Isaura Santos, apenas Isaura no meio artístico, licenciada em Biologia Celular e Molecular, natural de Gouveia. Mestrado em Comunicação para a Ciência, vive e trabalha em Lisboa, e há algum tempo que se divide entre a Ciência e a Música. A composição, os arranjos, o estar em estúdio, construir músicas das suas estórias, são um “nice to have” da sua vida.
Em 2010 concorreu ao programa de televisão Operação Triunfo, e a experiência de tocar em bares permitiu-lhe desenvolver a “função enfática da música”, que é mais ou menos o “estar à vontade” em palco. Um EP, “Serendipity”, lançado em Maio de 2015 pela NOS Discos, já a fez subir a vários e diversificados palcos. “Useless”, “Lost”, “Change It” e “Eight” são os singles que foram dando corpo às imagens dos videoclips.
A meio de festivais, encontrámos Isaura e a sua banda no Festival Bons Sons, na pacata e acolhedora aldeia de cultura e Cem Soldos (Tomar). Isaura actuou no palco Giacometti, num final de tarde a puxar o vento que chamou um público rendido à doce voz da “miúda dos sintetizadores”. Mais tarde, numa cozinha improvisada de sala de artistas, falou-nos um pouco do que tem sido esta experiência de “vida de artista”.
Música em DX (MDX) – Depois de teres passado por vários festivas, nomeadamente o RIR 2016 e o NOS Alive, como foi estar aqui nos Bons Sons?
Isaura – Toquei durante algum tempo em bares, e isso deu-me experiência para tocar para vários públicos, e na zona de Gouveia, em que as pessoas não são evasivas (risos)! No Bons Sons senti que as pessoas iam entrando no sentido das coisas. Consigo sempre tirar uma energia do público e devolver-lhes.
MDX – “Dancefloor”, a tua canção preferida neste momento. Aliás, no concerto disseste que era uma “canção feliz”.
Isaura – Todas as músicas que compus são músicas mais nostálgicas, que falam de momentos e situações mais profundas talvez. Faltava-me uma canção que mostrasse o meu lado mais feliz. É uma música de despedida, podia ser uma valsa. Na Dancefloor cerca de 80% é feita pela minha voz, os samples são a minha voz, há excepção de um beat e outro apontamento. A única letra que fiz de uma só vez.
MDX – Já estás a trabalhar no CD? Terá o CD terá “mais tesouros escondidos”?
Isaura – Sim, já estou a trabalhar nele, sairá para Abril/Maio do próximo ano. Um LP (Long Play) permite-me ir buscar outras coisas, outras sonoridades.
MDX – Já sabes quem vai produzir? A banda está a participar na composição do LP?
Isaura – Ainda não está decidido. O Miguel Ferrador produziu a take.
MDX – Em que medida é que a tua formação em Biologia Celular e Molecular te influenciou nessa tomada de consciência de que não estamos sozinhos, e como isso influenciou as tuas músicas?
Isaura – Fui para este curso e não fazia a mais pequena ideia o que iria ser. Eu queria perceber o sentido das coisas, e por isso optei por este curso por ser muito metodológico e disciplinado. Na escola diziam-me sempre “escreves tão bem, porque não vais para humanidades?”. Mas sempre tive a certeza que seria ciências exactas! Depois tirei um mestrado no ISCTE em “Comunicação de Ciência”, e hoje em dia é o que eu faço, não vivo só da música. Podemos fazer uma série de coisas, eu tenho a sorte de ter ambas as coisas que gosto. No meu dia-a-dia consigo fazer as duas coisas. Por uma questão de logística óbvio que os produtores não podem só ir trabalhar depois das 18h00, hora que eu geralmente vou. Quando estava a trabalhar no EP, muitas vezes começava às 20h00 e ia até às 05h00! É duro mas compensa.
MDX – Quando consegues distanciar-te do teu sucesso, como vês “a miúda portuguesa que abraça os sintetizadores”?
Isaura – Orgulho-me do trabalho que consigo fazer! Eu sou uma miúda focada, tudo foi feito com o coração no sítio certo. Por exemplo a “Change It”, lembro-me perfeitamente quando a escrevi… Não me consigo distanciar (risos). Apesar de ter aprendido muito com os produtores e toda a equipa de pessoas com quem tenho trabalhado, a distanciar-me das minhas canções. Ok, a história é minha mas a canção já não é. O lançamento da “Eight” foi isso, eu quis dar essa canção às pessoas. O que é importante é que alguém tem uma frase minha que a inspira, que a marca! E isto é amadurecer…
Entrevista – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa