O dia amanhecera cinzento e molhado em Paredes de Coura, nada que não fosse já tradição a cumprir ao longo de cada edição de festival. Como o ditado diz, a chuva abençoa e, para crentes ou não, o que é certo é nos esperava o melhor dia de concertos e partilha musical.
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As nuvens afastam-se para a Music Session e os portões da Casa do Gonte, no Covelo, abrem-se para dar início aquela que foi a mais simpática e emotiva tarde de Agosto da pequena vila. A D. Laurinda e o Sr António viram entrar pelos portões do seu quintal uma cambada de miúdos os quais acarinharam e, com eles, assistiram ao mini concerto de Crocodiles.
Um concerto intimista, com o público sentado ao lado deles nas escadas do quintal e uma ligação indescritível com o mundo. Pelos degraus via-se a voz, a guitarra e o baixo unidos por uma cumplicidade que nos fez perder a noção de tudo por meia hora. A química era tanta que nem foi preciso muito para conseguir que tocassem apenas mais uma, sim porque daqui a umas horas iríamos vê-los durante mais tempo, mas aqueles minutos contavam mais que tudo e o prazer era unânime.
Partimos de coração cheio para o recinto, ainda a saborear aquele leve momento e sem uma noção exacta daquilo que ainda estava para acontecer.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Music Session Crocodiles
Seis da tarde e o palco secundário enchia-se de uma vasta multidão para receber os First Breath After Coma. Estes, por detrás de um pano de timidez, não escondiam a alegria imensa que tinham por estar ali, em frente àquelas pessoas todas. O objectivo, já anunciado antes, era guiar o público por uma viagem um tanto sensorial. As paisagens que sugeriam eram alegres, descontraídas e complexas, os sintetizadores ajudavam a desenhar ilusões e os instrumentos de sopro libertavam-nos de medos. Sim, existiam todo o tipo de sabores, cores e cheiros e a grandeza, construída passo a passo, revelou-se diante de nós. No final, um convidado especial, David Santos (noiserv) a interpretar “Umbrae”, música em que colaborou no disco e a ficar para a última música.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 First Breath After Coma
Um pouco mais abaixo, no palco principal, já havia boas energias a pairar no ar. Kevin Morby esperava-nos com a sua excelente composição e disposição. Extremamente simpático e interactivo com o público criou um fio condutor entre as almas dos presentes e a música que saia pelas colunas. A mistura de indie, folk e rock era tão apetecível que nem a composição mais melancólica era impedimento à dança suave. Excelente surpresa e excelente talento, excelentes músicos que o acompanham, também. A setlist foi composta por “Cut Me Down”, “Dorothy”, “Destroyer”, “I Have Been To The Mountain” e “Singing Saw” do último com o mesmo nome, não podendo faltar “Harlem River”. No ar, ficou a promessa do regresso dentro de uns meses.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Kevin Morby
Os corações estavam prestes a elevar-se com a companhia de Sean Riley & The Slowriders. O momento coincidia com o retirar do sol e abria caminho ao elevado grau emocional que se seguia. A voz astuta e penetrante de Afonso é capaz de criar teias rendilhadas de sentimento. O rock melodioso com traços folk é contagiante e faz de cada concerto destes rapazes uma obra prima. O tempo foi pouco, é sempre nestas alturas! Mas houve tempo para os arrepios emotivos de “Dili”, o ritmo quente de “Greetings”, a carícia de “Houses and Wifes” e “This Woman” e, ainda, chamar Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) ao palco para com eles tocar.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Sean Riley & The Slowriders
Pela segunda vez, esperavam-nos os Crocodiles, desta feita mais afastados e no formato completo e eléctrico. Se à tarde o ambiente intimista reinou, no momento em que pisaram o Palco Vodafone, a atmosfera transformou-se numa festa. Com um ritmo alegre e uns sintetizadores sensuais, os californianos conseguiram gerar um frenesim eléctrico por entre os festivaleiros. Indie pop, noise pop, post-punk e alguns toques de revivalismo dos anos 80 fundem-se num ritmo viciante e confortante. A verdade é que estes meninos foram uma surpresa e era quase impossível não rasgar o rosto com um sorriso. Êxitos como “Mirrors”, “I Wanna Kill”, “Sunday” e a cover de The Damned “Jet Boy Jet Girl” foram degustados na sua plenitude.
