Na passada quinta-feira, dia 23, o Sabotage Rock Club recebeu mais uma noite Naturama organizada pela WH!. Esta quinta edição trouxe à emblemática cave do Cais do Sodré Lucky Lupe e The Weatherman. Tratava-se de uma noite de apresentações, tanto uma como a outra banda traziam álbuns recém-lançados na bagagem.
Os Lucky Lupe são uma banda luso brasileira composta apenas pelo duo David Ferreira e Tiago Salsinha. Embora sejam apenas dois, criam um som algo complexo e bastante trabalho. Bateria, caixa de ritmos, uma double neck, teclas, sintetizadores e uma loop station é o material usado por estes dois rapazes que deixaram a voz de lado. A construção dá origem a camadas e camadas de sons que se sobrepõem e interligam criando um género de post-rock, rock experimental e electrónico, tal Ratatat. Os ritmos criados eram apetecíveis e convidavam o corpo a soltar-se. Pelo ar podia sentir-se uma atmosfera alegre e livre acompanhada de um som veranil e de festejo. No entanto, apesar da qualidade elevada, gerava-se alguma monotonia e a necessidade de outras experiências sonoras ou efeitos que contrariassem a vontade e desejo do fim. Em cerca de 50 minutos apresentaram o álbum homónimo na íntegra e mostraram o valor do experimentalismo.
O tempo é incontrolável. Algo que nos supera e que tem a capacidade de mudar humores e vidas! E se houver um homem do tempo? Não há! Mas há alguém que, embora não consiga controlar a natureza, consegue parar o tempo e deixar-nos fixados e abismados com as emoções a flor da pele. Esse senhor esteve no Sabotage e responde pelo nome de The Weatherman.
Infelizmente, e como prova de que o ser humano pouco controlo tem sobre as coisas, o baterista que acompanha Alexandre Monteiro (voz, guitarra acústica e teclas) e Alexandre Almeida (guitarra) não pôde estar presente. Desta maneira, o concerto tornou-se acústico e não foi nada que nos tivesse desagradado.
Tudo naquele palco cheirava a british, tanto o aspecto visual como o aspecto auditivo. O pop sensual, belo e sensível estava todo desenhado a um degrau de nós, em frente dos nossos olhos. Eyeglasses For The Masses, o último disco, tem um encanto especial: o uso e o abuso das teclas e a elegância emotiva que esse som nos transmite. The Weatherman é uma panóplia de emoções e sentimentos que nos fazem sentir humanos e divagar por entre pensamentos opostos. A guitarra de Alexandre Almeida, por sua vez, é hipnótica e proporciona sensações especiais e completas de puro prazer.
Sempre com imagens e vídeos a acompanhar, contámos com uma ementa forte e de bom gosto, composta por Eyeglasses For The Masses, The Weatherman e Jamboree Park At The Milky Way. Emoções ao rubro com a faixa chocante e realista “A Kind Of A Bliss”, alegria com o single de estreia “Calling All Monkeys”, nostalgia e boas energias de “It Took Me So Long” e “FAB” e, ainda, “Life on Mars” do eterno Bowie.
O Homem do Tempo trouxe calor e abraços sensoriais fortes! Trouxe tranquilidade, harmonia e, também, alguma perturbação. Entristece-me ver que tão poucas pessoas quiseram fazer parte deste encanto. Entristece-me, também, ver e ouvir uma pequena parte dos presentes a falar e a obstruir o som. Entristece-me, mais ainda, saber que entre estas pessoas se encontrava David Ferreira que, certamente, gostou de dar o seu concerto sem qualquer burburinho na sala.
Foi mais uma noite bonita que o Sabotage Club e a WH! nos trouxeram.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa