Crónicas Opinião

The Colour in Anything, O foco na tela desfocada de James Blake

The Colours in Anything é o terceiro álbum de originais do jovem músico londrino, James Blake. Uma franja arruivada a esconder a timidez no olhar, um tronco comprido e seguro nas teclas do piano, dos samplers e nas diversas sonoridades electrónicas que cria. Em 2011 o seu primeiro álbum homónimo invadiu as plataformas digitais como uma nave chegada de Júpiter. Uma voz distorcida, como o seu rosto (capa do álbum), numa provocação constante entre o piano e o abuso dos sintetizadores. Aos 23 anos James Blake cria um novo registo musical, inova na electrónica-poética, conseguindo que os samplers nos emocionem na repetição de frases curtas e intensas.

Cinco anos depois da sua estreia e três do álbum Overgrown, The Colour in Anything é o amadurecimento da complexidade incompreendida de James Blake. São dezassete temas que se vão diversificando, harmoniosamente entre os registos electrónicos e clássicos, entre a complexidade poética das rimas e a simplicidade monocórdica do refrão.

A realidade do sofrimento das relações humanas, amorosas ou nem por isso, retratada de uma forma incisiva e ligeiramente metafórica. Realidade poética que acompanha uma composição musical mais suave, aparecendo a eletrónica em apontamentos mais esbatidos resultando numa combinação quase celestial (caso de “The Colour in Anything”, tema que dá nome ao álbum). E é este som mais harmonioso, se quisermos, que distingue este álbum dos anteriores, James Blake está mais maduro e aventurou-se a compor temas mais complexos, quer nas letras quer na diversidade dos acordes. Por outro lado, temas como “Timeless” ou “I Hope my Life” são claramente a batida monocórdica genuína e única de James Blake. A projecção dos agudos que acompanha (loop) os samplers quase até à exaustão, e que nos mantém alienados aquele bocadinho que sabe bem.

JB_ALBUM_PACKSHOT_W_TYPE_300DPI-1024

Uma tela espraiada na sobriedade das cores pastel e no esbatimento do guache. O traço desfocado que ainda se mantém, mas que nos foca na beleza celestial ao longo dos mais de 60 minutos. Ansiosos pela próxima digressão de James Blake!

Texto – Carla Sancho