do que passar música, para ser sincero. É diferente! Primeiro porque estou acompanhado. Quando estás sozinho é sempre mais complicado quando as coisas correm menos bem. Aqui há um espirito de grupo tanto em X-Wife como em White Haus. Estamos ali todos para o mesmo, basicamente, e há companheirismo, sentes-te um pouco mais confortável do que se estivesses sozinho. Em White Haus estou em modo novidade, um bocadinho mais nervoso, tenho um papel muito diferente, mais de maestro da coisa toda, estou a orientar toda a banda naquilo que está a fazer, por isso há uma pressão maior sobre mim. Em X-Wife há uma pressão maior em termos físicos porque são concertos mais desgastantes mas como já temos uma rodagem tão grande, torna-se fácil. Sinto-me bem das 2 formas, são sentimentos diferentes e estar a partilhar o palco com aquelas pessoas há tantos anos é muito bom! Mas acho que a vida também é feita de tudo, amigos novos, antigos, coisas novas que gostas de ver, de tocar e eu gosto de explorar várias coisas. A minha grande base musical é extensível mas parte muito das cidades: a música que foi feita em Nova York e em Londres nos finais dos anos 70 – tudo começou no punk, mais ai ou mais atras, no Bowie, na trilogia de Berlim. Por isso eu posso dizer que as minhas influencias começaram a partir de 76. Entre 76 e 86 há ali um grande número de influências que vai desde o punk ao post punk, ao início da electronica, à electronica lo-fi francesa e alemã (daí ter também o nome alemão Haus, porque há uma forte componente de electrónica alemã como referencia nas musicas que escrevo). Agora estou a fazer um programa de rádio e reparei que 80% da musica que passo está compreendida entre essa década (76-86), foi quando realmente aconteceu muita coisa, por isso eu exploro esses dois lados, tanto em X-Wife como em White Haus, X-Wife tem um lado mais punk e White Haus já vai beber a um disco e uma electrónica minimal, mais lo-fi misturada também com o início do house de Detroit e Chicago. Posso sempre ter influências destas e misturar Bowie no meio e acho que isso também cria uma certa identidade ao teu tipo de som, não te restringes e não tens regras. Em White Haus eu tenho uma liberdade muito grande.

MDX – Para além de Bowie, queres referir mais alguma influência?

João – A última, que me marcou imenso foi Kanye West com o álbum anterior a este, o Yezzus. Foi dos álbuns que mais gostei nos últimos tempos. Não sei se é a produção daquilo, sei que era um álbum que eu ouvia constantemente no carro em loop e quando eu fiz o primeiro disco, estava sempre a ouvir aquilo e queria que o pessoal que o produziu, produzisse o meu também. Houve muitas coisas no início deste milénio, como a editora DFA, de LCD Soundsystem. Não posso esconder que são uma referência porque as referências deles também são as minhas, como Talking Heads. A 99 Records, também! Tinha, por exemplo, Bush Tetras, ESG, a cena de Nova York nos finais dos anos 70 quando apareceu o disco sound, Artur Russel e afins. Depois também apareceram novas editoras e havia um disco sound tocado de uma forma um bocado punk como, por exemplo, Blondie. Toda essa era foi super inspiradora para mim e é música que eu passo muitas vezes. Também passo house, também tenho influências de house music, não faço faixas mas vou lá buscar elementos que encaixam e acho piada a isso.

MDX – Já ouviste alguma vez a tua música numa pista de dança?

João – Já. Às vezes penso que sabem que eu estou lá e então passam, mas às vezes não estou. A mim custa-me sempre passar as minhas próprias músicas mas gosto quando os outros passam, é sempre bom. Sempre que ouço na rádio fico a ouvir, não desligo.

MDX – O que achas do NOS Primavera Sound?

João – Acho incrível. Eu já tinha tocado no Primavera de Barcelona com X-Wife, há 9 anos. Na altura era um festival onde eu ia como espectador assíduo e a este também. Era o festival que, para mim, tinha melhor programação a nível da península ibérica, era um festival muito à frente que apostava em coisas novas. Na altura como fazia umas festas, eu trazia muitos artistas de fora para tocar lá, então eu ia explorar sempre coisas que tinham pouco público, nomes mais pequenos porque sabia que eram artistas que podia trazer com um cachê mais baixo e eram coisas interessantes. Mas antigamente também havia poucos festivais e eventos assim, agora há imensos e as pessoas já estão habituadas. A coisa de ir ver uma banda é diferente hoje em dia. É arriscado.

MDX – Que tal é tocar aqui?

João – Para mim é um dos festivais urbanos mais importantes a nível nacional. Era aquele onde me faltava tocar, ainda para mais, sendo mais difícil tocar aqui do que nos outros festivais porque são poucas as bandas portuguesas que tocam aqui, este ano foram 3. Por isso é um privilégio muito grande, há muito boa música portuguesa e uma das 3 ser White Haus deixa-me muito agradecido aos promotores.

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MDX – Há alguma surpresa para hoje?

João – Tenho surpresas, coisas novas que nunca toquei ao vivo e vou tocar hoje pela primeira vez.

MDX – Já estas a fazer uma previsão do futuro com essas coisas novas?

João – Sim, tenho um álbum para sair este ano. Já está feito, já está masterizado e é só ir para a fábrica. Sai depois do verão, sem uma data delineada ainda.

White Haus iniciou a tarde com um espectáculo quente e cheio de ritmo e as surpresas foram bem recebidas. Resta aguardar pelo lançamento do novo álbum.

+info em https://www.facebook.com/whitehausmusic/

Entrevista – Eliana Berto
Fotografia – Hugo Lima | NOS Primavera Sound