Dava-se início ao último dia deste que é um dos eventos mais aguardados do mês de Agosto. Ao acordar sentia-se já o sentimento que advém do fim e ninguém queria isso.
Antes de nos juntarmos a João Carvalho (Ritmos) e a Leonor Dias (Vodafone) para assistir à conferência de imprensa de balanço do festival e anúncio da próxima edição, acontecia à beira-rio uma combinação improvável entre Adolfo Luxuria Canibal e Capicua a recitar poemas, crónicas, ensaios e contos.
Durante a conferência, mostrou-se o desejo de melhorar infraestruturas dentro e fora do recinto, continuar a primar pela qualidade do cartaz e fazer com que a próxima edição do festival, a 25ª, que se vai realizar de 16 a 19 de Agosto, seja ainda mais memorável.
Após o almoço, teve lugar a última Music Session, desta vez junto ao miradouro da Capela da Nossa Senhora da Pena. Os convidados eram os Motorama e dividiam-se por rochas no meio de um monte. Talvez o cenário não tenha combinado com a sua timidez, frieza e desconfiança, mas a música fez a simbiose perfeita com a paisagem e encaminhou-nos para trilhos de boas sensações.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Dia 20 Conferência de Imprensa e Music Session Motorama
Após a descida do monte, esperavam-nos mais umas quantas horas de música. O quarto e último dia de festival trazia um sabor agridoce. Doce por termos vivido momentos inesquecíveis e amargo por estar a acabar e por este fim ser representado como um dos dias mais fraco do cartaz.
O palco principal abriu com um dos concertos que melhor soube nesse dia. Pena que a maior parte das pessoas não o tenha aproveitado, a plateia era escassa. Os The Last Internationale são uma banda revolucionária que traz o rasto da revolução consigo. Começando na música de abertura – “The Revolution Will Not Be Televised” de Gil Scott-Heron, passando pelo banner que tinham nas suas costas onde se lia: “Este banner mata faxistas” e terminando nas imagens do 25 de Abril. Não são totalmente portugueses, mas pareciam! Edgey Pires (guitarrista) tem ascendência portuguesa e nota-se bem que tem orgulho nisso. Com trajes a condizer e uma grande presença em palco delineada na garra de Delila Paz, tal Alison Mosshart, o concerto soube a rock e soube a pouco também! Ouvimos “Life, Liberty, and the Pursuit of Indian Blood”, “We Will Reign”, “Wanted Man”, entre mais umas poucas, e “1968”, faixa com que terminaram.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Dia 20 The Last Internationale
Antes de chegar a noite, no palco secundário estavam Filho da Mãe & Ricardo Martins o duo de guitarra e bateria serviria para encantar e surpreender mostrando as construções luxuosas que se podem talhar com apenas 2 instrumentos.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Dia 20 Filho da Mãe & Ricardo Martins
Aguardava-nos o melhor concerto da noite e com ele o segundo encontro com Motorama. Apesar da postura fria, algo introspectiva e distante, era impossível não absorver cada nota musical como um vício. Os russos trouxeram uma melancolia leve que contemplava a alegria. Esta, originária dos sintetizadores, era acompanhada por um baixo voluptuoso e aconchegante e uns riffs divinos. O resultado era um post-punk meio indie rock que faz de imediato lembrar uma mistura entre Joy Division, The National e uma tonalidade de Craft Spells. Dançámos de sorriso nos lábios do princípio ao fim e com a certeza de que este iria ser o concerto da noite. Feliz ou infelizmente foi exactamente isso que aconteceu. “One Moment”, “Young Rover”, “Image” , “Dispersed Energy” e “Heavy Wave” são apenas um exemplo da beleza que envolveu este concerto.
