Conheci o Lloyd Cole em casa de uma amiga. A bem da verdade, o que conheci foi a sua obra conjunta com os The Commotions, teria eu os meus ainda muito juvenis 18 anos, em 1990, já lá vão 26 anos. Margarida é o nome da minha amiga que me apresentou “Rattlesnakes”, que depois me fez procurar por “Easy Pieces” e “Mainstream”.
Ter um irmão mais velho era meio caminho andado para nos “aculturarmos” musicalmente falando, e assim foi com a minha amiga. Era já ela grande fã de Lloyd Cole, quando um dia me propôs ouvir “…um disco muito giro…de uma banda que se calhar não conheces…”. Tinha razão, não conhecia. Não era algo que aos 18 anos quisesse ouvir todos os dias, mas servia bem como pano de fundo às nossas conversas de final de dia na sala de jantar dos seus pais. Lloyd Cole estava apresentado, quando também já se tinha soltado a solo para a carreira que conhecemos até hoje. Ficou a tal ponto na minha vida que, há alguns anos, fui de propósito, e sem pestanejar, a Estarreja para o ver e ouvir no cine-teatro da cidade. No dia seguinte ele estaria a pouco mais de 5 quilómetros da minha casa para um concerto de uma das primeiras edições do Misty Fest, o então chamado Sintra Misty Fest. Paixão e razão não combinam.
Voltar a revê-lo na passada 5ªfeira no Centro Cultural de Belém foi muito bom. À parte das questões acústicas, sempre excelentes, de uma sala como o grande auditório do Centro Cultural de Belém, e das intermináveis repetições das mesmas canções sempre que nos visita, estar perto de um artista como Lloyd Cole é sinónimo de acreditar que os artistas ainda amam o que fazem, que mantêm a sua forma pura de ser, e não se vendem a troco da presença numa grande editora. É também sinónimo de sorrisos de uma sala repleta de quarentões e cinquentões. Ao contrário do que tinha acontecido na minha última vez, neste dia Lloyd Cole estava especialmente bem disposto, e “piadava” entre canções. Não sabemos se seria a presença de William Cole, o seu filho, por sinal excelente guitarrista que o acompanhou na segunda metade do espetáculo, ou se a recordação recente dos dias que confidenciava estar a passar por Lisboa, com especial incidência nas suas aventuras pelo Cais do Sodré. Como ele próprio referiu, não seriam dias muito diferentes de quando por cá passava à 20 anos atrás, onde dormir era a última das coisas mais importantes a fazer.
Agora, passados esses 20 anos, a idade já pesa, e a visão já não é a mesma. Prova disso foi a necessidade recorrente de usar óculos, sobre lentes de contacto, sempre que precisava de consultar o alinhamento do espetáculo, ou, simplesmente afinar a guitarra. Onde antes existiam bares com barmans velhos e antipáticos, hoje em dia existem miúdas bem mais agradáveis à vista, continuava a confidenciar. O Cais do Sodré ainda como tema principal entre canções. Entre piadas, e parabéns sinceros a Portugal por ter vencido o Europeu de Futebol, desafiava toda a sala a reciclar a memória para cantar, entre outros, velhos temas como “Patiente”(o tema mais velho desta digressão Classic Songbook 83-96), “My Bag”, ou “Jennifer She Said” na primeira parte, e na segunda parte a duas guitarras em acústico com William, “Don’t Look Back”, “Are You Ready To Be Heartbroken”, “Undressed” ou “Hey Rusty” para fechar o concerto em encore com “Lost Weekend” e “Forrest Fire”.
Foi bom, muito bom, os ainda contínuos sorrisos de quem saía da sala assim o comprovavam. Por nós, Lloyd, cá te esperamos de novo no próximo ano.
Texto – Carla Santos
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – UGURU