Costuma-se dizer que a equipa que ganha não se mexe. Levando o ditado à letra, o segundo dia do VOA Fest teve como destaques duas bandas bem conhecidas cá no burgo: os Paradise Lost deram um concerto quase antológico e fizeram esquecer que foram repescados para substituir os Anthrax e os Kreator deram o habitual arraial de pancadaria, mostrando porque fazem parte da Elite do Thrash. No entanto, não podemos esquecer da auspiciosa estreia dos Schammasch em Portugal e do turbilhão Black Metal de Abbath.
Livres das amarras do horário laboral, pudemos apreciar o segundo dia em toda a sua fruição, começando o certame com os espanhóis Soldier, que, fazendo jus ao nome, deram um concerto funcional de Thrash Metal enérgico, se bem que incapaz de provocar movimentações face ao calor entorpecedor.
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Já os Equaleft levaram às primeiras tímidas correrias em frente ao palco, por força dos temas de Adapt & Survive. O quinteto portuense, dono dum poderoso ainda que algo unidimensional metal modernaço, cheio de groove e síncopes rítmicas alá Meshuggah, presenteou um bom aquecimento para as bandas vindouras.
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Seguiram-se os Schammasch apresentando aquilo que pudemos considerar tão somente como verdadeira dedicação à arte. Não deve ter sido fácil para os suíços tocarem com aquelas fartas vestimentas sob um tão castigador sol, ainda para sendo esta a sua estreia nestas condições, mas o grupo deixou muito boa impressão em Corroios. Chris S.R, com a cara totalmente pintada de preto (até doía só de olhar), comandou a sua banda para uma performance vencedora algures entre o Death Metal mais enegrecido e o Black Metal angular da escola francesa, com o ocasional desvio como nas grandiosas vozes limpas de Metanoia. Sendo mais um caso de um concerto que podia ter atingido outros níveis à noite, ficou aguçado o apetite e aguardamos que os Schammasch regressem noutras condições.
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E de novas caras passámos a velhos veteranos. É sempre um prazer termos figuras incontornáveis do Black Metal norueguês a visitar-nos, sendo que Abbath não só ajudou a construir o som do género, com ainda se tornou numa das suas figuras de proa, não tanto como um polo de controvérsia mas sim como um bom malandro. A zanga com os companheiros de armas nos Immortal levou-o a sair dessa seminal entidade, mas, como os verdadeiros guerreiros nunca baixam os braços, Abbath decidiu arrepiar caminho e continuar a trazer notícias de Blashyrkh a solo. Contando com uma mui competente banda de apoio, o guitarrista e vocalista começou logo pela declaração de intenções belicista que é To War!, ao que se seguiu um turbilhão de Black Metal gélido. Longe das paisagens nevosas da sua Noruega, Abbath nem por isso acusou falta de adaptação, mantendo a intensidade sempre em altas, inclusive dirigindo-se ao Sol em tom de desafio e fazendo as suas típicas poses teatrais a roçar a autoparódia. Como o seu recente álbum é bom mas insuficiente para suportar um concerto inteiro, o frontman elevou ainda mais a categoria do concerto e satisfez os desejos mais puristas ao tocar temas de Immortal como Tyrants, One by One e All Shall Fall, malhão que selou o fim desta impiedosa sessão. Melhor só mesmo se tivesse vindo com o Horgh e o Apollyon, mas teremos de esperar para ver se eles voltam a ser amigos.
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Quem decidiu definitivamente fazer as pazes com o passado foram os Paradise Lost. Talvez tenham sido os Vallenfyre, projecto que fez Gregor Mackintosh redescobrir o Death Metal, ou talvez o convite a Nick Holmes para gorgolejar demoniacamente no supergrupo Bloodbath o tenha rejuvenescido, a verdade é que os ingleses vieram mais pesados do que nunca, como que saudosos dos seus inícios Death/Doom. Convidados para substituir os Anthrax, o melhor elogio que podemos fazer ao quinteto de Halifax é que fez esquecer que a sua vinda foi um recurso, dando um concerto portentoso que percorreu toda a sua e que espelhou esta fase revitalizada que a banda atravessa. O seu mais recente The Plague Within é uma manifestação nesse sentido, menos gótico e mais doom, em constantes piscadelas de olho às origens funestas dos Paradise Lost, tendo propiciado momentos de fúnebre esmagamento como na abertura de No Hope in Sight ou na desesperante Beneath Broken Earth. A banda não esqueceu os êxitos de Draconian Times ou a sensibilidade gótica do One Second, mas foi a despejar a tenebrosa Rapture, do longínquo Gothic, ou a esgalhar cascalhada como em Flesh From Bone que se sentiu mais confortável. Tendo como esteio Nick Holmes, cujo humor britânico é o contraponto perfeito (e necessário) para a negritude das letras, os Paradise Lost assinaram um dos seus melhores concertos em Portugal, coroado pelo encore de Pity the Sadness e The Last Time. É caso para dizer, voltem sempre (que seja necessário substituir alguém).
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Para finalizar o festival de melhor maneira e ir para casa com o pescoço à rasca, nada como ter os Kreator a pulverizar-nos com sucessivas vagas de Thrash venenoso. Sim, já se sabe que os alemães são outra daquelas bandas que cá passam a vida, mas há que olhar para eles como a canja de galinha da avó – é sempre a mesma coisa mas sabe sempre bem. Sem novidades, mas prometendo voltar brevemente com álbum novo, Millie Petrozza e restante gangue causaram o caos da mesma forma como o têm feito diligentemente durante 34 anos, com riffs. Ao deflagrar de Enemy of God (acompanhada por uma explosão de confetti algo pateta), criou-se um circlepit do diâmetro do palco e que não cessou de girar até ao fim do concerto. Sem espaço para grandes invenções, o conjunto manteve um alinhamento fiel ao que tem proporcionado nos últimos anos, mas ainda assim com algumas surpresas como no desenterrar de Awakening of the Gods e Extreme Agressions ou na presença de dois temas de Outcast, álbum que pertence ao cânone dos 90’s quando as bandas de Thrash Metal andavam feitas baratas tontas. De resto, tivemos direito à sanguinolência de Hordes of Chaos, ao deleite homicida de Pleasure to Kill, ao repto maníaco de Violent Revolution e ao convite para odiar e ser odiado (com direito à coreografia com a bandeira e tudo) de Flag of Hate. O final, já no encore, ficaria assegurado com outro brinde inesperado, Betrayer, a fechar mais uma noite de extrema agressão.
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Dias 5 e 6
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Texto – António Moura dos Santos
Fotografia – Daniel Jesus
Evento – VOA Fest 2016
Promotor – Prime Artists