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Em correria rumámos ao palco secundário para ver aquela que seria a única desilusão da noite. Do amor entranhado por rock psicadélico à procura incessante de viagens por travessias de toda a espécie, tudo era um íman no Palco Vodafone.fm. Os Psychic Ills são uma banda de rock psicadélico com mais de uma década de existência, no entanto algo de errado se passou neste início de noite. O registo sonoro revelou-se demasiado ténue e constante e a presença deles acompanhou-o. Por poucos minutos vi-me rodeada por ondas de calor que nascem do chão num deserto seco, estive no deserto também, mas rapidamente voltei à realidade quando a monotonia se apoderou e as linhas sonoras se mantiveram uns níveis abaixo do necessário para continuar a viagem.
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A tour europeia dos australianos King Gizzard and the Lizard Wizard passou por Portugal para devastar a plateia. Não me lembro de ver a união de 2 baterias e 7 pessoas num palco elevar o rock psicadélico a um ponto tão alto como acontece sempre que vejo estes rapazes tocar. Gera-se um poder comparável a uma força da natureza que nos imerge num mundo de intensidade enérgica e nos vai empurrando tal bolas de Flippers contra paredes de ilusão e insanidade. À volta deles, criam-se círculos de transcendência e complexidade gerados pelas construções musicais absurdamente geniais que reúnem os mais variados tipos de instrumentos desde os mais suaves aos mais pesados, acompanhados por uma voz distorcida e hipnotizante. Entre as faixas longas e corpulentas, a loucura e o descontrolo, ouvimos “People Vultures”, “Gamma Knife”, “Cellophane”e “The River”. Aqui sim, pudemos assistir ao poder do psicadelismo nas suas mais variadas formas e a um dos melhores concertos do festival.
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No palco ao lado tocava Jacco Gardner ao mesmo tempo que os corações ainda sentiam batimentos cardíacos ferozes.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Jacco Gardner
Os próximos a pisar o palco teriam um trabalho árduo. Torna-se muito difícil bater a intensidade dos seus antecessores e demora fez-se sentir quando tentei entrar no ritmo dos The Vaccines, não por culpa deles, que tanto se esforçaram! A intro do concerto gerou logo ecos entre o público com a música de Game Of Thrones a abrir caminho. De seguida, o indie rock ganhou força e as canções também. Uma hora de euforia, energia e vozes a debitarem letras acompanhadas de danças e saltos marcaram aquele momento. Hits como “Handsome”, “Wetsuit”, “I Always Knew”, “Post Break-Up Sex” e “If You Wanna” deixaram a plateia que se juntou às grades rouca, certamente.
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A intensidade ia aumentar com os cabeças de cartaz do dia. Dois anos depois, os Cage The Elephant entraram em palco confiantes e com descargas de energia que não pararam ou abrandaram durante o concerto todo. Diante de nós, a composição fazia-se com 7 pessoas e os mais variados instrumentos. A garra escorria-lhes pela cara em forma de gotas de suor. Com riffs sumarentos e uma percussão acentuada, o ritmo marcou-se pelo rock tanto alternativo, como punk como indie. Na primeira linha, o guitarrista era beijado e acariciado sempre que descia para junto do público enquanto o vocalista rodopiava e corria no ar de um lado para o outro do palco. O público rendeu-se a eles e eles ao público. Novamente o best of foi o prato principal e foi digerido de forma intensa e saborosa. Faixas como “Spiderhead”, “Too Late To Say Goodbye”, “Cold Cold Cold”, “Trouble”, “Telescope”, “Mess Around” surtiram um efeito de loucura nas pessoas. Tratou-se de um concerto que surpreendeu e que vai ficar preso em bastantes mentes durante a proximidade.
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A noite não acabaria com Cage The Elephant. Apesar do cansaço pesar, era impossível não assistir a Moullinex e dançar ao ritmo disco como se a felicidade se traduzisse em notas musicais. Luis Clara Gomes e os seus companheiros, não os habituais, esperavam-nos no palco Vodafone.fm para um After Hours merecido. Para introdução foi de imediato servida a “Take a Chance” e a partir dai o concerto desenrolou-se a um ritmo alucinante com passagens de génio entre as faixas, não se podia perder tempo, este era controlado ao minuto! “Don’t You Feel”, “Flora”, “Can’t Stop” e a sempre aguardada e aclamada “Take My Pain Again” encheram-nos o coração. Sabe sempre bem perdermo-nos em danças ao som da música destes senhores e ir para casa com a sensação de preenchimento depois de assistir ao melhor e mais completo dia do festival.
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A equipa Música em DX ficou confortavelmente instalada no espaço glamping Sleep’em’All, a solução ideal para descansar após muitas horas de música. Galeria de fotos disponível em Vodafone Paredes de Coura’16 Sleep’em’All.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Evento – Vodafone Paredes de Coura 2016
Promotor – Ritmos, Lda.