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No palco principal entrava em piruetas o tal senhor que diz ser o Homem mais alto da terra. Teria sido um bom concerto para ver sentado! Pois a intensidade não puxava a nada mais que ao sentimento. O cantautor sueco, The Tallest Man On Earth, tem um certo encanto na voz e nos dedos, toca puro folk suave com alguns traços subtis de country. A presença em palco é cativante e de bastante interacção, o que tornou o concerto algo mais motivante. No entanto, uma cortina baça cobre o palco e espalha o sentimento de incompletude. As gerações mais novas ultrapassaram isso facilmente e ouviram-se vozes a acompanhar as letras e “Darkness of the Dream”, “Sagres” e “King of Spain” foram prova disso.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Dia 20 The Tallest Man On Earth
A surpresa da noite surgiu dos texanos Cigarettes After Sex. A expectativa era alta, no entanto ninguém esperava que uma banda que começou a ver o seu nome espalhado pelo mundo no ano passado, com um EP de 2012 e dois singles lançados, chegasse ao coração de tantas pessoas. A verdade é que nem eles esperavam! Estavam tão impressionados quanto nós e isso tornou aquele momento brilhante. A única coisa que podíamos fazer era fechar os olhos e deixar a música suave, lenta e bela entrar-nos pelo corpo dentro e alojar-se no canto mais emotivo da alma. Uma ternura emblemática alastrou-se pelo público e, por alguns minutos, o mundo fora esquecido. O estilo, com claras influências de Mazzy Star, traduz-se num dream pop em slow motion. Tocaram o EP na íntegra, os singles (incluindo “Keep On Loving You” de REO Speedwagon) e duas músicas novas. A entrega foi de tal maneira forte que, após alguma (pouca) insistência, voltaram para um encore de uma música. No fim do concerto fumámos um cigarro, o que aconteceu naquele palco foi amor e não sexo.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Dia 20 Cigarettes After Sex
Termo-nos retirado teria sido algo vitorioso, pois o que vinha a seguir em nada nos completava como este concerto ou os últimos concertos dos outros dias.
Os Portugal. The Man deram um concerto estranho. Não se pode dizer que foi mau nem se pode dizer que foi bom. Algo neste dia não batia certo, talvez as bandas não combinassem e esta era uma delas. Apesar de uma presença calorosa e empolgante em palco, parece-me que estão a procura de uma identidade. Dispersam-se por vários caminhos sonoros e terminam sempre numa pop esquisita. O concerto foi extenso e houve necessidade de tocar “Don’t Look Back In Anger” dos Oasis, talvez para animar o público. A verdade é que foi um concerto pouco cativante, apesar de terem tocado “Got It All”, “So American”, “Everything You See” e “Creep In A T-Shirt”.
+fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’16 Dia 20 Portugal. The Man
Se o concerto anterior tinha sido estranho, este fazia com que o festival encerrasse da pior maneira. O chão tremia tal era a intensidade dos graves que saiam pelas colunas e diante de nós figurava-se um autêntico cenário sonoro de feira sazonal da “terra”. Chvrches não cativou, não encantou e tampouco encaixou num festival como o Vodafone Paredes de Coura que merecia mais para um cartaz tão completo como o desta edição. Ao contrário da maioria dos concertos, com Chvrches o sorriso veio, já a caminho de casa, quando deixou de se ouvir o que quer que fosse.
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Chegava, assim, ao fim mais uma maratona. O corpo saiu cansado mas a alma saciada. Um cartaz de peso e um dos melhores ambientes de sempre, como sempre. De louvar a excelente organização e disposição do recinto, a aderência aos ecocups e a pontualidade dos concertos. Não foram poucas a bandas que disseram que era um dos festivais preferidos, algumas porque o dizem em todos os festivais e outras porque o sentem mesmo. É também o festival preferido da esmagadora maioria do público e percebe-se bem porquê.
O Festival Vodafone Paredes de Coura volta para a 25ª edição de 16 a 19 de Agosto de 2017 e já estamos a sonhar com isso.
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A equipa Música em DX ficou confortavelmente instalada no espaço glamping Sleep’em’All, a solução ideal para descansar após muitas horas de música. Galeria de fotos disponível em Vodafone Paredes de Coura’16 Sleep’em’All.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Evento – Vodafone Paredes de Coura 2016
Promotor – Ritmos, Lda.